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Política em tempos de geringonça
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Política em tempos de geringonça
É certo que é um complexo jogo de cinismo, mas haverá atividade mais propícia a cinismos do que a política?
Caiu o Carmo e a Trindade, com o discurso de Mariana Mortágua que apelava a que o Estado não tivesse pudor em ir buscar dinheiro a quem acumula riqueza. Potenciados pelos campos de batalha das redes sociais, levantaram-se os exércitos das ideologias. “Malandra, filha de pai terrorista que quer roubar a classe média”, gritaram os guerrilheiros de direita. “Mulher de Justiça que tira à meia dúzia de ricos do país para dar aos muitos pobres”, dispararam os comandos revolucionários da esquerda.
Não entro em histerias de direita ou esquerda. Política em tempos de geringonça é isto. António Costa e os seus domadores de esquerdistas terão de roçar o brilhantismo político para conseguir o dificílimo equilíbrio entre governar um país da UE e aguentar os ímpetos de ideologia dos parceiros de extrema-esquerda que suportam o seu Governo. Só com um enorme jogo de cintura se consegue dizer que se está convictamente no euro, que se acredita na iniciativa privada e se deseja investimento de estrangeiros ricos e, ao mesmo tempo, dar estatuto de porta-voz a representantes do BE. É certo que é um complexo jogo de cinismo, mas haverá atividade mais propícia a cinismos do que a política? Esta é a política possível para um Governo que, por opção própria, decidiu embarcar nesta aventura, numa democracia degradada que não está em condições de formar maiorias coerentes e estáveis.
Se o PS não deixar Catarina Martins declamar os seus lirismos ideológicos ou Mariana Mortágua mostrar-nos o seu MBA em fiscalidade revolucionária, então o Bloco fica sem as causas que lhe restam e desaparece, pois quase todas as restantes (aborto, minorias, ambiente, etc.) já foram, mais ou menos, assumidas pelos partidos do sistema. Se o BE constatar que se está a apagar, então arrastará também consigo o Governo.
No meio deste baloiço, tem cabido ao PCP o papel de moderador. Procuram manter a conhecida “cassete” de uma espécie em vias de extinção e, ora dão um puxão de orelhas no Governo, ora se assumem como um travão aos extremismos do BE.
É, de facto, difícil e indesejável governar assim. Se o anúncio de Mortágua estiver correto, chegaremos ao ridículo de criar um imposto puramente ideológico, ou seja, demagógico – num país que, obviamente, não aguenta mais carga fiscal sobre ninguém.
Será interessante continuar a acompanhar o “malabarismo” de António Costa neste trapézio sem rede. Esperemos que não tenha custos irremediáveis para os portugueses. Estou convencido de que, em última instância, as palavras do Presidente Marcelo prevalecerão: a realidade será sempre mais forte do que a ideologia.
Francisco Proença de Carvalho, Advogado
03:35
Jornal Económico
Caiu o Carmo e a Trindade, com o discurso de Mariana Mortágua que apelava a que o Estado não tivesse pudor em ir buscar dinheiro a quem acumula riqueza. Potenciados pelos campos de batalha das redes sociais, levantaram-se os exércitos das ideologias. “Malandra, filha de pai terrorista que quer roubar a classe média”, gritaram os guerrilheiros de direita. “Mulher de Justiça que tira à meia dúzia de ricos do país para dar aos muitos pobres”, dispararam os comandos revolucionários da esquerda.
Não entro em histerias de direita ou esquerda. Política em tempos de geringonça é isto. António Costa e os seus domadores de esquerdistas terão de roçar o brilhantismo político para conseguir o dificílimo equilíbrio entre governar um país da UE e aguentar os ímpetos de ideologia dos parceiros de extrema-esquerda que suportam o seu Governo. Só com um enorme jogo de cintura se consegue dizer que se está convictamente no euro, que se acredita na iniciativa privada e se deseja investimento de estrangeiros ricos e, ao mesmo tempo, dar estatuto de porta-voz a representantes do BE. É certo que é um complexo jogo de cinismo, mas haverá atividade mais propícia a cinismos do que a política? Esta é a política possível para um Governo que, por opção própria, decidiu embarcar nesta aventura, numa democracia degradada que não está em condições de formar maiorias coerentes e estáveis.
Se o PS não deixar Catarina Martins declamar os seus lirismos ideológicos ou Mariana Mortágua mostrar-nos o seu MBA em fiscalidade revolucionária, então o Bloco fica sem as causas que lhe restam e desaparece, pois quase todas as restantes (aborto, minorias, ambiente, etc.) já foram, mais ou menos, assumidas pelos partidos do sistema. Se o BE constatar que se está a apagar, então arrastará também consigo o Governo.
No meio deste baloiço, tem cabido ao PCP o papel de moderador. Procuram manter a conhecida “cassete” de uma espécie em vias de extinção e, ora dão um puxão de orelhas no Governo, ora se assumem como um travão aos extremismos do BE.
É, de facto, difícil e indesejável governar assim. Se o anúncio de Mortágua estiver correto, chegaremos ao ridículo de criar um imposto puramente ideológico, ou seja, demagógico – num país que, obviamente, não aguenta mais carga fiscal sobre ninguém.
Será interessante continuar a acompanhar o “malabarismo” de António Costa neste trapézio sem rede. Esperemos que não tenha custos irremediáveis para os portugueses. Estou convencido de que, em última instância, as palavras do Presidente Marcelo prevalecerão: a realidade será sempre mais forte do que a ideologia.
Francisco Proença de Carvalho, Advogado
03:35
Jornal Económico
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