O governo é um fiasco

Não há muitas formas de dizer isto: passados longos meses da tomada de posse do actual governo regional, após várias oportunidades concedidas pela sociedade madeirense e depois de se ter dado, genuinamente, muito tempo para habituar os novinhos governantes nestas andanças , eis que observa-se um fracasso redondo em todos os dossiers estratégicos e estruturantes.

Há uma desilusão evidente que nem os avanços estéticos na democracia parlamentar conseguem abafar. Para todos os amantes da autonomia custa muito constatar que os sinais positivos vêm todos do governo que está em Lisboa: menos impostos, mais salários, menos horas de trabalho, mais transferências, uma reforçada solidariedade, materializada em muitos milhões, seja para combater as tragédias, seja para o novo hospital; um novo sistema tributário para os agricultores e por aí fora, porque a lista já é longa! Pelo contrário, a governação regional travou a fundo e encerra uma mão cheia de nada ou repleta das mesmas coisas. As mesmas cumplicidades, os mesmos favorecimentos, a mesma superficialidade, as mesmas soluções. Meteram o lixo debaixo do tapete e sacodem a água do capote. De resto, brincam com coisas sérias e fingem-se “maçaricos veteranos”. Não é paradoxo, é a melhor tradução para caracterizar gente nova com ideias e vícios velhos! Já a autonomia e a capacidade de governar está atirada para um canto, desprezada e quase desamparada.

O ferry vinha mas já não vem, a não ser que Lisboa pague; o sistema regional de saúde ia ser renovado mas continua um pântano; os portos que seriam reestruturados, “doa a quem doer”, continuam a ostentar preços insuportáveis e o grupo empresarial a consolidar a verticalização do sector; a linha de transporte marítimo para o Porto Santo baixou os preços fora de época  à custa do contribuinte madeirense ( nem Alberto João Jardim se atreveu a dar subsídios ao grupo que explora o Lobo Marinho); o turismo, cujos males estavam na ausência de estratégia, dizia o então Presidente da Ordem de Economistas e actual Secretário, continua sem esse famigerado documento mas, ao que parece, já não importa ( as crises no Mediterrâneo alimentam o discurso do sucesso); a economia não tem rosto que a defenda e as empresas desconfiam do governo e da sua capacidade de criar condições estáveis; o CINM caminha para a irrelevância e continua entregue a um grupo privado, distante dos interesses públicos; a distribuição de fundos europeus lembra uma máquina a vapor do séc XX, completamente enferrujada; o planeamento é uma espécie de fantasma que não existe mas vai ensombrando o governo; as conhecidas PPP’s regionais Vialitoral e Via Expresso não só não viram a suas rendas reduzidas, como prometido, mas, pelo contrário, assinaram uma revisão que aumentou o custo por km; a educação reflecte a pasmaceira governativa e a falta de ambição; o transporte aéreo de residentes está comprometido por um modelo feito de pequenas trapalhadas que colocam em causa a sua eficácia; os impostos não baixam, apesar das promessas, e os madeirenses pagam em média mais de 1000 euros por ano que os portugueses dos Açores.

Tudo isto é matéria difícil de entender mas os factos levam-me a concluir que não há esperança que sobreviva a um currículo governativo tão desastrado!

Carlos Pereira
Diário de Notícias da Madeira 
Terça, 6 de Setembro de 2016