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Por uma discussão aberta dos problemas de Portugal e da Europa
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Por uma discussão aberta dos problemas de Portugal e da Europa
Falar corajosa e responsavelmente sobre os desafios políticos atuais parece ser a única maneira de defender a nossa democracia
Muita da reflexão que nos dias de hoje se faz – ou, mais precisamente, não se faz – sobre os problemas da atualidade internacional, europeia e nacional costuma expressar-se numa linguagem preferencialmente técnica.
Mais ainda do que a linguagem jurídica, a linguagem económica tende hoje a envolver todos os problemas num aparente manto de tecnicidade, o que retira toda a carga política que, na realidade, tais problemas essencialmente comportam.
Reduzindo o campo de análise dos problemas à escolha de uma ou duas respostas que, de qualquer jeito, se enquadram em soluções políticas dadas como adquiridas, consegue-se assim tornar socialmente ilegítimos, por tecnicamente desconformes, todos os outros caminhos alvitrados para os resolver.
Para este tipo de bloqueio intelectual e político contribuem, por norma, a maioria dos comentadores que escrevem ou intervêm nos media e, bem assim, os pivôs que lhes servem as cartas e que tantas vezes lhes corrigem as respostas quando estas, por pouco que seja, saem desalinhadas das regras do jogo.
Este cerco intelectual tem contribuído inexoravelmente para o crescimento da iliteracia política, mesmo se logrando, até hoje, manter o debate democrático que é acessível à maioria dos cidadãos nas baias de uma tecnicidade aparentemente neutra do ponto de vista político.
Não é, pois, de admirar, perante a crescente incapacidade de tais respostas “técnicas” – repetidas incansavelmente e sem novidade – para explicar os problemas atuais das nossas sociedades e perante a induzida iliteracia política de uma parte significativa dos cidadãos europeus, que estes, ante os novos muros em que os cercaram, acabem, repentinamente, por apoiar aquelas soluções agora apelidadas de “populistas” e que prometem derrubá-los.
Acontece até que muitas de tais soluções políticas são realmente populistas e, pior, germinam dentro de si os demónios que engendraram os regimes fascistas ou fascizantes que governaram muitos países europeus no século passado.
Ante os desafios políticos que ocorrem no Reino Unido e em Espanha, os riscos de um reforço acentuado da Frente Nacional em França, o pendor autoritário de muitos dos regimes já instalados em países do centro e leste europeus, a maioria dos intelectuais e comentadores com assento nos media europeus e portugueses parecem incapazes de descortinar – ou não querem mesmo fazê-lo – os caminhos de discussão que poderão politizar as questões determinantes da vida das nossas sociedades.
Tal renúncia e os resultados catastróficos do ponto de vista democrático que ela poderia proporcionar têm sido minorados, entre nós, pela capacidade que muitas forças políticas têm tido para ainda continuar a dialogar diretamente com os portugueses.
Só que tal diálogo direto é estabelecido, as mais das vezes, apenas com aqueles que ainda estão enquadrados por tais forças políticas ou que por elas continuam a ser influenciados.
Na verdade, aquilo que poderia ser uma sã discussão sobre os riscos políticos graves que o país atravessa, porque inserido numa Europa já à deriva, continua por fazer.
Ao que assistimos é, ainda assim, a uma tagarelice repetitiva, assente em limitadíssimos sound bites de caráter pretensamente técnico-económico, que já nem os problemas do sistema económico que os gerou é capaz de explicar.
Romper com esse patoá enfadonho e falar corajosa e responsavelmente sobre os desafios políticos atuais parece ser a única maneira de defender a nossa democracia e esconjurar os demónios que originaram antes tantas ditaduras.
Jurista
Escreve à terça-feira
14/06/2016
António Cluny
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Muita da reflexão que nos dias de hoje se faz – ou, mais precisamente, não se faz – sobre os problemas da atualidade internacional, europeia e nacional costuma expressar-se numa linguagem preferencialmente técnica.
Mais ainda do que a linguagem jurídica, a linguagem económica tende hoje a envolver todos os problemas num aparente manto de tecnicidade, o que retira toda a carga política que, na realidade, tais problemas essencialmente comportam.
Reduzindo o campo de análise dos problemas à escolha de uma ou duas respostas que, de qualquer jeito, se enquadram em soluções políticas dadas como adquiridas, consegue-se assim tornar socialmente ilegítimos, por tecnicamente desconformes, todos os outros caminhos alvitrados para os resolver.
Para este tipo de bloqueio intelectual e político contribuem, por norma, a maioria dos comentadores que escrevem ou intervêm nos media e, bem assim, os pivôs que lhes servem as cartas e que tantas vezes lhes corrigem as respostas quando estas, por pouco que seja, saem desalinhadas das regras do jogo.
Este cerco intelectual tem contribuído inexoravelmente para o crescimento da iliteracia política, mesmo se logrando, até hoje, manter o debate democrático que é acessível à maioria dos cidadãos nas baias de uma tecnicidade aparentemente neutra do ponto de vista político.
Não é, pois, de admirar, perante a crescente incapacidade de tais respostas “técnicas” – repetidas incansavelmente e sem novidade – para explicar os problemas atuais das nossas sociedades e perante a induzida iliteracia política de uma parte significativa dos cidadãos europeus, que estes, ante os novos muros em que os cercaram, acabem, repentinamente, por apoiar aquelas soluções agora apelidadas de “populistas” e que prometem derrubá-los.
Acontece até que muitas de tais soluções políticas são realmente populistas e, pior, germinam dentro de si os demónios que engendraram os regimes fascistas ou fascizantes que governaram muitos países europeus no século passado.
Ante os desafios políticos que ocorrem no Reino Unido e em Espanha, os riscos de um reforço acentuado da Frente Nacional em França, o pendor autoritário de muitos dos regimes já instalados em países do centro e leste europeus, a maioria dos intelectuais e comentadores com assento nos media europeus e portugueses parecem incapazes de descortinar – ou não querem mesmo fazê-lo – os caminhos de discussão que poderão politizar as questões determinantes da vida das nossas sociedades.
Tal renúncia e os resultados catastróficos do ponto de vista democrático que ela poderia proporcionar têm sido minorados, entre nós, pela capacidade que muitas forças políticas têm tido para ainda continuar a dialogar diretamente com os portugueses.
Só que tal diálogo direto é estabelecido, as mais das vezes, apenas com aqueles que ainda estão enquadrados por tais forças políticas ou que por elas continuam a ser influenciados.
Na verdade, aquilo que poderia ser uma sã discussão sobre os riscos políticos graves que o país atravessa, porque inserido numa Europa já à deriva, continua por fazer.
Ao que assistimos é, ainda assim, a uma tagarelice repetitiva, assente em limitadíssimos sound bites de caráter pretensamente técnico-económico, que já nem os problemas do sistema económico que os gerou é capaz de explicar.
Romper com esse patoá enfadonho e falar corajosa e responsavelmente sobre os desafios políticos atuais parece ser a única maneira de defender a nossa democracia e esconjurar os demónios que originaram antes tantas ditaduras.
Jurista
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14/06/2016
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