EDITORIAL - Ibéricos em paralelo

A dimensão das delegações governamentais e empresariais, bem como a duração reduzida da 27.ª Cimeira Ibérica, atestam a situação atual que une Portugal e Espanha. Não há problemas entre ambos de tal magnitude que tivessem de ser dirimidos pelos chefes de Governo. Mas Pedro Passos Coelho e Mariano Rajoy confrontam-se com dificuldades de monta para fazer que os seus países saiam da crise económica e social, que, apesar dos sinais de recuperação, se mantém bem viva nas respetivas populações.

A agenda mediática vem dando conta de uma evolução positiva dos indicadores da produção (deslize do PIB de Portugal no primeiro trimestre, à parte...) e da redução do número altíssimo de desempregados. Fechados que estão os programas de apoio internacional à banca - em Espanha - e à economia e às finanças - em Portugal -, ambos os sectores financeiros têm agora de demonstrar a sua resiliência perante testes mais esforçados conduzidos pelo BCE.

A dimensão relativa de ambas as economias é de 6 para 1, daí que a evolução espanhola (destino de um quarto das exportações de Portugal) seja crucial para nós; inversamente, o peso de parceiro comercial e de investimentos cruzados de Portugal supera os laços estabelecidos entre Madrid e a América Latina. As políticas monetária e orçamental à escala europeia tornam-se, assim, cruciais, bem como a concertação de posições negociais.

Mas há, ainda, outra dimensão da boa vizinhança no centro das atenções: as zonas transfronteiriças evoluem na Europa em geral e, também, na Península Ibérica, para a constituição de eurocidades, com abolição no dia-à-dia das populações de fronteiras que quase já não existem.

O que falta é disponibilizar os melhores serviços públicos de um lado e de outro à totalidade dos seus utentes potenciais, criando novas centralidades, onde décadas a fio só houve distanciamento e abandono por parte das autoridades do poder central.

Quem discursou foi a Rainha, mas como é regra no sistema britânico as palavras proferidas por Isabel II são da responsabilidade do Governo. E entre medidas anunciadas que vão desde uma reforma do sistema de pensões até à obrigação de pagar os sacos de plástico, houve uma afirmação importante sobre a União Europeia, de especial significado depois da vitória dos eurocéticos do UKIP nas recentes eleições. Assim, o Governo liderado por David Cameron propõe-se tudo fazer para reformar as instituições europeias no sentido de conferir mais poderes aos Governos nacionais, o que confirma que cada vez mais o Reino Unido se sente com um pé fora da União a que aderiu em 1973.

Com eleições gerais no próximo ano, e depois de um terceiro lugar nas europeias (e a derrocada dos seus aliados liberais), os conservadores sabem que a par da economia a ligação à UE é um dos grandes temas que pesam no hora de votar. E não podem dar margem ao UKIP.

05-06-2014

DN