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História Universal da Pulhice Humana
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História Universal da Pulhice Humana
A reedição em formato fac-similado da "História Universal da Pulhice Humana" de José Vilhena pela E-Primatur, originalmente publicada entre 1960 e 1964, é uma boa notícia.
Escapou-me a novidade, que já vem do ano passado. Aparentemente terá vendido bem porque o exemplar que comprei é uma reimpressão. Não sei se representa a tentativa de reedição da extensa obra do escritor, que faleceu em 2015 e que soma mais de 70 volumes. O que sei é que, 60 anos depois, a prosa de Vilhena continua a ler-se com muitíssimo prazer. Já ninguém sabe o que é a Nina, o Texas-Bar ou o Comodoro, as "francesas" e as "espanholas", a Emissora Nacional, os cadernos de Artur Anselmo, as prédicas de João Coito, as palinódias de Ramiro Valadão ou o SNI. Tudo referências ao microcosmos lisboeta "salazarista" dos anos 50 e 60. Mas o resto está mais do que actual.
O atávico atraso nacional: "disfrutando de uma natureza pródiga em belezas e de um ambiente de paz social os nossos remotos descendentes que habitaram este canto da Península Ibérica puderam entregar-se sem receio aos prazeres da vida: esqueceram mesmo que não tinham indústria (...), gozaram turisticamente o seu subdesenvolvimento pelo que então se dizia que "Les Portugais sont toujours gais", frase que prevaleceu injustamente através dos tempos". O "funcionalismo público" solução nacional para o desemprego. A "animalização em massa" pela via da publicidade comercial e da televisão. Instituições tão peculiares, como o "tacho", "diz-me em que furo apertas o cinto e dir-te-ei o tacho em que chafurdas" ou a "cunha" que "não é uma instituição portuguesa, foi inventada pelos caldeus – da escrita cuneiforme –, nós apenas a aperfeiçoámos". E claro, pequenas pérolas para todos os tempos: "à medida que os povos emagrecem os governantes engordam, lei dos vasos comunicantes aplicada às ciências políticas".
Vilhena entrou na academia (mas não ficou lá). Rui Zink dedicou-lhe uma dissertação académica de mestrado. Tem certamente um pequeno núcleo de entusiastas que procura nos alfarrabistas as suas edições (quase todas proibidas pela Censura mas todas esgotadas). Não teve contudo lugar numa recente edição antológica de humor português. Não percebo porquê. Talvez porque as novas gerações de humoristas portugueses se achem "intelectuais". E não queiram a companhia do "incorrigível e manhoso" Vilhena. Pior para eles.
00:05 h
Ricardo Leite Pinto, Professor da Universidade Lusíada
Económico
Escapou-me a novidade, que já vem do ano passado. Aparentemente terá vendido bem porque o exemplar que comprei é uma reimpressão. Não sei se representa a tentativa de reedição da extensa obra do escritor, que faleceu em 2015 e que soma mais de 70 volumes. O que sei é que, 60 anos depois, a prosa de Vilhena continua a ler-se com muitíssimo prazer. Já ninguém sabe o que é a Nina, o Texas-Bar ou o Comodoro, as "francesas" e as "espanholas", a Emissora Nacional, os cadernos de Artur Anselmo, as prédicas de João Coito, as palinódias de Ramiro Valadão ou o SNI. Tudo referências ao microcosmos lisboeta "salazarista" dos anos 50 e 60. Mas o resto está mais do que actual.
O atávico atraso nacional: "disfrutando de uma natureza pródiga em belezas e de um ambiente de paz social os nossos remotos descendentes que habitaram este canto da Península Ibérica puderam entregar-se sem receio aos prazeres da vida: esqueceram mesmo que não tinham indústria (...), gozaram turisticamente o seu subdesenvolvimento pelo que então se dizia que "Les Portugais sont toujours gais", frase que prevaleceu injustamente através dos tempos". O "funcionalismo público" solução nacional para o desemprego. A "animalização em massa" pela via da publicidade comercial e da televisão. Instituições tão peculiares, como o "tacho", "diz-me em que furo apertas o cinto e dir-te-ei o tacho em que chafurdas" ou a "cunha" que "não é uma instituição portuguesa, foi inventada pelos caldeus – da escrita cuneiforme –, nós apenas a aperfeiçoámos". E claro, pequenas pérolas para todos os tempos: "à medida que os povos emagrecem os governantes engordam, lei dos vasos comunicantes aplicada às ciências políticas".
Vilhena entrou na academia (mas não ficou lá). Rui Zink dedicou-lhe uma dissertação académica de mestrado. Tem certamente um pequeno núcleo de entusiastas que procura nos alfarrabistas as suas edições (quase todas proibidas pela Censura mas todas esgotadas). Não teve contudo lugar numa recente edição antológica de humor português. Não percebo porquê. Talvez porque as novas gerações de humoristas portugueses se achem "intelectuais". E não queiram a companhia do "incorrigível e manhoso" Vilhena. Pior para eles.
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