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Sol, vistas e manias
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Sol, vistas e manias
O caso do "sol e das vistas" que passariam, "agora", a ser taxados no IMI é só mais um num rol de "factos" sem qualquer consubstanciação propalados pelos media - os tradicionais e os ditos sociais - e por um não acabar de cabeças falantes. É falso? Não faz mal: dá manchetes com muitos cliques e para escrever "crónicas" superdivertidas. Já explicar a verdade - que o critério de avaliação em causa, certo ou errado, existe há anos e os partidos (PSD e CDS) que ora rasgam as vestes o aprovaram - é chato e não faz rir (é triste, até).
Por coincidência, li nesta semana na Granta um artigo intitulado "Why we are post-fact" - Porque somos pós-facto. O autor, Peter Pomerantsev, começa por relatar como Putin foi à TV, na semana em que anexou a Crimeia, dizer que não havia soldados seus na Ucrânia: "Não estava só a mentir, estava a dizer que a verdade não interessa." E prossegue: "Quando Trump inventa factos a seu bel-prazer (...) quando se verifica que 78% do que diz é mentira mas mesmo assim é candidato presidencial - então parece que os factos já não importam muito na terra dos livres." Na terra dos livres (EUA) e em todo o lado: de seguida Pomerantsev refere a campanha do brexit, que desmentiu as suas promessas na manhã seguinte ao referendo. "É óbvio que estamos a viver na era pós-facto ou pós-verdade", conclui. "Não meramente um mundo em que os políticos e os media mentem - sempre mentiram - mas no qual não se importam com estarem ou não a mentir." E não se importam porque ninguém - a começar pelos jornalistas - parece importar-se.
Como é que chegámos aqui, e ainda mais quando é fácil, em muitos casos, verificar por nós próprios (googlando) se algo é falso ou verdadeiro? Pomerantsev fala de uma "escola de pensamento" na qual se perverteu a máxima de Nietzsche "não há factos, só interpretações" de modo a significar que "as mentiras podem ser desculpadas como "um ponto de vista" ou "uma opinião" porque "tudo é relativo" e "toda a gente tem a sua verdade"". Um pensamento que determina que quanto menos "se complique" - e não há como a verdade para complicar - melhor. Dir-se-ia, aliás, que a maioria prefere uma "informação" que lhe corrobore os preconceitos, substituindo a adesão racional pela emocional.
Uma escola que tem por cá ilustríssimos seguidores, de alguns dos mais lidos cronistas ao mais lido dos diários. Ai o cronista escreve mentiras? Não interessa, "é a opinião dele" - e "as pessoas gostam". Ai o título não coincide com o que está na notícia? Eh pá, se pusermos a verdade no título ninguém lê. Acusámos a pessoa e nem a ouvimos? Ela que nos ponha em tribunal - se tiver dinheiro para isso e se atrever a ser vista como inimiga da liberdade de expressão. O sucesso desta "escola de pensamento" é tal, de resto, que já estamos no ponto em que quem passa por maluquinho é quem se encarniça em, apresentando factos, denunciar mentiras. Como se a verdade fosse uma espécie - particularmente pouco sexy - de mania.
05 DE AGOSTO DE 2016
00:01
Fernanda Câncio
Diário de Notícias
Por coincidência, li nesta semana na Granta um artigo intitulado "Why we are post-fact" - Porque somos pós-facto. O autor, Peter Pomerantsev, começa por relatar como Putin foi à TV, na semana em que anexou a Crimeia, dizer que não havia soldados seus na Ucrânia: "Não estava só a mentir, estava a dizer que a verdade não interessa." E prossegue: "Quando Trump inventa factos a seu bel-prazer (...) quando se verifica que 78% do que diz é mentira mas mesmo assim é candidato presidencial - então parece que os factos já não importam muito na terra dos livres." Na terra dos livres (EUA) e em todo o lado: de seguida Pomerantsev refere a campanha do brexit, que desmentiu as suas promessas na manhã seguinte ao referendo. "É óbvio que estamos a viver na era pós-facto ou pós-verdade", conclui. "Não meramente um mundo em que os políticos e os media mentem - sempre mentiram - mas no qual não se importam com estarem ou não a mentir." E não se importam porque ninguém - a começar pelos jornalistas - parece importar-se.
Como é que chegámos aqui, e ainda mais quando é fácil, em muitos casos, verificar por nós próprios (googlando) se algo é falso ou verdadeiro? Pomerantsev fala de uma "escola de pensamento" na qual se perverteu a máxima de Nietzsche "não há factos, só interpretações" de modo a significar que "as mentiras podem ser desculpadas como "um ponto de vista" ou "uma opinião" porque "tudo é relativo" e "toda a gente tem a sua verdade"". Um pensamento que determina que quanto menos "se complique" - e não há como a verdade para complicar - melhor. Dir-se-ia, aliás, que a maioria prefere uma "informação" que lhe corrobore os preconceitos, substituindo a adesão racional pela emocional.
Uma escola que tem por cá ilustríssimos seguidores, de alguns dos mais lidos cronistas ao mais lido dos diários. Ai o cronista escreve mentiras? Não interessa, "é a opinião dele" - e "as pessoas gostam". Ai o título não coincide com o que está na notícia? Eh pá, se pusermos a verdade no título ninguém lê. Acusámos a pessoa e nem a ouvimos? Ela que nos ponha em tribunal - se tiver dinheiro para isso e se atrever a ser vista como inimiga da liberdade de expressão. O sucesso desta "escola de pensamento" é tal, de resto, que já estamos no ponto em que quem passa por maluquinho é quem se encarniça em, apresentando factos, denunciar mentiras. Como se a verdade fosse uma espécie - particularmente pouco sexy - de mania.
05 DE AGOSTO DE 2016
00:01
Fernanda Câncio
Diário de Notícias
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