Programa Eleitoral

Não há qualquer “fenómeno” político. Há isso sim um apropriar de uma série de questões que sempre foram queridas à esquerda

E hoje uma fábula muito real. Tão real que existe mesmo. Está aí mesmo ao virar de uma esquina.

Se lessem as medidas que se seguem num programa eleitoral de um partido votariam nele:

independência nacional e saída da NATO;

estado forte e livre que respeite os valores republicanos;

reindustrialização; contra a fraude, corrupção e interesses locais; controle da finança e da especulação; organização administrativa estável e racionalizada;

justiça social;

luta contra a emigração clandestina; política de cooperação externa reforçada, principalmente com África;

aumento do orçamento para a justiça e procurar por todos os meios que esta seja mais rápida e mais justa; independência e neutralidade da magistratura e reforço do segredo de justiça;

ensino forte e garantido pelo estado para todos valorizando as comunidades educativas locais; manuais escolares com preço definido pelo estado; escola laica e neutral; requalificação do ensino baseada em amplo debate nacional; escolas técnicas que visarão a formação de quadros laborais intermédios serão obrigação do estado; ensino obrigatório de 14 anos; Ministério do Ensino Superior e da Investigação Científica; despiste e orientação vocacional; encorajar e apoiar com programas de apoio a investigação nacional;

nacionalização dos correios e de outras áreas de interesse nacional;

garantia de continuidade territorial;

igualdade de todos perante os serviços públicos;

tarifas de telecomunicações, luz, gás, gasolina, transportes públicos, etc. decididos pelo estado; municipalização da água; moratória imediata sobre o encerramento de serviços públicos nas zonas menos habitadas, normalmente zonas rurais;

revalorização das zonas rurais com efectivos planos de desenvolvimento agrícola, de modo a reduzir as desigualdades entre diferentes zonas do país;

premiar profissionais altamente qualificados que aceitem ser colocados em zonas mais afastadas dos centros urbanos;

preço único para os livros de autores nacionais; defesa intransigente dos direitos autorais numa base sólida e justa; valorização e protecção do património nacional; lei do mecenato que ajude efectivamente a cultura e os mecenas; encorajamento de uma indústria de cinema nacional com fortes apoios de privados e do estado; garantir o dinamismo da criação; garantir uma verdadeira política de defesa da língua;

qualificação das práticas agrícolas e industriais; eliminar os conflitos de interesses na prossecução de uma efectiva segurança alimentar;

política energética efectivamente ecológica apoiada nas energias alternativas de ponta;

protecção dos direitos dos animais;

apoiar a natalidade;

criar um observatório dos direitos sociais;

apoiar a criação de uma Europa baseada nas soberanias nacionais e nos povos que a constituem;

o primado do direito nacional deve prevalecer sobre o direito europeu; apoiar grandes projectos europeus inovadores e ao serviço dos povos;

Haveria muito mais a escrever, uma vez que o acima resulta da tradução de apenas algumas medidas contidas no programa da Frente Nacional de Marine Le Pen que lidera as sondagens para a eleição do Presidente da República Francesa.

Pode ser que assim se entenda que não há qualquer “fenómeno” político. Há isso sim um apropriar de uma série de questões que sempre foram queridas à esquerda e muitas tidas como fracturantes e que nunca passaram das palavras. É por isso que a FN entra em zonas que sempre votaram à esquerda e altera o paradigma de voto.

NUNO MORNA / 24 DEZ 2016 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira