É necessário mais investimento

A economia portuguesa irá, em 2016, registar o quinto ano consecutivo de excedentes da balança comercial devido, em não pequena medida, ao contributo das receitas do turismo. Esta é uma significativa transformação de um país tradicionalmente deficitário nas suas trocas comerciais com o exterior.

Parece-me, contudo, que alguns sectores da indústria do turismo, nomeadamente o hoteleiro, enfrentam constrangimentos na sua capacidade instalada. É, aliás, estranho mas surpreendentemente positivo e favorável para a economia nacional e regional que hotéis modernos de quatro e cinco estrelas no centro de Lisboa e do Funchal possam ser mais caros que hotéis de quatro e cinco estrelas no centro de Berlim ou de Glasgow, por exemplo (sugiro uma consulta no Booking). Evidentemente que é provável que a receita média por quarto seja mais elevada nessas cidades estrangeiras do que em Lisboa ou no Funchal, mas o que tais preços e falta de quartos disponíveis sinalizam é que os termos de troca são favoráveis à economia portuguesa e à economia regional.

No caso da Madeira:

- Vários hotéis no Funchal não têm, com frequência, capacidade disponível e inclusive enfrentam, muitas vezes, situações de “overbooking”. Quando estas situações ocorrem, essas unidades hoteleiras parece que não conhecem a sua curva da procura: não sabem se seriam capazes de vender mais 5%, 10% ou 15% de quartos aos preços que praticam nas alturas de pico da procura.

- Há quem argumente que a alteração é conjuntural e temporária. Mas considero ser um erro assumir que o actual nível elevado de procura é temporário e utilizar esse argumento como fundamento para não investir em nova capacidade hoteleira.

- E o facto é que, particularmente no Funchal, o sector, ou pelo menos algumas unidades hoteleiras, enfrentam condições de sonho: taxas de ocupação excelentes, preços aos níveis de grandes cidades europeias, taxas de juro para financiamento de novos investimentos historicamente baixas, taxas de IVA baixas, salários (demasiadamente) baixos.

- É certo que a sazonalidade do turismo na ilha diminui a rentabilidade do investimento, mas algumas unidades hoteleiras desta ilha são, no presente, autênticas impressoras – legais – de moeda. E, por conseguinte, afigura-se dificilmente aceitável que a indústria hoteleira da Região não seja capaz de dar resposta de qualidade à procura crescente que enfrenta.

- Parece-me que, se não for feito esse investimento em novas unidades hoteleiras, hotéis sem a qualidade necessária, aumentarão os respectivos preços. E tais aumentos de preço, benéficos no curto prazo, têm potencial para resultar numa má memória dos turistas que visitam a Região, prejudicando o desenvolvimento deste sector no longo prazo.

Será, pois, altura de investir mais e melhor ... e, já agora, de partilhar uma quota parte desse sucesso com os trabalhadores do sector.

RICARDO CABRAL , VICE-REITOR DA UMA  / 17 OUT 2016 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira