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Brexit: dez perguntas e uma questão desesperada
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Brexit: dez perguntas e uma questão desesperada
Os ingleses são chauvinistas. São snobes e nunca foram europeístas. Os ingleses são pragmáticos. Por isso estão na Europa, por conveniência, não por convicção. A quinta maior potência militar e económica do planeta não é mais arrogante do que a sexta nem mais suave do que a quarta. Mas, por serem uma ilha, apartam-se. Não nos detestam, simplesmente pedem que os deixem em paz. O referendo da próxima semana é crítico para o futuro do Reino Unido. Se o brexit triunfar, será mais um golpe à União Europeia. Que primeiro encolhe. E será posta à prova, para um dia não desaparecer.
1. Como nasceu o referendo nacional? O primeiro-ministro Cameron tinha um problema eterno no partido e decidiu renegociar os termos de permanência do Reino Unido na União Europeia - algo que aconteceu em fevereiro deste ano. O referendo era, portanto, uma espécie de tira-teimas. Mas David Cameron não só não conseguiu o que queria, como ainda perdeu a mão na Nação. E agora arrisca-se a ficar na história por três motivos: conservadores desavindos, Reino desunido e Europa amputada.
2. Pode o Reino Unido deixar a União Europeia? Pode. Há meia dúzia de meses, a hipótese era bastante remota, mas hoje as principais sondagens dão vantagem ao voto no exit. Desde sempre, especialmente com Margaret Thatcher, os ingleses desafiaram Bruxelas, provocaram o eixo franco-alemão, chantagearam todos, puxaram o tapete a alguns e, no essencial, sempre agiram unilateralmente. Foi muitas vezes por causa dos britânicos que percebemos como era fraca e desinteressante esta Europa. Pior só a Europa (ainda mais) fragilizada com a saída deles.
3. E o que não querem eles? Imigrantes e burocratas. Os ingleses sempre se irritaram com o excesso de normas e regulamentos. Não admitem que eurocratas e juízes se intrometam nas suas vidas. Agora, além da irritação, estão com medo: a crise migratória deu argumentos adicionais para as políticas restritivas de controlo de cidadãos. Recuperar soberania significa recuperar fronteiras. Algo que o projeto europeu não permite. Se o brexit vencer, será mais uma vez o medo que triunfa.
4. Os migrantes europeus podem ser expulsos? Podem. A ideia é essa, reduzir o número de cidadãos comunitários a residir em solo britânico, uma vez que metade dos imigrantes do Reino Unido vêm da própria União Europeia. Este poder Londres pode realmente recuperar. Mas deixa vulneráveis mais de dois milhões de britânicos que, vivendo noutros países europeus, perdem os direitos especiais dos cidadãos comunitários. O grande risco não é, porém, esse. Para abrir "a terceiros" o mercado livre, Bruxelas impõe como condição a livre circulação de pessoas - precisamente uma das coisas que o brexit quer anular. Perder a liberdade comercial implica uma pesada fatura na competitividade do país: metade das exportações britânicas são para a UE, ficarão mais caras com as tarifas e outras barreiras alfandegárias de que estavam isentas até agora.
5. O que perde o Reino Unido? Perde, muito provavelmente, a união. Os escoceses, que estiveram à beira da secessão, esperam por um pretexto para retomar o referendo à independência - ao contrário de Inglaterra, a Escócia é pró-Europa, pois quanto mais forte for Bruxelas mais fraca será Londres. O brexit deixa a Irlanda à beira de um ataque de nervos, porque a paz entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte assenta num equilíbrio frágil e só possível num quadro de integração europeia. O Reino Unido até pode recuperar a soberania que à Europa cedeu. Mas pode paradoxalmente perder-se no próprio país. O brexit abre uma caixa de Pandora, de nacionalismos contidos a tensões religiosas a custo recalcadas...
6. O que perde a Europa? Perde muito. Perde o seu principal centro financeiro. Perde a sua segunda maior economia. Perde a sua voz mais influente no plano internacional. Londres até pode ainda repartir com Paris um certo domínio na diplomacia mundial, mas é inegavelmente a maior potência militar da Europa Ocidental, o país da União que joga um papel mais determinante nas questões de segurança. A saída do Reino Unido deixaria a Europa mais pobre e menos relevante no mundo.
7. Pode Bruxelas "fingir" que o Reino Unido não saiu? Conseguir o melhor dos dois mundos é o que os antieuropeístas do brexit acreditam que acabará por acontecer: libertam a economia dos regulamentos e das diretivas, continuam a vender produtos e serviços no maior mercado do mundo, deixam de pagar para o orçamento comunitário e recuperam o controlo de fronteiras. Têm razões para alimentar essa esperança, porque não seria a primeira vez que Bruxelas infringia regras e se tornava fraca com os fortes.
8. O brexit pode inspirar alguém? Sim. Deixar os britânicos de fora, mantendo os privilégios de quem está dentro, significa simplesmente incentivar outros a fazer o mesmo. E meio caminho para Le Pen e outros nacionalistas chegarem ao poder nos seus países. Londres, se se excluir, vai encontrar líderes europeus mais firmes. Não porque ficaram mais rijos. Apenas por estarem a salvar a própria pele.
9. Podem as empresas continuar a aceder ao espaço europeu? Sim, como vários países de todo o mundo mantêm relações comerciais com a União Europeia. Até à celebração de um futuro acordo bilateral, que os defensores do brexit advogam, citando a Noruega ou a Suíça, os produtos britânicos passam a ser extracomunitários e, portanto, sujeitos ao regime alfandegário geral. A União tem 52 acordos de comércio celebrados com vários países. O caso norueguês e suíço é sintomático de duas coisas: uma é que vale muito dinheiro para as suas empresas a entrada "livre" no maior mercado do mundo; outra é que isso é tanto assim quanto Noruega, Suíça ou Islândia se tornaram generosos contribuintes do orçamento comunitário, que é uma das contrapartidas exigidas para o laissez passer. Ou seja, os britânicos poderão continuar a exportar livremente para o Mercado Comum, mas devem aceitar a circulação de pessoas e financiar a eurocracia comunitária - precisamente aquilo que os partidários do brexit não querem.
10. Quem precisa mais de quem? Em termos meramente comerciais, os números são inequívocos e definitivos: a União Europeia representa 50% das exportações britânicas, enquanto apenas 10% daquilo que a EU vende ao exterior se destina ao Reino Unido. É compreensível, assim, o apoio unânime dos empresários britânicos à manutenção. Outros países, como a China e a Índia, já deixaram bem claro que preferem continuar a privilegiar o acordo comercial que estão a negociar com Bruxelas. E os próprios Estados Unidos, pela voz do presidente Obama, já manifestou inquietação. A União não está um local muito bem frequentado, mas a interdependência dos europeus continua a ser o cenário mais seguro para todos os seres da espécie humana - todos menos Vladimir Putin, o único e compreensível entusiasta com a iminência do divórcio.
...e a QUESTÃO DESESPERADA: Se o Reino Unido salta da Europa, se a Escócia salta do Reino Unido, se saltam os nacionalistas e independentistas, os antieuropeus e os protecionistas, os esquerdistas e os fascistas, três cenários são possíveis: tudo corre bem e será a grande confusão; tudo correr mal e temos um desastre anunciado; se tudo ficar na mesma, a Europa não vai aprender nada, como não aprendeu com a crise do euro ou o drama dos refugiados. Então que argumentos temos para convencer os britânicos a ficar?
14 DE JUNHO DE 2016
00:01
Sérgio Figueiredo
Diário de Notícias
1. Como nasceu o referendo nacional? O primeiro-ministro Cameron tinha um problema eterno no partido e decidiu renegociar os termos de permanência do Reino Unido na União Europeia - algo que aconteceu em fevereiro deste ano. O referendo era, portanto, uma espécie de tira-teimas. Mas David Cameron não só não conseguiu o que queria, como ainda perdeu a mão na Nação. E agora arrisca-se a ficar na história por três motivos: conservadores desavindos, Reino desunido e Europa amputada.
2. Pode o Reino Unido deixar a União Europeia? Pode. Há meia dúzia de meses, a hipótese era bastante remota, mas hoje as principais sondagens dão vantagem ao voto no exit. Desde sempre, especialmente com Margaret Thatcher, os ingleses desafiaram Bruxelas, provocaram o eixo franco-alemão, chantagearam todos, puxaram o tapete a alguns e, no essencial, sempre agiram unilateralmente. Foi muitas vezes por causa dos britânicos que percebemos como era fraca e desinteressante esta Europa. Pior só a Europa (ainda mais) fragilizada com a saída deles.
3. E o que não querem eles? Imigrantes e burocratas. Os ingleses sempre se irritaram com o excesso de normas e regulamentos. Não admitem que eurocratas e juízes se intrometam nas suas vidas. Agora, além da irritação, estão com medo: a crise migratória deu argumentos adicionais para as políticas restritivas de controlo de cidadãos. Recuperar soberania significa recuperar fronteiras. Algo que o projeto europeu não permite. Se o brexit vencer, será mais uma vez o medo que triunfa.
4. Os migrantes europeus podem ser expulsos? Podem. A ideia é essa, reduzir o número de cidadãos comunitários a residir em solo britânico, uma vez que metade dos imigrantes do Reino Unido vêm da própria União Europeia. Este poder Londres pode realmente recuperar. Mas deixa vulneráveis mais de dois milhões de britânicos que, vivendo noutros países europeus, perdem os direitos especiais dos cidadãos comunitários. O grande risco não é, porém, esse. Para abrir "a terceiros" o mercado livre, Bruxelas impõe como condição a livre circulação de pessoas - precisamente uma das coisas que o brexit quer anular. Perder a liberdade comercial implica uma pesada fatura na competitividade do país: metade das exportações britânicas são para a UE, ficarão mais caras com as tarifas e outras barreiras alfandegárias de que estavam isentas até agora.
5. O que perde o Reino Unido? Perde, muito provavelmente, a união. Os escoceses, que estiveram à beira da secessão, esperam por um pretexto para retomar o referendo à independência - ao contrário de Inglaterra, a Escócia é pró-Europa, pois quanto mais forte for Bruxelas mais fraca será Londres. O brexit deixa a Irlanda à beira de um ataque de nervos, porque a paz entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte assenta num equilíbrio frágil e só possível num quadro de integração europeia. O Reino Unido até pode recuperar a soberania que à Europa cedeu. Mas pode paradoxalmente perder-se no próprio país. O brexit abre uma caixa de Pandora, de nacionalismos contidos a tensões religiosas a custo recalcadas...
6. O que perde a Europa? Perde muito. Perde o seu principal centro financeiro. Perde a sua segunda maior economia. Perde a sua voz mais influente no plano internacional. Londres até pode ainda repartir com Paris um certo domínio na diplomacia mundial, mas é inegavelmente a maior potência militar da Europa Ocidental, o país da União que joga um papel mais determinante nas questões de segurança. A saída do Reino Unido deixaria a Europa mais pobre e menos relevante no mundo.
7. Pode Bruxelas "fingir" que o Reino Unido não saiu? Conseguir o melhor dos dois mundos é o que os antieuropeístas do brexit acreditam que acabará por acontecer: libertam a economia dos regulamentos e das diretivas, continuam a vender produtos e serviços no maior mercado do mundo, deixam de pagar para o orçamento comunitário e recuperam o controlo de fronteiras. Têm razões para alimentar essa esperança, porque não seria a primeira vez que Bruxelas infringia regras e se tornava fraca com os fortes.
8. O brexit pode inspirar alguém? Sim. Deixar os britânicos de fora, mantendo os privilégios de quem está dentro, significa simplesmente incentivar outros a fazer o mesmo. E meio caminho para Le Pen e outros nacionalistas chegarem ao poder nos seus países. Londres, se se excluir, vai encontrar líderes europeus mais firmes. Não porque ficaram mais rijos. Apenas por estarem a salvar a própria pele.
9. Podem as empresas continuar a aceder ao espaço europeu? Sim, como vários países de todo o mundo mantêm relações comerciais com a União Europeia. Até à celebração de um futuro acordo bilateral, que os defensores do brexit advogam, citando a Noruega ou a Suíça, os produtos britânicos passam a ser extracomunitários e, portanto, sujeitos ao regime alfandegário geral. A União tem 52 acordos de comércio celebrados com vários países. O caso norueguês e suíço é sintomático de duas coisas: uma é que vale muito dinheiro para as suas empresas a entrada "livre" no maior mercado do mundo; outra é que isso é tanto assim quanto Noruega, Suíça ou Islândia se tornaram generosos contribuintes do orçamento comunitário, que é uma das contrapartidas exigidas para o laissez passer. Ou seja, os britânicos poderão continuar a exportar livremente para o Mercado Comum, mas devem aceitar a circulação de pessoas e financiar a eurocracia comunitária - precisamente aquilo que os partidários do brexit não querem.
10. Quem precisa mais de quem? Em termos meramente comerciais, os números são inequívocos e definitivos: a União Europeia representa 50% das exportações britânicas, enquanto apenas 10% daquilo que a EU vende ao exterior se destina ao Reino Unido. É compreensível, assim, o apoio unânime dos empresários britânicos à manutenção. Outros países, como a China e a Índia, já deixaram bem claro que preferem continuar a privilegiar o acordo comercial que estão a negociar com Bruxelas. E os próprios Estados Unidos, pela voz do presidente Obama, já manifestou inquietação. A União não está um local muito bem frequentado, mas a interdependência dos europeus continua a ser o cenário mais seguro para todos os seres da espécie humana - todos menos Vladimir Putin, o único e compreensível entusiasta com a iminência do divórcio.
...e a QUESTÃO DESESPERADA: Se o Reino Unido salta da Europa, se a Escócia salta do Reino Unido, se saltam os nacionalistas e independentistas, os antieuropeus e os protecionistas, os esquerdistas e os fascistas, três cenários são possíveis: tudo corre bem e será a grande confusão; tudo correr mal e temos um desastre anunciado; se tudo ficar na mesma, a Europa não vai aprender nada, como não aprendeu com a crise do euro ou o drama dos refugiados. Então que argumentos temos para convencer os britânicos a ficar?
14 DE JUNHO DE 2016
00:01
Sérgio Figueiredo
Diário de Notícias
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