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Portugal precisa de ‘reset’ intelectual
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Portugal precisa de ‘reset’ intelectual
Em Portugal, a desordem intelectual radica em características idiossincráticas e seculares do país, que nenhum governo conseguiu ou quis enfrentar com decisões corajosas, e em problemas alimentados durante 40 anos de ilusão sobre o potencial produtivo do país para sustentar o Estado social.
A ideia de que as sociedades humanas organizadas em nações são um organismo coletivo, um ser biológico, e a consequente visão da história como um “complexo inextricável dos instinctos animaes dos povos” haviam sido expressas pelo historiador Guilherme de Oliveira Martins em 1885 no livro Política e Economia Nacional.
Trinta e quatro anos depois de Oliveira Martins, o poeta Fernando Pessoa, que também foi gestor, contabilista e jornalista, irá especular em artigos para várias publicações de negócios sobre a ideia da sociedade e da empresa como organismo biológico. Pessoa começa por analisar a origem da palavra “organizar”. Explica que a palavra é aparentada com o termo “organismo”. Organizar é, pois, fazer de qualquer coisa “uma entidade que se assemelhe a um organismo, e como ele funcione”.
“O termo [organismo] é biológico, e aplica-se àqueles entes vivos em que se dá determinada complexidade de estrutura e uma concomitante complexidade de funções”, explica Pessoa, que introduz depois a noção darwiniana de evolução: “Um organismo vital complexo formou-se, no decurso do que se chama “evolução”, por aquilo que os biólogos denominam ‘diferenciação’, isto é, a formação – lenta e confusa no tempo, definida nos seus resultados últimos – de órgãos especiais, cada um para uma função especial, e concorrendo todos, cada um adentro da sua função, para a manutenção da vida do organismo no seu conjunto.”
O corolário da ideia de nação como um organismo biológico é, para Pessoa, a empresa como uma emanação biológica, o resultado da interacção de um conjunto de organismos que é preciso organizar “numa hierarquia de funções”, no que é “essencialmente, um fenómeno intelectual [...] um trabalho de inteligência”. Pessoa era um admirador de Henry Ford, e propõe organizar a sociedade em moldes idênticos aos que Ford tinha desenvolvido na produção industrial de carros, com a especialização de funções ao longo da linha de montagem.
Da visão biológica da empresa e da sociedade, Pessoa avança para a noção de organização da informação do “conjunto nacional” enquanto elemento necessário ao desenvolvimento do progresso. Não bastava a organização natural biológica. Importava também descobrir o “sentido concreto” da necessidade de organizar a nação. O progresso de Portugal exigia que o comércio e a indústria tivessem “organização como conjunto nacional” e da “sociedade portuguesa”. Todavia, para ser realizado, aquele necessita da “indústria da organização”, envolvendo “a organização da produção artística e literária, a organização do ensino, e a organização das indústrias da publicidade, informação e editoria”.
A visão biológica de Pessoa pode ser vista como próxima da do economista liberal austríaco Friedrich von Hayek – contemporâneo mas talvez desconhecido de Pessoa –, também ele um «organísmico», no que respeita à divisão do conhecimento e a uma “ordem geradora de conhecimento” (‘knowledge generating order’).
A desordem intelectual das elites democráticas resultante do impacto do populismo, da demagogia e da mentira da extrema-direita e da esquerda radical sobre eleitores confusos e receosos quanto ao seu futuro e dos seus filhos está presente no Reino Unido pós-referendo e em França pós-atentados. Em Portugal, a desordem intelectual é mais antiga. As raízes radicam em características idiossincráticas e seculares de Portugal, que nenhum governo conseguiu ou quis enfrentar com palavras claras e decisões corajosas, e em problemas alimentados durante 40 anos de ilusão sobre o potencial produtivo do país para sustentar o Estado social.
As idiossincrasias portuguesas não têm a ver com a predileção pelo bacalhau ou pelo vinho verde. Têm a ver com a super estrutura ideológica e a praxis social. Os seus efeitos refletem-se na enorme escassez de capital social (confiança entre as pessoas e destas nas instituições); na incapacidade para resolver a perene falta de capital financeiro (público e privado); na deficiente e reduzida escala da educação formal (analfabetismo ainda não erradicado, falta de competências para gerir o Estado e empresas, e para aumentar a produtividade); na “demeritocracia” que resulta em elites débeis e líderes apenas nominais nos mais diversos níveis; na ausência de um conceito genérico para o que é e o que poderá ser Portugal – um passado, presente e futuro compreendido e aceite pela maioria dos portugueses.
Os portugueses querem que os poderes criem condições ("uma ordem geradora") para o desenvolvimento de oportunidades para a aplicação de conhecimento, energia, criatividade individual e recursos privados em atividades produtivas e rentáveis, (fiscalidade inteligente, não tributação de lucros nos primeiros anos de uma empresa, etc.), que adoptem políticas sóbrias, transparentes, sérias, bem informadas, pragmáticas, inclusivas, através da cooperação, do compromisso e da solicitude entre Estado, empresas, instituições e cidadãos na sua atividade diária.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Nota: Este artigo inclui extratos do texto "i-Pátio", do mesmo autor, publicado em "Media, Redes e Comunicação: Futuros Presentes”, Obercom, Dezembro 2009
00:05 h
Nuno Cintra Torres, Investigador e Professor Universitário
Económico
A ideia de que as sociedades humanas organizadas em nações são um organismo coletivo, um ser biológico, e a consequente visão da história como um “complexo inextricável dos instinctos animaes dos povos” haviam sido expressas pelo historiador Guilherme de Oliveira Martins em 1885 no livro Política e Economia Nacional.
Trinta e quatro anos depois de Oliveira Martins, o poeta Fernando Pessoa, que também foi gestor, contabilista e jornalista, irá especular em artigos para várias publicações de negócios sobre a ideia da sociedade e da empresa como organismo biológico. Pessoa começa por analisar a origem da palavra “organizar”. Explica que a palavra é aparentada com o termo “organismo”. Organizar é, pois, fazer de qualquer coisa “uma entidade que se assemelhe a um organismo, e como ele funcione”.
“O termo [organismo] é biológico, e aplica-se àqueles entes vivos em que se dá determinada complexidade de estrutura e uma concomitante complexidade de funções”, explica Pessoa, que introduz depois a noção darwiniana de evolução: “Um organismo vital complexo formou-se, no decurso do que se chama “evolução”, por aquilo que os biólogos denominam ‘diferenciação’, isto é, a formação – lenta e confusa no tempo, definida nos seus resultados últimos – de órgãos especiais, cada um para uma função especial, e concorrendo todos, cada um adentro da sua função, para a manutenção da vida do organismo no seu conjunto.”
O corolário da ideia de nação como um organismo biológico é, para Pessoa, a empresa como uma emanação biológica, o resultado da interacção de um conjunto de organismos que é preciso organizar “numa hierarquia de funções”, no que é “essencialmente, um fenómeno intelectual [...] um trabalho de inteligência”. Pessoa era um admirador de Henry Ford, e propõe organizar a sociedade em moldes idênticos aos que Ford tinha desenvolvido na produção industrial de carros, com a especialização de funções ao longo da linha de montagem.
Da visão biológica da empresa e da sociedade, Pessoa avança para a noção de organização da informação do “conjunto nacional” enquanto elemento necessário ao desenvolvimento do progresso. Não bastava a organização natural biológica. Importava também descobrir o “sentido concreto” da necessidade de organizar a nação. O progresso de Portugal exigia que o comércio e a indústria tivessem “organização como conjunto nacional” e da “sociedade portuguesa”. Todavia, para ser realizado, aquele necessita da “indústria da organização”, envolvendo “a organização da produção artística e literária, a organização do ensino, e a organização das indústrias da publicidade, informação e editoria”.
A visão biológica de Pessoa pode ser vista como próxima da do economista liberal austríaco Friedrich von Hayek – contemporâneo mas talvez desconhecido de Pessoa –, também ele um «organísmico», no que respeita à divisão do conhecimento e a uma “ordem geradora de conhecimento” (‘knowledge generating order’).
A desordem intelectual das elites democráticas resultante do impacto do populismo, da demagogia e da mentira da extrema-direita e da esquerda radical sobre eleitores confusos e receosos quanto ao seu futuro e dos seus filhos está presente no Reino Unido pós-referendo e em França pós-atentados. Em Portugal, a desordem intelectual é mais antiga. As raízes radicam em características idiossincráticas e seculares de Portugal, que nenhum governo conseguiu ou quis enfrentar com palavras claras e decisões corajosas, e em problemas alimentados durante 40 anos de ilusão sobre o potencial produtivo do país para sustentar o Estado social.
As idiossincrasias portuguesas não têm a ver com a predileção pelo bacalhau ou pelo vinho verde. Têm a ver com a super estrutura ideológica e a praxis social. Os seus efeitos refletem-se na enorme escassez de capital social (confiança entre as pessoas e destas nas instituições); na incapacidade para resolver a perene falta de capital financeiro (público e privado); na deficiente e reduzida escala da educação formal (analfabetismo ainda não erradicado, falta de competências para gerir o Estado e empresas, e para aumentar a produtividade); na “demeritocracia” que resulta em elites débeis e líderes apenas nominais nos mais diversos níveis; na ausência de um conceito genérico para o que é e o que poderá ser Portugal – um passado, presente e futuro compreendido e aceite pela maioria dos portugueses.
Os portugueses querem que os poderes criem condições ("uma ordem geradora") para o desenvolvimento de oportunidades para a aplicação de conhecimento, energia, criatividade individual e recursos privados em atividades produtivas e rentáveis, (fiscalidade inteligente, não tributação de lucros nos primeiros anos de uma empresa, etc.), que adoptem políticas sóbrias, transparentes, sérias, bem informadas, pragmáticas, inclusivas, através da cooperação, do compromisso e da solicitude entre Estado, empresas, instituições e cidadãos na sua atividade diária.
O autor escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Nota: Este artigo inclui extratos do texto "i-Pátio", do mesmo autor, publicado em "Media, Redes e Comunicação: Futuros Presentes”, Obercom, Dezembro 2009
00:05 h
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