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Beja e o porto de Sines
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Beja e o porto de Sines
Dos três empreendimentos considerados como motores importantes para o desenvolvimento económico de Beja e sua região, apenas o aproveitamento de fins múltiplos de Alqueva, se bem que ainda incompleto, vem oferecendo aspetos positivos e promissores. Os outros dois são o aeroporto de Beja e o porto de águas profundas de Sines. Aquele, após uns débeis sinais de operacionalidade, está inativo e sempre pendurado em vagas esperanças. Quanto ao porto de águas profundas, parece que não há evidentes intenções de incluir território nacional no seu hinterland.
Esclareça-se que hinterland de um porto é a extensão territorial terrestre que, com ele, tem uma relação económica recíproca. Esta relação implica a existência de via ou vias de comunicação adequadas. Tratando-se de um porto onde a movimentação de mercadorias é relevante, o meio de transporte passível de relacioná-lo com o seu hinterland – à parte a navegação interior, inaplicável a casos como o de Sines – é o ferroviário.
É nestes termos que está prevista, segundo parece, uma linha de caminho de ferro, para servir o porto de Sines.
Trata-se, porém, de uma linha toda nova que, através de campos nunca dantes trilhados, ligue Sines a uma outra linha, também toda nova que, passando por Évora, faça ligação a Badajoz e além. Estas pretensas linhas traduzem não só a referida intenção de excluir o território nacional do hinterland do porto de Sines, como também um completo desprezo por Beja e pelo Baixo Alentejo interior.
Decerto um empreendimento deste tipo terá de apoiar--se, na falta de mais seguro meio de previsão, em pertinente estudo económico. Estudos destes padecem, de facto, de graves inconvenientes: são falíveis e, com facilidade, podem apresentar qualquer resultado que se pretenda.
Sempre que possível, estes inconvenientes devem ser minimizados, mediante a atribuição de mais do que um fim, o confronto com outra ou outras soluções alternativas e a eventualidade de execução da obra por fases.
Deste modo é lícito perguntar se, em caso de inviabilidade do hinterland internacional de Sines – o que não parece de excluir – restaria alguma utilidade para as linhas todas novas. É razoável perguntar, também, se teriam sido comparadas soluções alternativas.
A mais imediata das soluções alternativas seria a de integrar o Baixo Alentejo interior no hinterland de Sines, sem prejuízo de estender este, se e quando viável, a Espanha e, até, além Pirenéus. Isto implicaria a construção de um troço de via de que, há tempos, algo se falava, designadamente a ligação das Ermidas a Beja. A este troço corresponderia um desenvolvimento relativamente pequeno, um traçado em terreno fácil e apenas uma obra de arte especial, que seria a da travessia do rio Sado. Não fora o ramal de Moura estar morto e apodrecendo, este hipotético troço completaria uma linha transversal do Baixo Alentejo, desde Moura até Sines.
Os comboios entre Sines e a expansão internacional do hinterland – no caso de esta ser viável – passariam então por Beja, podendo isso contribuir para a restauração do caminho de ferro no Baixo Alentejo interior. No acesso de Beja à antiga linha de Évora, ou a outra que a substitua, teria de se evitar a reversão em Casa Branca, de forma semelhante ao que se fez entre Bombel e Vendas-Novas.
O aproveitamento, quanto possível de antigos traçados, mediante a sua adaptação, teria óbvias vantagens, mas não estaria isento de dificuldades, como as resultantes dos comprimentos dos novos comboios de mercadorias e outras.
Um problema comum a qualquer das soluções seria o resultante da diferença entre a nossa bitola da via, que é a ibérica (1,665m) e aquela que se usa em quase todo o resto da Europa (1,435m), mais estreita que a portuguesa e espanhola. Para levarmos os comboios além-fronteiras, a nossa situação, geograficamente periférica, coloca-nos totalmente dependentes de Espanha em termos de bitola.
As duas hipotéticas soluções aqui apresentadas diferem fundamentalmente uma da outra. Na das linhas novas não teria sentido a construção por fases, além de que a sua finalidade seria única e falível. A outra envolve a recuperação faseada de linhas antigas, sem prejuízo de permitir o acesso à Europa, podendo servir, porventura, para o combate ao despovoamento do interior e como estímulo à economia e à criação de emprego.
As incertezas são muitas e persistem, mas uma coisa é certa: se forem construídas aquelas linhas novas, deixando Beja de parte, Sines será, para o interior do Baixo Alentejo, um porto de desilusões profundas.
06-05-2016 9:40:49
Joaquim Carrusca
Engenheiro Civil
Diário do Alentejo
Esclareça-se que hinterland de um porto é a extensão territorial terrestre que, com ele, tem uma relação económica recíproca. Esta relação implica a existência de via ou vias de comunicação adequadas. Tratando-se de um porto onde a movimentação de mercadorias é relevante, o meio de transporte passível de relacioná-lo com o seu hinterland – à parte a navegação interior, inaplicável a casos como o de Sines – é o ferroviário.
É nestes termos que está prevista, segundo parece, uma linha de caminho de ferro, para servir o porto de Sines.
Trata-se, porém, de uma linha toda nova que, através de campos nunca dantes trilhados, ligue Sines a uma outra linha, também toda nova que, passando por Évora, faça ligação a Badajoz e além. Estas pretensas linhas traduzem não só a referida intenção de excluir o território nacional do hinterland do porto de Sines, como também um completo desprezo por Beja e pelo Baixo Alentejo interior.
Decerto um empreendimento deste tipo terá de apoiar--se, na falta de mais seguro meio de previsão, em pertinente estudo económico. Estudos destes padecem, de facto, de graves inconvenientes: são falíveis e, com facilidade, podem apresentar qualquer resultado que se pretenda.
Sempre que possível, estes inconvenientes devem ser minimizados, mediante a atribuição de mais do que um fim, o confronto com outra ou outras soluções alternativas e a eventualidade de execução da obra por fases.
Deste modo é lícito perguntar se, em caso de inviabilidade do hinterland internacional de Sines – o que não parece de excluir – restaria alguma utilidade para as linhas todas novas. É razoável perguntar, também, se teriam sido comparadas soluções alternativas.
A mais imediata das soluções alternativas seria a de integrar o Baixo Alentejo interior no hinterland de Sines, sem prejuízo de estender este, se e quando viável, a Espanha e, até, além Pirenéus. Isto implicaria a construção de um troço de via de que, há tempos, algo se falava, designadamente a ligação das Ermidas a Beja. A este troço corresponderia um desenvolvimento relativamente pequeno, um traçado em terreno fácil e apenas uma obra de arte especial, que seria a da travessia do rio Sado. Não fora o ramal de Moura estar morto e apodrecendo, este hipotético troço completaria uma linha transversal do Baixo Alentejo, desde Moura até Sines.
Os comboios entre Sines e a expansão internacional do hinterland – no caso de esta ser viável – passariam então por Beja, podendo isso contribuir para a restauração do caminho de ferro no Baixo Alentejo interior. No acesso de Beja à antiga linha de Évora, ou a outra que a substitua, teria de se evitar a reversão em Casa Branca, de forma semelhante ao que se fez entre Bombel e Vendas-Novas.
O aproveitamento, quanto possível de antigos traçados, mediante a sua adaptação, teria óbvias vantagens, mas não estaria isento de dificuldades, como as resultantes dos comprimentos dos novos comboios de mercadorias e outras.
Um problema comum a qualquer das soluções seria o resultante da diferença entre a nossa bitola da via, que é a ibérica (1,665m) e aquela que se usa em quase todo o resto da Europa (1,435m), mais estreita que a portuguesa e espanhola. Para levarmos os comboios além-fronteiras, a nossa situação, geograficamente periférica, coloca-nos totalmente dependentes de Espanha em termos de bitola.
As duas hipotéticas soluções aqui apresentadas diferem fundamentalmente uma da outra. Na das linhas novas não teria sentido a construção por fases, além de que a sua finalidade seria única e falível. A outra envolve a recuperação faseada de linhas antigas, sem prejuízo de permitir o acesso à Europa, podendo servir, porventura, para o combate ao despovoamento do interior e como estímulo à economia e à criação de emprego.
As incertezas são muitas e persistem, mas uma coisa é certa: se forem construídas aquelas linhas novas, deixando Beja de parte, Sines será, para o interior do Baixo Alentejo, um porto de desilusões profundas.
06-05-2016 9:40:49
Joaquim Carrusca
Engenheiro Civil
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