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Mensagem por Admin Qua Jun 15, 2016 11:26 am

Qualquer empresa, qualquer instituição ou, por analogia, qualquer governo tem obrigatoriamente de ter uma estratégia. Um guião orientador que defina um rumo, um caminho que permita manter o foco e o centro nos objetivos.

A ausência de estratégia conduz à ruína. Mesmo boas medidas ou ideias, quando avulsas, tornam-se pífias, por falta de articulação e de base. Base “zero”. O ponto de partida para se avaliar resultados e corrigir erros, sem o qual uma ação corre o risco de se tornar inócua.

Quando tomou posse, António Pires de Lima, ao invés de fazer tábua rasa do trabalho do seu antecessor, reavaliou prioridades e, em três meses, lançou a Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego (EFICE). A EFICE, desde o seu preâmbulo, afirmava a necessidade de estimular três motores para dinamizar a Economia: estabilizar o consumo privado, em torno de um crescimento médio próximo dos 2%–3%; aumentar o peso das exportações no PIB (52% em 2020), equilibrando as contas externas; e aumentar o investimento, nomeadamente através da atração de investimento direto estrangeiro.

A EFICE estabeleceu metas ambiciosas para Portugal em 2020. Porém, tendo sido lançada em Novembro de 2013, definiu também metas intermédias, para 2015, que visavam assegurar que não se estava a navegar “à vista” mas sim dentro dos “eixos” definidos. Foi, de resto, a vitalidade apresentada pelos três motores e o cumprimento destas metas intermédias – nomeadamente, o crescimento do PIB de 1,5%, o aumento do peso das exportações para 43% do PIB e aumento da taxa de emprego 20-64 anos para 69,1% –, nos últimos dois anos que tanto irritou um irascível Galamba e as manas Mortágua, constantemente em busca de uma “finta” à realidade que justificasse a sua tese.

Depois de terminar o ano de 2013 em queda (-1,3%), o consumo privado cresceu em 2014 e 2015 2,3% e 2,6%, respetivamente. No primeiro trimestre de 2016, e apesar de todos os estímulos, cresceu 2,9%. O problema é que como um avião desgovernado, os outros dois motores entretanto “empanaram”. O investimento, depois de atingir um crescimento de 5,5% em 2014 – quase 10% se retirássemos o setor da construção – e de 4,2% em 2015, está hoje em terreno negativo (-0,6%). As exportações, por seu lado, crescem (2,2%), porém, abaixo das importações e, em consequência, depois de três anos de superavit, a balança comercial regressou aos défices característicos da boa governação socialista.

Curiosamente, em finais de 2014, com as exportações a crescerem em praticamente todos os setores, um economista docente na Universidade do Minho, Manuel Caldeira Cabral, afirmava num artigo de opinião que “As exportações estão a crescer pouco (...) verificando-se um crescimento particularmente baixo em muitos setores industriais”. Agora, já em plenitude de funções enquanto ministro da Economia, podemos fazer uma analogia da evolução do crescimento das exportações por setor e a realidade é esta:


Em 31 de Dezembro de 2015:


A reboque da geringonça Exportacoes_1


Em 31 de Março de 2016:


A reboque da geringonça Exportacoes_2

A consequência desta falência nos motores é simples e verificável: em 2015 a Balança Comercial terminou com um superavit superior a 3 mil milhões de euros, um aumento de 58% face a 2014. Ao invés, no primeiro trimestre de 2016, apresentou um défice superior a 400 milhões de euros e uma queda de quase 900% face ao período homólogo. Mais grave é o facto de também a balança corrente e de capital ter regressado aos défices (-0,1% no 1T-2016) depois de quatro anos sempre em terreno positivo (0,1% em 2012, 3% em 2013, 2% em 2014 e 1,7% em 2015).

Certo é que os dados do primeiro trimestre do ano são pouco animadores. O PIB desacelerou (0,9% face a 1,7% no 1T2015), o investimento caiu, as exportações abrandaram e as contas externas estão desequilibradas. A situação orçamental, é sabido, deteriorou-se e o relatório e os dados do Boletim Económico de Maio do Banco de Portugal apontam para um agravamento do défice. 

Os fieis da geringonça dirão que a conjuntura foi favorável ao anterior governo, sem entender a importância de seguir uma estratégia económica que tarda em ser emanada da Horta Seca. A verdade é que os problemas no norte de África permanecem, a competitividade da China continua a diminuir e agora também destinos como Paris e Londres estão a perder turistas para o mercado português.

Diz-se que para bom entendedor, meia palavra basta. Poucos percebem, porém, que não basta haver uma conjuntura favorável, é preciso uma estratégia e uma equipa que permita aproveitá-la, transmitindo credibilidade a investidores e segurança aos clientes (para podermos exportar). Fazendo uma analogia com o futebol, tanto Augusto Inácio como José Mourinho foram adjuntos de Bobby Robson. Só um chegou ao Manchester United.

O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.

00:05 h
José Carmo, Economista
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