Cimeira dos BRICS: o simbolismo de Goa

Seria expectável que a realização da VIII Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se realizasse em Nova Delhi, a capital da Índia.

Porém, as autoridades indianas escolheram Goa, o Estado mais pequeno da Índia, como palco deste evento mundial que, nos dias 15 e 16 de outubro, congregou os representantes máximos de países onde vive 41% da população mundial.

Porquê? Pela visão de federalismo de Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, que procurou dar uma imagem da diversidade do país. A Índia constitui um Estado Federal, a exemplo dos Estados Unidos e do Brasil, com estados federados.

Goa, a ex-colónia portuguesa que, em 18 de dezembro de 1961, viria a ser integrada na Índia (através de uma ação militar denominada de "libertação" pelas tropas indianas e de "invasão" pelo regime português), é, de facto, um território único na Índia e quiçá na Ásia.

Fruto da influência portuguesa de mais de 450 anos de colonização, bem como de outros fatores, Goa apresenta traços distintivos.

Apesar de haver alguns sinais de que se está na Índia, existe em Goa algo de europeu, como se estivéssemos num continente distinto do asiático.

Onde quer que estejamos, vislumbramos o branco das numerosas igrejas que se erguem em todo o território, como se estivéssemos em Portugal, mas com a vantagem de uma paisagem de um verde luxuriante. O enquadramento geométrico das ruas, as varandas das casas, os crucifixos em todo o lado, os nomes portugueses, as pastelarias, as tabernas, a liberalização dos costumes, enfim, Goa apresenta características únicas na Índia. As suas praias, com quilómetros e quilómetros de extensão, estão entre as dez melhores do mundo.

Para os indianos (de outros estados), vir a Goa é o mesmo que passar umas férias na Europa. Daí que os hotéis de Goa estejam repletos, nos fins de semana, com turistas domésticos que se surpreendem por ver casais de mãos dadas nas ruas e raparigas de calções. Ao contrário de outros estados, em que vigora a "lei seca", em Goa não há restrições de bebidas alcoólicas, pelo que os turistas não perdoam...

Goa é o único território da Índia com casinos. Quatro barcos (casinos flutuantes) estão ancorados no rio Mandovi, junto a Panjim, a capital, acolhendo turistas, extasiados com as roletas e as jovens mulheres designadamente de Leste, que aí exibem os seus encantos. Em outros estados da Índia tal seria considerado decadência ocidental e proibido.

Logo após 1961, houve uma tendência das autoridades indianas em "apagar" a influência portuguesa. Inclusivamente, houve uma tentativa de integrar Goa num estado vizinho, o Mahrashtra (cuja capital é Bombaim). Em 1967, teve lugar o opinion poll, um referendo para saber se a população de Goa queria ficar integrada nesse estado ou permanecer autónoma. Esta última opção venceu e, mais tarde, Goa viria a ser um estado federado, o mais pequeno da Índia, um dos mais ricos e influentes.

Hoje, sem prejuízo da integração na grande Índia, de que faz parte, Goa preserva a sua identidade, o que é estimulado pelo governo central.

A Declaração de Goa, saída da Cimeira dos BRICS, reflete a importância de Goa, cujo nome ecoará em todo o mundo. Como declarou Laxmikant Parsekar, primeiro-ministro de Goa, chegou a altura de "Goa tomar o seu lugar no mundo, e esta oportunidade irá reforçar a influência da sua cultura, da sua cozinha e da sua hospitalidade. A Declaração de Goa será conhecida em todo o mundo e nós temos de beneficiar desse facto".

Presidente da Casa de Goa

23 DE OUTUBRO DE 2016
00:00
Edgar Valles
Diário de Notícias