Ficámos a ver navios

O Partido Socialista colocou em meados de Agosto, na Avenida Sá Carneiro, um cartaz de grandes dimensões que relembrava uma promessa feita, mas não cumprida, por Miguel Albuquerque que por sinal é muito querida dos madeirenses, a reposição da Linha Ferry entre a Madeira e o continente. 

Até aí tudo certo pois a verdade é a que é. O estranho é que na passada quinta-feira a APRAM o tenha removido sem qualquer motivo, nem aviso prévio o que, se não estou enganado, deverá ter acontecido porque alguém, lá de cima, não deve ter gostado do “aviva memória”, e logo tratou de o fazer desaparecer fazendo lembrar outros tempos, desonrando princípios basilares do pensamento do fundador do PSD que, por sinal, dá nome à Avenida onde estava o cartaz.

Na verdade, o que tudo isto evidencia é uma brutal falta de tolerância, para não dizer respeito, para com quem pensa diferente e para com a liberdade de expressão, o que em bom rigor coloca os “renovadinhos” ao nível daqueles a quem num passado recente criticavam.

Já se percebeu que não se altera o que quer que seja sem uma intenção genuína, não basta pregar a renovação se depois não se é capaz de conviver com a liberdade de expressão e de opinião, em suma com a democracia, que mais do que uma palavra corresponde a um conceito, a uma forma de estar perante a vida real, a dos pobres, a dos ricos, a dos emigrantes, a realidade de um povo que até pode ser o nosso.

Entendo ainda menos estes comportamentos porquanto o PS-M tem tido um cuidado extremo com a colocação de propaganda política, ao ponto de não a colocar em alturas festivas que são cartaz cimeiro do nosso turismo o que revela o nosso sentido de responsabilidade e de comprometimento relativamente aos desígnios regionais.

Ao invés continuamos a ter uma governação que acha que não pode ser criticada, que se considera uma virgem vestal, impoluta mesmo depois de décadas de vida politicamente depravada.

À hora a que estou a escrever este apontamento o Cartaz do Ferry ainda não foi recolocado por quem o tirou, mas julgo saber que na secretaria da tutela estão a congeminar um argumento esfarrapado para o impulso ditatorial. 
Talvez venhamos a descobrir que afinal o cartaz e respetiva estrutura metálica estivessem a fazer perigar a falésia, que o hotel que lhe é sobranceiro podia vir por ali abaixo ou qualquer coisa do género, que de ridícula, nos fará rir compulsivamente, como rir nos faz a teimosia de quem acha que quem paga viagens com cartão de crédito tem de esperar 60 dias para levantar o respetivo subsídio de mobilidade.

Coincidência ou não parece-me que ambos os casos têm a mãozinha da mesma pessoa.

Jaime Leandro Líder Parlamentar do PS-M
Diário de Notícias da Madeira 
Sábado, 3 de Setembro de 2016