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Fetiche eleitoral
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Fetiche eleitoral
O PS continua favorito para vencer as eleições e até podia perdê-las com a honra de assumir as grandes causas que transportam as diferentes ideologias, mas prefere arriscar a ganhá-las sem ideia nenhuma que fique para o futuro.
Pode parecer que faz todo o sentido aparentar ter soluções para tudo, mas os portugueses desconfiam de tanta bonança e sabem que é preciso definir prioridades, hierarquizando os problemas e assumindo opções. A prioridade atribuída pelo PS à classe média é errada porque nem reflecte a necessidade de resolver as desigualdades sociais, nem estabelece nenhuma diferença em relação à prioridade do centro-direita.
Num país em que as desigualdades sociais são um problema estrutural e a pobreza cresceu espera-se mais de um partido de esquerda. Fica a ideia de que António Costa não se encontrou e não se quer comprometer com nenhum caminho que possa impedir uma vitória que os socialistas vêm como natural. Uns dias coloca a tónica na pobreza que atinge de forma dura as crianças e na necessidade de combater as desigualdades sociais, no outro assume de forma clara que a prioridade é a classe média e a descida de impostos. Ninguém combate a pobreza, que precisa de mais despesa pública, prometendo baixar impostos e garantindo o equilíbrio orçamental. A maioria insistirá em colar o actual PS às irresponsabilidades do passado e a esquerda insistirá na impossibilidade de tirar o azimute à política socialista. Afinal, o que é que eles querem? Não se sentem na obrigação de explicar com clareza o modelo de sociedade que defendem para o país?
Quem, como eu, já deu como garantida a impossibilidade da actual maioria, que governou em forte austeridade, ganhar as eleições, corre o sério risco de ter de engolir um sapo gigante. É certo que PSD e CDS vão ter pescar à linha para ter votos entre os pensionistas e funcionários públicos, mas podem pescar de arrasto entre a classe média que se safou desta crise. Os que viram amigos e familiares perder o emprego, mas que mantiveram o seu, mesmo com redução de rendimento, não quererão correr o risco de uma mudança de rumo. A prioridade dada pelo PS à classe média não é uma opção política, parece mais uma jogada eleitoral para desestabilizar a base de apoio da actual maioria. Na verdade, o PS está a tentar pescar votos em todas as latitudes, mas assumindo não ser nem carne, nem peixe, arrisca-se a ter de dividir o eleitorado contestatário, que tem como prioridade tirar o PSD e o CDS do governo, com os outros partidos de esquerda e com os que nascem agora para destabilizar o sistema. O resultado é imprevisível. O fetiche pela classe média já deu muitas vitórias ao PS e ao PSD, mas o mundo mudou.
por PAULO BALDAIA
Diário de Notícias
Pode parecer que faz todo o sentido aparentar ter soluções para tudo, mas os portugueses desconfiam de tanta bonança e sabem que é preciso definir prioridades, hierarquizando os problemas e assumindo opções. A prioridade atribuída pelo PS à classe média é errada porque nem reflecte a necessidade de resolver as desigualdades sociais, nem estabelece nenhuma diferença em relação à prioridade do centro-direita.
Num país em que as desigualdades sociais são um problema estrutural e a pobreza cresceu espera-se mais de um partido de esquerda. Fica a ideia de que António Costa não se encontrou e não se quer comprometer com nenhum caminho que possa impedir uma vitória que os socialistas vêm como natural. Uns dias coloca a tónica na pobreza que atinge de forma dura as crianças e na necessidade de combater as desigualdades sociais, no outro assume de forma clara que a prioridade é a classe média e a descida de impostos. Ninguém combate a pobreza, que precisa de mais despesa pública, prometendo baixar impostos e garantindo o equilíbrio orçamental. A maioria insistirá em colar o actual PS às irresponsabilidades do passado e a esquerda insistirá na impossibilidade de tirar o azimute à política socialista. Afinal, o que é que eles querem? Não se sentem na obrigação de explicar com clareza o modelo de sociedade que defendem para o país?
Quem, como eu, já deu como garantida a impossibilidade da actual maioria, que governou em forte austeridade, ganhar as eleições, corre o sério risco de ter de engolir um sapo gigante. É certo que PSD e CDS vão ter pescar à linha para ter votos entre os pensionistas e funcionários públicos, mas podem pescar de arrasto entre a classe média que se safou desta crise. Os que viram amigos e familiares perder o emprego, mas que mantiveram o seu, mesmo com redução de rendimento, não quererão correr o risco de uma mudança de rumo. A prioridade dada pelo PS à classe média não é uma opção política, parece mais uma jogada eleitoral para desestabilizar a base de apoio da actual maioria. Na verdade, o PS está a tentar pescar votos em todas as latitudes, mas assumindo não ser nem carne, nem peixe, arrisca-se a ter de dividir o eleitorado contestatário, que tem como prioridade tirar o PSD e o CDS do governo, com os outros partidos de esquerda e com os que nascem agora para destabilizar o sistema. O resultado é imprevisível. O fetiche pela classe média já deu muitas vitórias ao PS e ao PSD, mas o mundo mudou.
por PAULO BALDAIA
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