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Como parar o terrorismo na Europa
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Como parar o terrorismo na Europa
Nenhuma medida de segurança interna - muito menos exigências de vestuário - pode garantir a segurança da Europa. Para encontrar uma solução real, os líderes europeus devem abordar as raízes ideológicas dos desafios de segurança que enfrentam.
A Europa está sob pressão. A integração dos requerentes de asilo e outros migrantes - 1,1 milhões na Alemanha, só em 2015 - na sociedade europeia representa um grande desafio, que foi complicado por um aumento dos crimes cometidos pelos recém-chegados. Para piorar as coisas, muitos muçulmanos europeus tornaram-se radicais, com alguns a mudarem-se para o Iraque e para a Síria para lutarem sob a bandeira do chamado Estado Islâmico, e outros a realizarem ataques terroristas em casa. Acrescente-se a isto a retórica nativista muitas vezes incendiária de líderes políticos populistas, e a narrativa dominante na Europa é cada vez mais de crescente insegurança.
Muitos países europeus estão a reforçar a segurança interna. Mas a sua abordagem é incompleta, na melhor das hipóteses.
A Alemanha e outros países introduziram novas medidas, incluindo um aumento do número de polícias, a deportação acelerada de migrantes que cometeram crimes, e a autoridade para retirar a cidadania alemã àqueles que se juntam a "milícias terroristas" estrangeiras. Outros passos incluem o reforço da vigilância de locais públicos e a criação de novas unidades concentradas na identificação de potenciais terroristas através das suas actividades na internet.
A pressão para tranquilizar o público levou a Bélgica, Bulgária, França e Holanda, bem como a região suíça de Ticino e a região italiana da Lombardia a proibir a burca (a indumentária que cobre totalmente o corpo, usada por mulheres muçulmanas ultraconservadoras) e outros véus para cobrir o rosto, em alguns ou todos os locais públicos. Várias cidades costeiras francesas também proibiram os burquíni, os fatos de banho de corpo inteiro que algumas mulheres muçulmanas usam na praia.
Mesmo a Alemanha, cujo ministro do Interior Thomas de Maizière rejeitou inicialmente tal proibição, sucumbiu à pressão dos aliados da chanceler Angela Merkel e propôs a proibição do véu em lugares públicos onde é exigida a identificação. É lógico que esse tipo de vestuário não propicia a integração.
Mas nenhuma medida de segurança interna - muito menos exigências de vestuário - pode garantir a segurança da Europa. Para encontrar uma solução real, os líderes europeus devem abordar as raízes ideológicas dos desafios de segurança que enfrentam.
O problema não é o Islão, como muitos populistas reivindicam (e como as proibições da burca e do burquíni sugerem). Os muçulmanos têm feito parte da sociedade europeia, representando cerca de 4% da população total da Europa, em 1990, e 6% em 2010. E vagas anteriores de imigração de países muçulmanos não trouxeram um aumento das actividades terroristas dentro das fronteiras da Europa. Por exemplo, começando na década de 1960, cerca de três milhões de migrantes provenientes da Turquia estabeleceram-se na Alemanha para responder ao aumento da procura de mão-de-obra, sem representarem qualquer ameaça à segurança interna.
Hoje, essa ameaça resulta do islamismo radical - uma visão fundamentalista da sociedade reordenada de acordo com a lei da Sharia. Além do sofrimento indescritível e da violência, muitos refugiados de hoje, vindos de países em guerra como o Iraque e a Síria, têm absorvido a ideologia islâmica radical e, especificamente, os apelos para a jihad. Alguns podem ser soldados do Estado islâmico que se disfarçam de requerentes de asilo com o objectivo de realizar ataques terroristas na Europa. As serviços de inteligência dos EUA têm alertado repetidamente para essa possibilidade.
Mesmo para a maioria dos requerentes de asilo, que procuram verdadeiramente a segurança, a violência e a retórica islâmica às quais foram expostos podem ter tido um impacto psicológico poderoso. Depois de viver tanto tempo numa zona de conflito, a integração numa sociedade pacífica governada pelo Estado de direito exige que os recém-chegados desenvolvam uma nova mentalidade, que lhes permita enfrentar os desafios sem recorrer à criminalidade.
Além disso, há as cicatrizes psicológicas profundas que afligem muitos dos refugiados. Estudos indicam que mais de 50% dos homens e mulheres que viveram em zonas de guerra sofrem de desordem de stress pós-traumático, que está associado com um aumento do risco de violência.
Para muitos na Europa, esses factores sugerem que a chave para manter a segurança da Europa está em controlar o fluxo de refugiados, incluindo através de procedimentos de habilitação melhorados. (Tais procedimentos têm sido muitas vezes inexistentes, devido ao grande número de refugiados). E há argumentos para manter os refugiados no Médio Oriente, apesar de um mecanismo-chave para o fazer – o acordo da União Europeia com a Turquia - estar agora em risco, devido à turbulência política decorrente do golpe fracassado do mês passado contra o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Mas nem mesmo a construção de uma fortaleza europeia eliminaria a ameaça terrorista. Afinal, alguns ataques, incluindo os de Bruxelas e Paris, foram realizados por cidadãos europeus muçulmanos que se radicalizaram nos seus próprios quartos. De acordo com Rob Wainwright, que dirige a Europol, cerca de 5.000 jihadistas europeus foram para a Síria e para o Iraque, e "várias centenas" estarão provavelmente a planear novos ataques na Europa depois de voltarem para casa.
A única maneira eficaz de lidar com a ameaça do terrorismo é combater a ideologia islâmica radical que a sustenta. Isso significa trabalhar no sentido de impedir que os complexos "religiosos-industriais" na Arábia Saudita, Qatar e outros lugares do Golfo usem os seus abundantes petrodólares para financiar a disseminação da ideologia extremista.
Significa, também, lançar uma campanha de informação concertada para desacreditar essa ideologia, como o Ocidente desacreditou o comunismo durante a Guerra Fria - uma componente fundamental do seu eventual triunfo. Este é um trabalho para todos os grandes poderes, mas é uma tarefa particularmente urgente para a Europa, dada a sua proximidade com o Médio Oriente, especialmente com as novas fortalezas jihadistas que países como a Síria, o Iraque e a Líbia representam.
Para derrubar os terroristas é preciso deslegitimar o sistema de crença que justifica as suas acções. A proibição da burca e outras medidas das autoridades europeias que têm como alvo o Islão não só são superficiais e contraproducentes, como criam divisões na sociedade europeia, deixando as bases ideológicas do terrorismo sem solução.
Brahma Chellaney, professor de Estudos Estratégicos no Centro de Pesquisa Política em Nova Deli e membro da Academia Robert Bosch em Berlim, é autor de nove livros, incluindo Asian Juggernaut, Water: Asia’s New Battleground, e Water, Peace, and War: Confronting the Global Water Crisis.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
BRAHMA CHELLANEY | 29 Agosto 2016, 20:00
Negócios
A Europa está sob pressão. A integração dos requerentes de asilo e outros migrantes - 1,1 milhões na Alemanha, só em 2015 - na sociedade europeia representa um grande desafio, que foi complicado por um aumento dos crimes cometidos pelos recém-chegados. Para piorar as coisas, muitos muçulmanos europeus tornaram-se radicais, com alguns a mudarem-se para o Iraque e para a Síria para lutarem sob a bandeira do chamado Estado Islâmico, e outros a realizarem ataques terroristas em casa. Acrescente-se a isto a retórica nativista muitas vezes incendiária de líderes políticos populistas, e a narrativa dominante na Europa é cada vez mais de crescente insegurança.
Muitos países europeus estão a reforçar a segurança interna. Mas a sua abordagem é incompleta, na melhor das hipóteses.
A Alemanha e outros países introduziram novas medidas, incluindo um aumento do número de polícias, a deportação acelerada de migrantes que cometeram crimes, e a autoridade para retirar a cidadania alemã àqueles que se juntam a "milícias terroristas" estrangeiras. Outros passos incluem o reforço da vigilância de locais públicos e a criação de novas unidades concentradas na identificação de potenciais terroristas através das suas actividades na internet.
A pressão para tranquilizar o público levou a Bélgica, Bulgária, França e Holanda, bem como a região suíça de Ticino e a região italiana da Lombardia a proibir a burca (a indumentária que cobre totalmente o corpo, usada por mulheres muçulmanas ultraconservadoras) e outros véus para cobrir o rosto, em alguns ou todos os locais públicos. Várias cidades costeiras francesas também proibiram os burquíni, os fatos de banho de corpo inteiro que algumas mulheres muçulmanas usam na praia.
Mesmo a Alemanha, cujo ministro do Interior Thomas de Maizière rejeitou inicialmente tal proibição, sucumbiu à pressão dos aliados da chanceler Angela Merkel e propôs a proibição do véu em lugares públicos onde é exigida a identificação. É lógico que esse tipo de vestuário não propicia a integração.
Mas nenhuma medida de segurança interna - muito menos exigências de vestuário - pode garantir a segurança da Europa. Para encontrar uma solução real, os líderes europeus devem abordar as raízes ideológicas dos desafios de segurança que enfrentam.
O problema não é o Islão, como muitos populistas reivindicam (e como as proibições da burca e do burquíni sugerem). Os muçulmanos têm feito parte da sociedade europeia, representando cerca de 4% da população total da Europa, em 1990, e 6% em 2010. E vagas anteriores de imigração de países muçulmanos não trouxeram um aumento das actividades terroristas dentro das fronteiras da Europa. Por exemplo, começando na década de 1960, cerca de três milhões de migrantes provenientes da Turquia estabeleceram-se na Alemanha para responder ao aumento da procura de mão-de-obra, sem representarem qualquer ameaça à segurança interna.
Hoje, essa ameaça resulta do islamismo radical - uma visão fundamentalista da sociedade reordenada de acordo com a lei da Sharia. Além do sofrimento indescritível e da violência, muitos refugiados de hoje, vindos de países em guerra como o Iraque e a Síria, têm absorvido a ideologia islâmica radical e, especificamente, os apelos para a jihad. Alguns podem ser soldados do Estado islâmico que se disfarçam de requerentes de asilo com o objectivo de realizar ataques terroristas na Europa. As serviços de inteligência dos EUA têm alertado repetidamente para essa possibilidade.
Mesmo para a maioria dos requerentes de asilo, que procuram verdadeiramente a segurança, a violência e a retórica islâmica às quais foram expostos podem ter tido um impacto psicológico poderoso. Depois de viver tanto tempo numa zona de conflito, a integração numa sociedade pacífica governada pelo Estado de direito exige que os recém-chegados desenvolvam uma nova mentalidade, que lhes permita enfrentar os desafios sem recorrer à criminalidade.
Além disso, há as cicatrizes psicológicas profundas que afligem muitos dos refugiados. Estudos indicam que mais de 50% dos homens e mulheres que viveram em zonas de guerra sofrem de desordem de stress pós-traumático, que está associado com um aumento do risco de violência.
Para muitos na Europa, esses factores sugerem que a chave para manter a segurança da Europa está em controlar o fluxo de refugiados, incluindo através de procedimentos de habilitação melhorados. (Tais procedimentos têm sido muitas vezes inexistentes, devido ao grande número de refugiados). E há argumentos para manter os refugiados no Médio Oriente, apesar de um mecanismo-chave para o fazer – o acordo da União Europeia com a Turquia - estar agora em risco, devido à turbulência política decorrente do golpe fracassado do mês passado contra o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Mas nem mesmo a construção de uma fortaleza europeia eliminaria a ameaça terrorista. Afinal, alguns ataques, incluindo os de Bruxelas e Paris, foram realizados por cidadãos europeus muçulmanos que se radicalizaram nos seus próprios quartos. De acordo com Rob Wainwright, que dirige a Europol, cerca de 5.000 jihadistas europeus foram para a Síria e para o Iraque, e "várias centenas" estarão provavelmente a planear novos ataques na Europa depois de voltarem para casa.
A única maneira eficaz de lidar com a ameaça do terrorismo é combater a ideologia islâmica radical que a sustenta. Isso significa trabalhar no sentido de impedir que os complexos "religiosos-industriais" na Arábia Saudita, Qatar e outros lugares do Golfo usem os seus abundantes petrodólares para financiar a disseminação da ideologia extremista.
Significa, também, lançar uma campanha de informação concertada para desacreditar essa ideologia, como o Ocidente desacreditou o comunismo durante a Guerra Fria - uma componente fundamental do seu eventual triunfo. Este é um trabalho para todos os grandes poderes, mas é uma tarefa particularmente urgente para a Europa, dada a sua proximidade com o Médio Oriente, especialmente com as novas fortalezas jihadistas que países como a Síria, o Iraque e a Líbia representam.
Para derrubar os terroristas é preciso deslegitimar o sistema de crença que justifica as suas acções. A proibição da burca e outras medidas das autoridades europeias que têm como alvo o Islão não só são superficiais e contraproducentes, como criam divisões na sociedade europeia, deixando as bases ideológicas do terrorismo sem solução.
Brahma Chellaney, professor de Estudos Estratégicos no Centro de Pesquisa Política em Nova Deli e membro da Academia Robert Bosch em Berlim, é autor de nove livros, incluindo Asian Juggernaut, Water: Asia’s New Battleground, e Water, Peace, and War: Confronting the Global Water Crisis.
Copyright: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
BRAHMA CHELLANEY | 29 Agosto 2016, 20:00
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