O conselho de um pateta

É uma realidade dos nossos dias. A informação chega-nos pelas mais variadas fontes (televisão, radio, jornais, internet, sessões de esclarecimento, etc.) e, como é natural, o mesmo assunto é tratado de forma diferente por cada um desses canais. De tal forma, que às vezes ficamos ainda mais baralhados.  

Mesmo com tanta informação, por vezes, para tomar decisões, recorremos a um amigo ou familiar. Em casos mais específicos, pedimos mesmo a um técnico especialista em determinado assunto, por exemplo, impostos, leis saúde, um conselho para tomar a decisão mais certa e adequada a determinada situação.

Vem isto a propósito das “ajudas” comunitárias, mais conhecidas - na parte que mais interessa a este lado norte - pelos subsídios para a agricultura.

Um dia destes, após uma das sessões de esclarecimento sobre o assunto efectuadas pela secretaria da tutela, em conversa com agricultores, o tema veio à baila. Depois de várias considerações sobre de onde vem o dinheiro, como é que ele aparece na CEES, o mestre José saiu-se com esta:

- Ainda não percebi nada disso! E estive lá baixo a ouvir o secretário e outro senhor que dá o dinheiro.

- Então não percebes? - diz o compadre dele -Tu não pagas impostos? É assim: dão com uma mão, tiram com as duas.

- Não é nada disso! Estou a falar a sério! Ouvi-os a dizer que vão dar dinheiro para floresta. É para plantar urzes e loureiros ou pinheiros? É que isso não é preciso, qualquer dia eles estão pela casa dentro. Olha, a moitada que era terra de feijão e semilhas já tem cada faeira que dá carga a uma fraguenete! E não é só a minha!

- O compadre José quer um conselho dum pateta? O compadre já está quase na idade da reforma….

- Já está quase compadre? Já não recebi dois meses.

- Então de que está à espera? Deixe-se estar quietinho, vá cuidando da hortinha que tem ao pé da porta e não se preocupe com o resto, que o arvoredo vai tomar conta, mesmo sem o plantar.

E nisto diz o Ferreiro: 

- Está ouvir mestre José? Faça como o seu compadre, deixe isso para a canalha mais nova. Não ouviu eles dizerem que agora o jovem agricultor é até aos 40 anos? Com jeito, ainda se vai encontrar para aí algum jovem avô, que também é jovem agricultor.  

-Como? - diz José - Cada vez percebo menos.

Joel Freitas Empresário
Diário de Notícias da Madeira 
Quinta, 14 de Abril de 2016