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Programa político, o susto
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Programa político, o susto
A base de apoio necessária para uma força política chegar ao poder pode conquistar-se pela credibilidade democrática de programas políticos estruturados e trabalhados de forma séria na sociedade, ou ser construída pela negativa a partir da gestação de retrações e medos, da criação de cenários propícios ao susto que atordoa as pessoas. Esta segunda via é a opção que a Direita portuguesa adotou e persistentemente está trilhando, podendo dizer-se hoje, sem dúvidas, que a produção contínua de sustos constitui o seu programa político.
É muito interessante observar alguns traços fundamentais da atuação das forças políticas de Direita: i) procuram inculcar na cabeça dos portugueses a ideia de que o "passado" se resume à leitura que construíram sobre a situação que o país e os portugueses viviam em 2010/2011, apagando da memória o desastre e o sofrimento vividos entre 2011 e 2015; ii) apresentam velhos problemas com que o país se debate, entre eles a dívida e a podridão do setor financeiro, como questões novas e não como áreas em que os problemas se agravaram ao longo de muitos anos e, em particular, nos últimos cinco em que foram Governo; iii) convocam todos os constrangimentos externos e as imposições subversivas dos "mercados", como orientações sagradas a que os portugueses se devem submeter; iv) procuram diabolizar as forças políticas que dão apoio parlamentar ao Governo, os sindicatos e todas as organizações e pessoas que apresentam propostas de rompimento com o neoliberalismo e a doutrina austeritária, tentando constranger o Governo e limitar o espaço e a amplitude das alianças de que este precisa para concretizar projetos novos de mais justiça e contributo para o desenvolvimento da sociedade; v) repetem até à exaustão a tese "de que a Esquerda gasta e a Direita paga", quando, quem paga é sempre o comum dos portugueses, a quem a Direita impôs nos últimos anos a fatura mais dura e injusta que alguma vez lhe havia sido aplicada.
A Direita recorre constantemente a paralelismos abusivos e desonestos. Diz que o atual Governo é despesista e que a dívida não para de crescer, procurando assim encontrar pontos de contacto com a situação que precedeu a intervenção da troika. O crescimento da dívida é um facto. Mas a Direita esconde que foi o seu Governo a operar o maior aumento da dívida em relação ao PIB, em consequência das políticas que encetaram e fizeram colapsar a economia portuguesa. Hoje, parte significativa dos problemas económicos ainda resulta de continuarmos a viver as consequências dessa depressão. O sistema financeiro - cujos principais responsáveis, em 2010/2011, fizeram coro com a Direita na criação do cenário do caos, acusando o Estado e os portugueses de gastadores quando nos haviam andado a roubar - ficou de rastos e são os portugueses que pagam essa fatura, com resoluções e recapitalizações, que embora não contando para o défice, não deixam de engrossar a dívida pública.
A dívida cresce, mas não é por ter aumentado a despesa pública ou porque subiram os salários. O atual Governo deu importantes passos na reposição pontual de rendimentos e na reversão de algumas das mais dolorosas medidas de austeridade, mas com as imposições de Bruxelas os apertos não desapareceram. Os constrangimentos vividos nos serviços públicos, a exiguidade do investimento público e o lastro de um Estado que vai buscar mais à economia do que aquilo que consegue disponibilizar para investir, colocam sérias tensões que precisam de respostas estratégicas.
Sobre a pressão mediática, dominada pela agenda da Direita, o Governo não pode deixar-se intimidar ou ignorar as justas reivindicações de muitas das áreas da sociedade portuguesa, a começar pela área do trabalho. O Governo deve, sem reservas (com equilíbrio e naturais precauções), construir alianças e novas capacidades de mobilização coletiva. O trabalho não é o único campo de alianças em que é preciso agir, mas é indispensável.
A estratégia do susto autossustenta-se e autoalimenta-se, mas esfuma-se quando emerge a disposição de vencer o medo.
* INVESTIGADOR E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Manuel Carvalho Da Silva*
Hoje às 00:02
Jornal de Notícias
É muito interessante observar alguns traços fundamentais da atuação das forças políticas de Direita: i) procuram inculcar na cabeça dos portugueses a ideia de que o "passado" se resume à leitura que construíram sobre a situação que o país e os portugueses viviam em 2010/2011, apagando da memória o desastre e o sofrimento vividos entre 2011 e 2015; ii) apresentam velhos problemas com que o país se debate, entre eles a dívida e a podridão do setor financeiro, como questões novas e não como áreas em que os problemas se agravaram ao longo de muitos anos e, em particular, nos últimos cinco em que foram Governo; iii) convocam todos os constrangimentos externos e as imposições subversivas dos "mercados", como orientações sagradas a que os portugueses se devem submeter; iv) procuram diabolizar as forças políticas que dão apoio parlamentar ao Governo, os sindicatos e todas as organizações e pessoas que apresentam propostas de rompimento com o neoliberalismo e a doutrina austeritária, tentando constranger o Governo e limitar o espaço e a amplitude das alianças de que este precisa para concretizar projetos novos de mais justiça e contributo para o desenvolvimento da sociedade; v) repetem até à exaustão a tese "de que a Esquerda gasta e a Direita paga", quando, quem paga é sempre o comum dos portugueses, a quem a Direita impôs nos últimos anos a fatura mais dura e injusta que alguma vez lhe havia sido aplicada.
A Direita recorre constantemente a paralelismos abusivos e desonestos. Diz que o atual Governo é despesista e que a dívida não para de crescer, procurando assim encontrar pontos de contacto com a situação que precedeu a intervenção da troika. O crescimento da dívida é um facto. Mas a Direita esconde que foi o seu Governo a operar o maior aumento da dívida em relação ao PIB, em consequência das políticas que encetaram e fizeram colapsar a economia portuguesa. Hoje, parte significativa dos problemas económicos ainda resulta de continuarmos a viver as consequências dessa depressão. O sistema financeiro - cujos principais responsáveis, em 2010/2011, fizeram coro com a Direita na criação do cenário do caos, acusando o Estado e os portugueses de gastadores quando nos haviam andado a roubar - ficou de rastos e são os portugueses que pagam essa fatura, com resoluções e recapitalizações, que embora não contando para o défice, não deixam de engrossar a dívida pública.
A dívida cresce, mas não é por ter aumentado a despesa pública ou porque subiram os salários. O atual Governo deu importantes passos na reposição pontual de rendimentos e na reversão de algumas das mais dolorosas medidas de austeridade, mas com as imposições de Bruxelas os apertos não desapareceram. Os constrangimentos vividos nos serviços públicos, a exiguidade do investimento público e o lastro de um Estado que vai buscar mais à economia do que aquilo que consegue disponibilizar para investir, colocam sérias tensões que precisam de respostas estratégicas.
Sobre a pressão mediática, dominada pela agenda da Direita, o Governo não pode deixar-se intimidar ou ignorar as justas reivindicações de muitas das áreas da sociedade portuguesa, a começar pela área do trabalho. O Governo deve, sem reservas (com equilíbrio e naturais precauções), construir alianças e novas capacidades de mobilização coletiva. O trabalho não é o único campo de alianças em que é preciso agir, mas é indispensável.
A estratégia do susto autossustenta-se e autoalimenta-se, mas esfuma-se quando emerge a disposição de vencer o medo.
* INVESTIGADOR E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Manuel Carvalho Da Silva*
Hoje às 00:02
Jornal de Notícias
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