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Sines
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Sines
Pela primeira vez na história, o Porto de Sines faz parte dos cem portos mundiais que movimentam mais contentores, hierarquia dominada pelas infraestruturas chinesas. Na Europa, Sines está em 17.º lugar, tendo sido o porto, entre os vinte primeiros, com maior aumento de carga entre 2014 e 2015 (8%). No quadro peninsular, só Algeciras e Valência apresentam melhores resultados em total de mercadorias mobilizadas. A sua localização geográfica liga-o semanalmente a 73 países, 173 portos, percorrendo 23 linhas regulares de navegação, tendo 68% da carga distribuída enquanto hub mundial concentrada na Europa e na América do Norte e Central, numa gestão exemplar que colocou a empresa crescentemente sustentável e sem necessidade de recorrer à banca.
Vale a pena aprofundar um pouco mais. 80% da atividade de Sines é transferência de carga, em trânsito, de um navio para outro, com estada intermédia no cais (transhipment), e à medida que o mercado internacional cresce, o porto português necessita de acompanhar a dinâmica global para não perder competitividade. O facto de 60% da frota europeia passar pela nossa costa, a posição no mercado atlântico de contentores e dado que tem o único terminal de GNL em Portugal, tornam o complexo portuário estratégico para a economia portuguesa, colocando--se ainda na linha da frente de uma possível rota de exportação do gás de xisto americano, dado que dos doze terminais da UE, sete estão na Península Ibérica, um deles em Sines. Se essa estratégica nos afirmar no Atlântico, podemos aliar geografia, logística e capacidade política no contexto da União Europeia, reposicionando-nos enquanto médio Estado e como alternativa à dependência energética europeia do regime autoritário russo.
Mas Sines não pode ser dissociado de uma leitura mais alargada sobre infraestruturas portuárias, segurança marítima e comércio contemporâneo. Se as longas guerras territoriais (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria) esconderam a importância das faixas costeiras, através de rotas que perfazem 90% do comércio global, a verdade é que tem sido nas zonas litorais que o crescimento demográfico, as alterações climáticas, a elevação dos níveis do mar, a escassez de água potável e os extremismos políticos têm feito sentir-se, sobretudo no cruzamento entre o Índico e o Pacífico Ocidental. Esta alteração gradual do poder não poderia surgir numa época mais turbulenta dos territórios que ladeiam as duas metades do Índico, o mar Arábico e o golfo de Bengala. Além disso, o futuro político do mundo islâmico, num arco que vai da Somália à Indonésia, permanece alvo de incerteza. Além de ser próxima do Índico, é uma região caracterizada por instituições tíbias, infraestruturas débeis e populações jovens e inquietas seduzidas pelo extremismo, numa geografia que abrange o mar Vermelho, o mar Arábico, o golfo de Bengala e os mares de Java e do Sul da China. Nestes situam-se os Estados violentos e famintos do Corno de África, os desafios geopolíticos do Iraque e do Irão, o caldeirão fundamentalista fissurado do Paquistão, a Índia emergente e os vizinhos Sri Lanka e Bangladesh, a Birmânia em transformação (onde concorrem China, Índia e EUA) a Tailândia, onde a China quer ligar o golfo da Tailândia ao mar de Andaman através do canal Kra, e o estratégico porto de Gwadar no Paquistão. No Índico também se encontram as principais rotas de transporte de petróleo, como os pontos de estrangulamento da navegação do comércio mundial - estreitos de Bab el Mandeb, Ormuz e Malaca: 40% dos hidrocarbonetos passam por Ormuz e 50% das frotas mercantes circulam por Malaca, tornando o Índico o mais ocupado ponto interestadual do globo. Além disso, conta com 70% do tráfego de produtos petrolíferos para todo o mundo, e como a procura mundial de energia crescerá 50% até 2030 e mais de metade desse consumo virá da Índia e da China, percebemos o potencial de sobre-esgotamento destas rotas tradicionais.
Esta dinâmica de integração comercial global tem levado vários países do Atlântico a modernizarem e expandirem as suas infraestruturas aeroportuárias, terrestres ou marítimas, como o canal do Panamá, Lobito, em Angola, Walvis Bay, na Namíbia, e Tanger-Med, em Marrocos. A concorrência entre grandes plataformas da logística mundial mostra como no Atlântico se percebem os riscos de falhar o roteiro da globalização e integrar os fluxos económicos e financeiros internacionais. Sines é a chave para Portugal se consolidar em todos estes eixos e fortalecer-se na Europa.
18 DE AGOSTO DE 2016
00:01
Bernardo Pires de Lima
Diário de Notícias
Vale a pena aprofundar um pouco mais. 80% da atividade de Sines é transferência de carga, em trânsito, de um navio para outro, com estada intermédia no cais (transhipment), e à medida que o mercado internacional cresce, o porto português necessita de acompanhar a dinâmica global para não perder competitividade. O facto de 60% da frota europeia passar pela nossa costa, a posição no mercado atlântico de contentores e dado que tem o único terminal de GNL em Portugal, tornam o complexo portuário estratégico para a economia portuguesa, colocando--se ainda na linha da frente de uma possível rota de exportação do gás de xisto americano, dado que dos doze terminais da UE, sete estão na Península Ibérica, um deles em Sines. Se essa estratégica nos afirmar no Atlântico, podemos aliar geografia, logística e capacidade política no contexto da União Europeia, reposicionando-nos enquanto médio Estado e como alternativa à dependência energética europeia do regime autoritário russo.
Mas Sines não pode ser dissociado de uma leitura mais alargada sobre infraestruturas portuárias, segurança marítima e comércio contemporâneo. Se as longas guerras territoriais (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria) esconderam a importância das faixas costeiras, através de rotas que perfazem 90% do comércio global, a verdade é que tem sido nas zonas litorais que o crescimento demográfico, as alterações climáticas, a elevação dos níveis do mar, a escassez de água potável e os extremismos políticos têm feito sentir-se, sobretudo no cruzamento entre o Índico e o Pacífico Ocidental. Esta alteração gradual do poder não poderia surgir numa época mais turbulenta dos territórios que ladeiam as duas metades do Índico, o mar Arábico e o golfo de Bengala. Além disso, o futuro político do mundo islâmico, num arco que vai da Somália à Indonésia, permanece alvo de incerteza. Além de ser próxima do Índico, é uma região caracterizada por instituições tíbias, infraestruturas débeis e populações jovens e inquietas seduzidas pelo extremismo, numa geografia que abrange o mar Vermelho, o mar Arábico, o golfo de Bengala e os mares de Java e do Sul da China. Nestes situam-se os Estados violentos e famintos do Corno de África, os desafios geopolíticos do Iraque e do Irão, o caldeirão fundamentalista fissurado do Paquistão, a Índia emergente e os vizinhos Sri Lanka e Bangladesh, a Birmânia em transformação (onde concorrem China, Índia e EUA) a Tailândia, onde a China quer ligar o golfo da Tailândia ao mar de Andaman através do canal Kra, e o estratégico porto de Gwadar no Paquistão. No Índico também se encontram as principais rotas de transporte de petróleo, como os pontos de estrangulamento da navegação do comércio mundial - estreitos de Bab el Mandeb, Ormuz e Malaca: 40% dos hidrocarbonetos passam por Ormuz e 50% das frotas mercantes circulam por Malaca, tornando o Índico o mais ocupado ponto interestadual do globo. Além disso, conta com 70% do tráfego de produtos petrolíferos para todo o mundo, e como a procura mundial de energia crescerá 50% até 2030 e mais de metade desse consumo virá da Índia e da China, percebemos o potencial de sobre-esgotamento destas rotas tradicionais.
Esta dinâmica de integração comercial global tem levado vários países do Atlântico a modernizarem e expandirem as suas infraestruturas aeroportuárias, terrestres ou marítimas, como o canal do Panamá, Lobito, em Angola, Walvis Bay, na Namíbia, e Tanger-Med, em Marrocos. A concorrência entre grandes plataformas da logística mundial mostra como no Atlântico se percebem os riscos de falhar o roteiro da globalização e integrar os fluxos económicos e financeiros internacionais. Sines é a chave para Portugal se consolidar em todos estes eixos e fortalecer-se na Europa.
18 DE AGOSTO DE 2016
00:01
Bernardo Pires de Lima
Diário de Notícias
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