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A ética individual de um liberal
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A ética individual de um liberal
Os socialistas, defensores do fortalecimento do poder público, querem separar a pessoa da comunidade: para a isolar e enfraquecer. Não há nada pior para um socialista, e estimulante para um liberal, que milhões de pessoas individualmente livres.
A leitura do artigo do Luís Aguiar-Conraria, no Observador, sobre a direita que se diz liberal e intitulado “Onde está a direita liberal em Portugal?”, obriga-me a dirigir-lhe uma resposta. Mas, porque sou de direita e liberal, não farei como o Luís. Não vou generalizar falando em nome da direita, ou dos liberais, mas apenas em meu nome. Não farei como o Luís que fala de quem não conhece. Falarei de mim que, como liberal, é o que aqui interessa e o que vale: o meu ponto de vista.
Sou liberal pelas razões que são o oposto daquelas que a maioria tem do liberalismo. Muitos dos meus amigos e conhecidos, que me criticam por ser liberal, referem o capitalismo selvagem, a especulação financeira, a exploração dos mais fracos e o poder das grandes empresas. Não deixa de ser curioso que muitos deles trabalhem para essas mesmas empresas. Eu, pelo contrário, nunca nutri por estas qualquer admiração. Na minha concepção de liberal não aprecio grandes empresas. Como também não aprecio grandes escritórios de advogados. Não é que tenham algo de mal ou feito algo de errado, mas porque gosto da concorrência no seu estado mais puro. Tenho um fascínio por David no seu combate contra Golias. Gosto dos que se levantam e enfrentam o mundo; dos que não se intimidam, mas são humildes; dos que não se impressionam com a opulência, nem com o poder. Esta é a essência do meu liberalismo. É muito individual, eu sei, mas o liberalismo é isso: a liberdade dos indivíduos.
É nesta perspectiva que também desconfio do Estado. Não porque este seja naturalmente mau, mas por ser tendencialmente intrusivo e manipulador. O Estado é algo necessário mas, porque poderoso, deve ser vigiado. É um Golias que os David(s) devem continuamente pôr na linha. E é neste ponto de relação com o Estado que o debate ganha os contornos que são mais conhecidos entre o grande público: o Estado deve ter o monopólio da educação, dos cuidados de saúde e da Segurança Social? Deve controlar, ou regulamentar, a actividade económica? Devem existir empresas públicas? Quais? Qual o limite máximo de impostos que é tolerável pagar? É aceitável que os políticos endividem o Estado e nos enviem depois a conta? Se o Estado for um Golias, não é difícil saber qual é a opinião de um liberal.
Infelizmente, o artigo do Luís não se alargava a estas questões. Cingia-se às consideradas fracturantes, como o casamento homossexual, a adopção por casais homossexuais, a eutanásia e o aborto. Aqui, e esquecendo que as causas são fracturantes porque muito mais complexas que a forma como as abordou no seu artigo – a título de exemplo e no aborto, o direito à vida é um aspecto ainda a ter em conta –, o Luís concluiu que a direita gosta de impor a sua moral aos outros. Mencionava, é verdade, a educação, mas mais como uma tentativa de colar a direita à Igreja que à enumeração de argumentos que os liberais têm sobre a matéria.
O Luís esquece que o motivo subjacente a estas questões visa enfraquecer os alicerces da liberdade individual, sejam a família e as demais instituições, como as escolas privadas. É que se o liberal pugna pela liberdade de cada um, sabe, melhor do que ninguém, que esta não se conquista sozinho mas através do que Burke apelidou de pequenos pelotões da liberdade: a família, a vizinhança, os amigos, as associações de qualquer espécie e feitio feitas por indivíduos à procura do seu espaço no meio de todos. Sem estas, o indivíduo fica sozinho contra o Estado.
Aliás, é precisamente por isso que os socialistas, defensores do fortalecimento do poder público, querem separar a pessoa da comunidade: para a isolar e enfraquecer. É também por essa mesma razão que os socialistas são tão amigos das grandes empresas: porque precisam destas para, em parceria com o Estado, fortalecerem um poder centralizador. Não há nada pior para um socialista, e estimulante para um liberal, que milhões de pessoas individualmente livres. O erro do Luís foi o ter generalizado. Ora, dificuldade do liberalismo é mesma a sua individualidade, que não se compactua com generalizações grosseiras e a redução forçada da discussão pública à dicotomia esquerda-direita, com forças partidárias pelo meio. É um debate intelectual que merece muito mais que aquilo a que o Luís o reduziu.
00:05 h
André Abrantes Amaral, Advogado
Económico
A leitura do artigo do Luís Aguiar-Conraria, no Observador, sobre a direita que se diz liberal e intitulado “Onde está a direita liberal em Portugal?”, obriga-me a dirigir-lhe uma resposta. Mas, porque sou de direita e liberal, não farei como o Luís. Não vou generalizar falando em nome da direita, ou dos liberais, mas apenas em meu nome. Não farei como o Luís que fala de quem não conhece. Falarei de mim que, como liberal, é o que aqui interessa e o que vale: o meu ponto de vista.
Sou liberal pelas razões que são o oposto daquelas que a maioria tem do liberalismo. Muitos dos meus amigos e conhecidos, que me criticam por ser liberal, referem o capitalismo selvagem, a especulação financeira, a exploração dos mais fracos e o poder das grandes empresas. Não deixa de ser curioso que muitos deles trabalhem para essas mesmas empresas. Eu, pelo contrário, nunca nutri por estas qualquer admiração. Na minha concepção de liberal não aprecio grandes empresas. Como também não aprecio grandes escritórios de advogados. Não é que tenham algo de mal ou feito algo de errado, mas porque gosto da concorrência no seu estado mais puro. Tenho um fascínio por David no seu combate contra Golias. Gosto dos que se levantam e enfrentam o mundo; dos que não se intimidam, mas são humildes; dos que não se impressionam com a opulência, nem com o poder. Esta é a essência do meu liberalismo. É muito individual, eu sei, mas o liberalismo é isso: a liberdade dos indivíduos.
É nesta perspectiva que também desconfio do Estado. Não porque este seja naturalmente mau, mas por ser tendencialmente intrusivo e manipulador. O Estado é algo necessário mas, porque poderoso, deve ser vigiado. É um Golias que os David(s) devem continuamente pôr na linha. E é neste ponto de relação com o Estado que o debate ganha os contornos que são mais conhecidos entre o grande público: o Estado deve ter o monopólio da educação, dos cuidados de saúde e da Segurança Social? Deve controlar, ou regulamentar, a actividade económica? Devem existir empresas públicas? Quais? Qual o limite máximo de impostos que é tolerável pagar? É aceitável que os políticos endividem o Estado e nos enviem depois a conta? Se o Estado for um Golias, não é difícil saber qual é a opinião de um liberal.
Infelizmente, o artigo do Luís não se alargava a estas questões. Cingia-se às consideradas fracturantes, como o casamento homossexual, a adopção por casais homossexuais, a eutanásia e o aborto. Aqui, e esquecendo que as causas são fracturantes porque muito mais complexas que a forma como as abordou no seu artigo – a título de exemplo e no aborto, o direito à vida é um aspecto ainda a ter em conta –, o Luís concluiu que a direita gosta de impor a sua moral aos outros. Mencionava, é verdade, a educação, mas mais como uma tentativa de colar a direita à Igreja que à enumeração de argumentos que os liberais têm sobre a matéria.
O Luís esquece que o motivo subjacente a estas questões visa enfraquecer os alicerces da liberdade individual, sejam a família e as demais instituições, como as escolas privadas. É que se o liberal pugna pela liberdade de cada um, sabe, melhor do que ninguém, que esta não se conquista sozinho mas através do que Burke apelidou de pequenos pelotões da liberdade: a família, a vizinhança, os amigos, as associações de qualquer espécie e feitio feitas por indivíduos à procura do seu espaço no meio de todos. Sem estas, o indivíduo fica sozinho contra o Estado.
Aliás, é precisamente por isso que os socialistas, defensores do fortalecimento do poder público, querem separar a pessoa da comunidade: para a isolar e enfraquecer. É também por essa mesma razão que os socialistas são tão amigos das grandes empresas: porque precisam destas para, em parceria com o Estado, fortalecerem um poder centralizador. Não há nada pior para um socialista, e estimulante para um liberal, que milhões de pessoas individualmente livres. O erro do Luís foi o ter generalizado. Ora, dificuldade do liberalismo é mesma a sua individualidade, que não se compactua com generalizações grosseiras e a redução forçada da discussão pública à dicotomia esquerda-direita, com forças partidárias pelo meio. É um debate intelectual que merece muito mais que aquilo a que o Luís o reduziu.
00:05 h
André Abrantes Amaral, Advogado
Económico
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