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Gente como nós
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Gente como nós
Hoje não me apetece falar de temas evidentes. Não, hoje apetece-me falar de gente como nós. Como autarca, falei, sem exagero, com milhares de pessoas, que me confidenciaram os seus problemas. E uma das coisas que mais me marcou foi a constatação de que, na maior parte dos casos, os rostos e as aparências das pessoas não permitem perscrutar os dramas que lhes estão associados. As miseráveis condições de habitação, a fome, a (falta de) saúde dos próximos, a violência doméstica, a abdicação de uma vida própria para viver em função de familiares...
Pessoas que se cruzam connosco nas ruas, que são nossos colegas no trabalho e na escola, que são nossos vizinhos e de quem não conhecemos os dramas com que lidam quotidianamente. E que, se soubéssemos, talvez os valorizássemos mais...
Vem esta reflexão a propósito do que se passou comigo no sábado. Num batizado, e depois de se cantarem os parabéns ao bebé batizado, o pai perguntou se, nos presentes, mais alguém fazia anos - o que não aconteceu. Passado algum tempo, o senhor que estava ao meu lado referiu-me que aquela frase o tinha feito recordar que, há precisamente 54 anos, tinha regressado a Lisboa depois de ter estado preso, durante cinco meses, num campo de concentração na Índia. Fazia parte das tropas portuguesas que, apesar de Salazar ordenar que deviam "lutar até à última gota de sangue", se renderam devido à corajosa clarividência do seu comandante, general Vassalo e Silva que, sabendo estar tudo perdido, não quis que os seus perdessem a vida...
E contou-me como, durante a prisão, perdeu cerca de 20kg, como foram tratados com desprezo no barco que os trouxe de regresso, onde lhes deram roupas completamente desadequadas com o objetivo de os fazerem sentir indignos no desembarque em Lisboa - onde as autoridades os trataram como traidores. Receção indigna que foi compensada, em Santo Tirso, de onde era originário, e cuja população o recebeu, juntamente com mais dois camaradas do mesmo concelho, com a alegria efusiva que se dedica "aos nossos".
E, confesso-o, ao ver aquele homem frágil, ao meu lado, com aquela história de vida, senti-me verdadeiramente pequeno. E pensei com os meus botões: Vassalo e Silva, vilipendiado e ostracizado pela decisão que tomou, deve ter sorrido ao ver um dos seus soldados, passados 54 anos, feliz, a batizar o neto da sua filha...
ENGENHEIRO
RUI SÁ
30 Maio 2016 às 00:00
Jornal de Notícias
Pessoas que se cruzam connosco nas ruas, que são nossos colegas no trabalho e na escola, que são nossos vizinhos e de quem não conhecemos os dramas com que lidam quotidianamente. E que, se soubéssemos, talvez os valorizássemos mais...
Vem esta reflexão a propósito do que se passou comigo no sábado. Num batizado, e depois de se cantarem os parabéns ao bebé batizado, o pai perguntou se, nos presentes, mais alguém fazia anos - o que não aconteceu. Passado algum tempo, o senhor que estava ao meu lado referiu-me que aquela frase o tinha feito recordar que, há precisamente 54 anos, tinha regressado a Lisboa depois de ter estado preso, durante cinco meses, num campo de concentração na Índia. Fazia parte das tropas portuguesas que, apesar de Salazar ordenar que deviam "lutar até à última gota de sangue", se renderam devido à corajosa clarividência do seu comandante, general Vassalo e Silva que, sabendo estar tudo perdido, não quis que os seus perdessem a vida...
E contou-me como, durante a prisão, perdeu cerca de 20kg, como foram tratados com desprezo no barco que os trouxe de regresso, onde lhes deram roupas completamente desadequadas com o objetivo de os fazerem sentir indignos no desembarque em Lisboa - onde as autoridades os trataram como traidores. Receção indigna que foi compensada, em Santo Tirso, de onde era originário, e cuja população o recebeu, juntamente com mais dois camaradas do mesmo concelho, com a alegria efusiva que se dedica "aos nossos".
E, confesso-o, ao ver aquele homem frágil, ao meu lado, com aquela história de vida, senti-me verdadeiramente pequeno. E pensei com os meus botões: Vassalo e Silva, vilipendiado e ostracizado pela decisão que tomou, deve ter sorrido ao ver um dos seus soldados, passados 54 anos, feliz, a batizar o neto da sua filha...
ENGENHEIRO
RUI SÁ
30 Maio 2016 às 00:00
Jornal de Notícias
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