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Os impostos que eu gostava de pagar
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Os impostos que eu gostava de pagar
Sob o desígnio da “justiça social”, o novo filão recentemente descoberto são os impostos “à la carte” contra os privilegiados.
Entende-se que a popularidade seja um dos principais critérios das medidas anunciadas pelos três partidos que decidiram aturar-se para sustentar o Governo. Como a cola que os une é eterna, enquanto durar, e o fim da lua-de-mel pode terminar directamente em divórcio, há que trabalhar para, nas próximas eleições, ser lembrado como o portador de boas notícias, e não de más.
No atropelo de ser o primeiro a anunciar, cometem-se muitos atropelos, coisa que nunca é bonita de ver e deixa marcas. Mesmo disfarçado como se nada fosse, quem assiste regista. Reflecte. E interroga-se: isto chegou mesmo a este ponto?
A nova forma de comunicação é risível. Anuncia-se uma intenção e, depois, logo se pensa mais a fundo na questão, naquilo que alguém certamente aprova como gestão e comunicação com credibilidade. O conteúdo então nem se fala. Sob o desígnio da “justiça social”, o novo filão recentemente descoberto são os impostos “à la carte” contra os privilegiados ou, melhor ainda, porque pode ser “sem vergonha”, contra esses malandros dos hiper-privilegiados.
A táctica é encontrar nichos, de preferência com poucos eleitores, não se vá pôr em causa os tão preciosos votos, com bons saldos médios, que é para valer a pena, e que sofram, por parte da opinião pública, de algum tipo de inveja, que é sempre um bom antídoto para qualquer sentimento de remorso que a injustiça das medidas possa causar.
Começou-se pelos vizinhos dos andares de cima com as suas vistas solarengas e maravilhosas. No desvario do imposto “à medida”, será que há um desconto se o andar tiver problemas de humidade, mau isolamento térmico ou se ouvir o barulho dos elevadores?
Passou-se para os tais oito mil grandes proprietários, mas outros privilegiados que se cuidem. Há que distrair o Zé Povinho para que se lembre de que não há austeridade e esqueça que, por exemplo, paga a gasolina bem mais cara, e paga o mesmo que o rico, mas isto já não tem mal.
Há um grupo que bem teria que se cuidar, não fosse o caso de ser juiz em causa própria, isto sim, um verdadeiro privilégio de invejar. Falo dos partidos políticos e do fim da isenção de IMI nas suas propriedades. Graças a uma corajosa iniciativa do CDS, poderão os contribuintes ver a tal “justiça social” em prática, naquilo que se espera que seja uma massiva aprovação por parte dos partidos que apoiam o Governo, reconciliando a prática com a ideologia.
Se a hipocrisia não nos trair, será certamente um esclarecedor exemplo do que é saber arcar com as consequências. Ser privilegiado não é só para as coisas boas.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Luis Vilariça, Gestor
00:05
Jornal Económico
Entende-se que a popularidade seja um dos principais critérios das medidas anunciadas pelos três partidos que decidiram aturar-se para sustentar o Governo. Como a cola que os une é eterna, enquanto durar, e o fim da lua-de-mel pode terminar directamente em divórcio, há que trabalhar para, nas próximas eleições, ser lembrado como o portador de boas notícias, e não de más.
No atropelo de ser o primeiro a anunciar, cometem-se muitos atropelos, coisa que nunca é bonita de ver e deixa marcas. Mesmo disfarçado como se nada fosse, quem assiste regista. Reflecte. E interroga-se: isto chegou mesmo a este ponto?
A nova forma de comunicação é risível. Anuncia-se uma intenção e, depois, logo se pensa mais a fundo na questão, naquilo que alguém certamente aprova como gestão e comunicação com credibilidade. O conteúdo então nem se fala. Sob o desígnio da “justiça social”, o novo filão recentemente descoberto são os impostos “à la carte” contra os privilegiados ou, melhor ainda, porque pode ser “sem vergonha”, contra esses malandros dos hiper-privilegiados.
A táctica é encontrar nichos, de preferência com poucos eleitores, não se vá pôr em causa os tão preciosos votos, com bons saldos médios, que é para valer a pena, e que sofram, por parte da opinião pública, de algum tipo de inveja, que é sempre um bom antídoto para qualquer sentimento de remorso que a injustiça das medidas possa causar.
Começou-se pelos vizinhos dos andares de cima com as suas vistas solarengas e maravilhosas. No desvario do imposto “à medida”, será que há um desconto se o andar tiver problemas de humidade, mau isolamento térmico ou se ouvir o barulho dos elevadores?
Passou-se para os tais oito mil grandes proprietários, mas outros privilegiados que se cuidem. Há que distrair o Zé Povinho para que se lembre de que não há austeridade e esqueça que, por exemplo, paga a gasolina bem mais cara, e paga o mesmo que o rico, mas isto já não tem mal.
Há um grupo que bem teria que se cuidar, não fosse o caso de ser juiz em causa própria, isto sim, um verdadeiro privilégio de invejar. Falo dos partidos políticos e do fim da isenção de IMI nas suas propriedades. Graças a uma corajosa iniciativa do CDS, poderão os contribuintes ver a tal “justiça social” em prática, naquilo que se espera que seja uma massiva aprovação por parte dos partidos que apoiam o Governo, reconciliando a prática com a ideologia.
Se a hipocrisia não nos trair, será certamente um esclarecedor exemplo do que é saber arcar com as consequências. Ser privilegiado não é só para as coisas boas.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Luis Vilariça, Gestor
00:05
Jornal Económico
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