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Perceções
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Perceções
É tudo o que tenho nesta fase sobre a novíssima proposta para o Orçamento do Estado de 2017. Deixo-as para memória futura e base para eventual contraditório.
O exercício é criativo e tem condições para superar os nossos obstáculos mais importantes, designadamente conseguir cumprir o programa de Governo e a aprovação de Bruxelas.
Foi entregue 24 horas mais cedo do que o prazo limite e, segundo a versão oficial, as negociações sobre as principais rubricas em discussão estão fechadas.
Contém, factualmente, boas notícias para o cidadão comum. É bom ir desaparecendo a sobretaxa do IRS, é bom as pensões serem atualizadas, é bom o abono de família (para crianças até aos 3 anos) ser aumentado, é bom o indexante de apoios sociais (IAS) ser descongelado, e pouco mais, porque as boas notícias a partir daqui são intenções ou aparição de investimentos que já se conheciam porque os fundos comunitários os vão pagar.
E até acho bom que o Governo encontre as fontes de financiamento para estes pequenos alívios na cesta dos impostos indiretos. Ao menos fica-nos a sensação de podermos tomar algumas decisões, como por exemplo não fumar, não andar de carro, não beber refrigerantes ou álcool e não andar por aí a caçar pardais (os cartuchos de chumbo passam a pagar mais impostos).
A explicação do exercício no Portal do Governo é aceitável, mas não precisava de passar pelos vídeos. Não há como fazer tantas omeletas com tão poucos ovos.
O problema é que esta omeleta, aparentemente fofa e amarelinha, arrisca-se a ser o último cozinhado deste porte que a geringonça tira da despensa.
Foi demasiado visível que a margem de manobra se estreitou muitíssimo.
Foi demasiado visível que a Esquerda não vai aceitar qualquer coisa e que a escapatória de cumprir promessas aos bochechos não se pode repetir mais vezes.
Foi demasiado visível que não há muito para descobrir no que toca a novas taxas e impostos indiretos.
Foi demasiado visível que a noção de alívio que se pretende não resiste a uma austeridade que terá de ser cada vez mais de Esquerda, ou seja, de caça aos ricos, com todos os riscos factuais e ideológicos que comporta.
Por isso, fica-me a perceção de que este exercício corresponderá a um verdadeiro virar de página para António Costa.
E a perceção de que ainda não descortina qual é o rei que deve encurralar em xeque-mate.
*ANALISTA FINANCEIRA
Cristina Azevedo*
Hoje às 00:00, atualizado às 00:01
Jornal de Notícias
O exercício é criativo e tem condições para superar os nossos obstáculos mais importantes, designadamente conseguir cumprir o programa de Governo e a aprovação de Bruxelas.
Foi entregue 24 horas mais cedo do que o prazo limite e, segundo a versão oficial, as negociações sobre as principais rubricas em discussão estão fechadas.
Contém, factualmente, boas notícias para o cidadão comum. É bom ir desaparecendo a sobretaxa do IRS, é bom as pensões serem atualizadas, é bom o abono de família (para crianças até aos 3 anos) ser aumentado, é bom o indexante de apoios sociais (IAS) ser descongelado, e pouco mais, porque as boas notícias a partir daqui são intenções ou aparição de investimentos que já se conheciam porque os fundos comunitários os vão pagar.
E até acho bom que o Governo encontre as fontes de financiamento para estes pequenos alívios na cesta dos impostos indiretos. Ao menos fica-nos a sensação de podermos tomar algumas decisões, como por exemplo não fumar, não andar de carro, não beber refrigerantes ou álcool e não andar por aí a caçar pardais (os cartuchos de chumbo passam a pagar mais impostos).
A explicação do exercício no Portal do Governo é aceitável, mas não precisava de passar pelos vídeos. Não há como fazer tantas omeletas com tão poucos ovos.
O problema é que esta omeleta, aparentemente fofa e amarelinha, arrisca-se a ser o último cozinhado deste porte que a geringonça tira da despensa.
Foi demasiado visível que a margem de manobra se estreitou muitíssimo.
Foi demasiado visível que a Esquerda não vai aceitar qualquer coisa e que a escapatória de cumprir promessas aos bochechos não se pode repetir mais vezes.
Foi demasiado visível que não há muito para descobrir no que toca a novas taxas e impostos indiretos.
Foi demasiado visível que a noção de alívio que se pretende não resiste a uma austeridade que terá de ser cada vez mais de Esquerda, ou seja, de caça aos ricos, com todos os riscos factuais e ideológicos que comporta.
Por isso, fica-me a perceção de que este exercício corresponderá a um verdadeiro virar de página para António Costa.
E a perceção de que ainda não descortina qual é o rei que deve encurralar em xeque-mate.
*ANALISTA FINANCEIRA
Cristina Azevedo*
Hoje às 00:00, atualizado às 00:01
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