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Democracia não acredita no ser humano
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Democracia não acredita no ser humano
1.A notícia publicada pela revista Sábado sobre o ministro da Educação (resultado de uma denúncia do orientador da tese de doutoramento que o acusou de ter burlado o Estado), foi desmentida veementemente pela FCT, organismo público que gere as bolsas. Bastaria ter ‘caminhado’ os olhos pelas redes sociais, nas poucas horas entre a publicação da notícia e o desmentido, para perceber que uma importante massa de pessoas vive em função da ideia de ajustar contas. De fazer julgamentos de valor, de ‘espetar’ a faca, de partilhar entranhas.
2.É um problema meu. Sou de esquerda, mas não um otimista sobre o ser humano, uma contradição. Acredito que temos uma propensão para o mal, para os pensamentos rasteiros, para a mesquinhez. Quando alguém horrível nos surge à frente dos olhos não desconfiamos por um segundo da sua essência, mas quando nos surpreendem com a bondade a primeira reação é de profunda desconfiança. Até inventámos o ‘quando a esmola é grande o pobre desconfia’.
3.A propósito, escrevi há uns tempos: «O que a Democracia tem de melhor é para muitos o que de pior tem. Parte do princípio de que a natureza do ser humano o leva (nos leva) a abusar do poder, a querer mais do que aquilo que pode, a abusar dos privilégios, a esmagar os adversários, a não abdicar de lugares e mordomias. O que a Democracia tem de extraordinário não é a possibilidade de todos os votos valerem o mesmo, mas o de ser um antídoto contra a nossa própria perversidade. No papel, todos os poderes são regulados por outros poderes. Uma extraordinária criação. Não, a Democracia não é o sistema que acredita no ser humano. É o sistema que melhor dele desconfia».
4.Ficará para uma outra oportunidade, com tempo e todo o espaço desta coluna, mas julgo que não arriscarei na conclusão de que o Governo liderado por António Costa é o mais ideológico da história da democracia portuguesa. Pode ser circunstancial (necessidade de manter o apoio do PCP e do Bloco), só que nunca a separação entre dois blocos de pensamento foi tão clara.
O papel do Estado e dos funcionários públicos, a importância do mercado e das empresas, a relação com a Europa, com a banca, a máquina fiscal ou os temas socialmente fraturantes, tudo tem sido motivo para troca de argumentos opostos e impossíveis de conciliar. É uma boa notícia. Se o Governo durar uma legislatura, os portugueses poderão escolher entre dois modelos realmente distintos. Porém, falta muito tempo. Há muitas peças no tabuleiro.
5.Abriu a caça a Passos Coelho dentro do PSD. Porque votou ao lado do Bloco a favor das ‘barrigas de aluguer’. Por estar a deixar-se ‘engolir’ pelo protagonismo de Assunção Cristas. Por ter abraçado a ridícula causa da concessão aos colégios privados. O ruído aumentará e tornar-se-á ensurdecedor depois do Verão. Todos os pretextos serão bons para o colocar em causa e impedir que vá até às autárquicas. Luís Montenegro, Paulo Rangel e José Eduardo Martins (o preferido de Marcelo), começaram a contar espingardas. A contá-las mais seriamente. Não é líquido que o consigam antes das próximas eleições.
6.Começo a simpatizar com Máximo dos Santos, o cangalheiro do sistema financeiro português – nos últimos anos, liderou a liquidação do BPP e assumiu o banco mau saído do apocalipse dos Espírito Santo. Foi convidado para integrar a administração do Banco de Portugal (com Elisa Ferreira), e nesta semana citou uma frase que me parece definitiva acerca do peso dos bancos: «Se um banco é demasiado grande para cair, é demasiado grande». Em cheio.
losorio@stateofplay.pt
Luís Osório | 23/05/2016 12:51
SOL
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