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O que pensará o ministro da Economia?
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O que pensará o ministro da Economia?
1. António Costa tem inegável talento para compromissos impossíveis. Entre os comunistas e o Bloco de Esquerda surge como o pêndulo da balança; com Marcelo Rebelo de Sousa vive uma lua-de-mel; sorri a Bruxelas e abraça Tsipras; ouve António Saraiva na CIP e impõe às grandes empresas uma carga fiscal que as penaliza; aguentou o impacto da raiva do PSD e assiste à morte lenta de Passos Coelho (que não merecia o que fez a si próprio); aproxima-se a Assunção Cristas sem perder a face e ainda arranja tempo para ir ao futebol, desagravar Tony Carreira e aparecer quase sempre de bom humor. É obra.
2. O Governo corre riscos ao aumentar a carga fiscal às maiores empresas. Fá-lo por imperativo ideológico, o que se entende numa lógica de dependência face ao PCP e ao BE. Mas o risco de deslocalização das empresas nacionais para lugares mais favoráveis já é mais do que um rumor. Se tal vier a acontecer o preço a pagar será elevado. Marcelo sabe-o tão bem quanto o primeiro-ministro.
3. O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, passa uma imagem de grande fragilidade. Pode ser uma perceção injusta, mas parece não saber bem o que fazer ou para onde ir. Há pessoas que são convidadas para lugares e que não têm capacidade para os desempenhar. Não tem mal. António Costa não teria melhores soluções à mão?
4. Mário Centeno é outro caso. Diferente de Caldeira Cabral. Mas igualmente perigoso. Não habituado aos territórios movediços da política, e sem a experiência de ficar calado quando o momento lhe pede que o fique, responde com verdades enviesadas ou mesmo mentiras. Podem ser pequenas (como nas recentes alterações ao Programa de Estabilidade), mas não deixam de ser mentiras – como o ministro Eduardo Cabrita se apressou a confirmar.
Não questiono a seriedade de Mário Centeno. Questiono uma certa infantilidade que terá rapidamente de superar – as mentiras são gulosas e já muitos homens sérios se perderam por delas terem passado a depender.
5. João Vieira de Almeida disse esta semana que os advogados não deveriam ser deputados. Tendo em conta que o pai de João é Vasco Vieira de Almeida, figura importante de uma certa ideia ética da democracia portuguesa, a opinião surpreendeu-me. Porque a resposta pressupõe a ideia de que os deputados, tendo potenciais conflitos de interesse, nunca serão confiáveis enquanto parlamentares.
O que isso quer dizer? Que as pessoas são pouco sérias, até prova em contrário. Que são corruptas, moral e eticamente, até prova em contrário. Da mesma maneira, presumo eu, que um culpado é-o mesmo antes de qualquer julgamento. Uma inversão de ónus de prova assumida com a naturalidade com que se bebe um copo com água. Vindo de quem vem…
6. No final da adolescência quis licenciar-me em História, na Universidade Nova de Lisboa. Fernando Rosas era um professor de meia-idade, especialista do século XX português e um mito para os estudantes, uma espécie de Robin Williams politizado num Clube de Poetas Mortos ainda mais à esquerda.
Esta semana, esse quase jovem professor deu a sua última aula. Falou sobre vencedores e vencidos, a narrativa de que fez todo um programa de vida. Uma história que influenciou várias gerações para quem esse combate injusto e inclemente deve continuar a ser travado. Uma história feita apenas dos vencedores é uma verdade que perpetuará os mesmos erros no futuro.
Fernando Rosas tem o crédito de ser o historiador dos vencidos, não é coisa pouca.
losorio@stateofplay.pt
Luís Osório | 02/05/2016 13:16
SOL
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