Aeroporto

Lisboa, Dezembro de 1994. Telefone de moedas: “penso que não atrasa pelo que devo chegar por volta da meia-noite. O tempo aí tá bom?”; “tá bom”; “sim, sim, mesmo quando tá vento e nevoeiro dizem que tá bom”; “tá bom, não tem problema. Até logo”. O aeroporto está cheio de gente, o avião também vai cheio; nos lugares de trás tudo a fumar. Um grupinho de continentais canta e ri. Um até toca uma viola. “Pera aí que já guinchas”. Começa a descida. 

Narizes encostados às janelas: “Ó Rui, olha lá se já vês o aeroporto”; “é aquilo ali???”; “vamos aterrar em cima daquilo???” “isto tá a abanar muito” (não disse que já guinchavam? Ah como é lixado ser ilhéu).

Faz a curva e abana cada vez mais. Tudo calado. Tá quase. Olha sempre em frente “Saída/Exit”. Tá quase. Já passou a torre? Trava a fundo. O velho do lado enfia os braços no banco da frente porque ia a dormir (como é possível dormir dentro de um avião?). Palmas, muitas palmas. Ufa, esta já está, faltam 14, tantas quanto os calmantes que tirei à minha bisavó (3 aterragens em 5 anos de curso). Sim, eu contei-as porque um qualquer falhanço em exame ou prova oral era igual a mais uma. Nunca aconteceu. Foi tudo seguido e sem falhas. E depois das 15 aterragens, aeroporto novo. Obra maravilhosa, extraordinária. Já não são precisos calmantes. Este aeroporto é a maior porta desta Região e permite a melhor forma de comunicação com o Mundo lá fora.

Ora, o Desporto em geral e o Futebol em particular também é forma de afirmação da Região, principalmente quando se trata de uma ilha como a nossa. Nem falo no retorno económico existente no Futebol que é um excelente “negócio” para a Região. Isso é óbvio. A Islândia percebeu muito bem a importância do Desporto em geral e do Futebol em particular para quem vive numa ilha e mesmo em crise fez um grande investimento. Devido a isso, o resultado no Euro 2016 não foi uma surpresa para todos. Muitas vezes é pelo Desporto que os jovens conseguem ter um primeiro contacto com o que existe fora da ilha. Só no Nacional, por exemplo, existem cerca de 700 jovens no Futebol e mais outros 700 jovens nas restantes modalidades. Praticamente todas as semanas existem equipas de miúdos a viajar ou alguns atletas de outras modalidades em competição fora da ilha. Por isso, acho boa ideia dar ao Aeroporto o nome do Cristiano Ronaldo (Madeirense, actual melhor jogador do Mundo, Melhor jogador português de todos os tempos, sem qualquer dúvida). São duas “portas” (o avião e o futebol) que ficam mais abertas. Mas compreendo e respeito algumas críticas de quem não pensa assim. O que não compreendo é a aversão de determinados indivíduos ao Futebol (e eu até estou nas modalidades amadoras do Clube). Não encontro explicação para apoucar o Futebol e classificar esse desporto belo e simples como fenómeno “terceiro-mundista”, próprio de países pobres (lembro que a Alemanha é a campeã do Mundo). Talvez só o Manuel Alegre consiga explicar da melhor forma esse constante desdenhar de alguns: “No recreio, eram os últimos escolhidos para a equipa, por vezes depois das meninas...”.

Pedro Mota Jurista
Diário de Notícias da Madeira 
Segunda, 1 de Agosto de 2016