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    Mensagem por Admin Qua Out 26, 2016 11:48 am

    A União Europeia não é um Estado, mas com frequência dá sinais de que o ritual procura pelo menos aproximar-se da imagem da invenção soberana, uma prática que não contribui sequer para fortalecer a confiança da opinião da sociedade civil global europeia, excessivamente treinada por séculos da experiência que hoje é chamada de Estado espetáculo, uma expressão que celebrizou Roger-Gérard Schwartzenberg, por fins do século passado (1977). Na crise geral em que o sonhado mundo único se encontra, a repetição da conferência de grupos, de organizações políticas, por vezes sem formalização legal, lembra a expressão, agora guardando o formalismo mas sem conseguir os objetivos de então, que eram, segundo o famoso autor, partir do talento do realizador para a conquista da opinião do público eleitor.

    Nesta data em que a circunstância europeia rodeia de desafios a União, o presidente da Comissão Europeia, importando o método americano, usou o discurso sobre o Estado da União, mas além do título apropriado, a definição do conteúdo não é exaltante de informação e propostas. Quanto aos perigos vindos da circunstância, além do indício que a palavra sugere de que a consciência dessa realidade começa a tomar visibilidade, não parece que a sua enumeração esgote os noticiários correntes, e as ligeiras terapêuticas não vão recuperar as confianças perdidas. Reconhecer que o Pacto de Estabilidade e Crescimento tem de considerar especialmente o Sul europeu, que anda a reconstituir o império romano perdido, apenas empresta voz às evidências, mas não encontra resposta no dramatismo político das décimas, nem na exibida autoridade, sem origem sabida, por exemplo, do ministro das Finanças alemão.

    Tudo o que respeita à inquietante questão das migrações, e ao conflito que provoca entre deveres jurídicos de acolhimento e riscos de segurança, parece ficar-se pelas medidas de polícia, que se devem aperfeiçoar em todas as suas componentes e de que os Estados membros devem reforçar a cooperação, mas a responsável pela Segurança, Defesa e Relações Internacionais parece estar consciente de desafios mais exigentes do que das pequenas encomendas de guardas e veículos suscitadas especialmente pelas relações com a Bulgária e com a Turquia, que parecem alarmar para horizontes mais exigentes de estrategas e estadistas.

    De facto não podemos deixar de recordar tempos anteriores à II Grande Guerra, quando os factos atropelaram displicentemente os discursos, neste caso destacando-se o facto relevante para a segurança europeia que é o brexit da União Britânica, titular do maior exército da União, quando estamos em vésperas da celebração do primeiro brexit que ficou devido a Henrique VIII. De facto, se a referência aos projetos das pequenas pátrias, ao fortalecimento dos partidos antieuropeístas, ao crescimento dos números de votantes que adotam a abstenção por falta de esperanças, não chegou para fortalecer um discurso sobre o Estado doentio da União, a imaginação criadora não teve ocasião de se manifestar, mesmo quando, tendo a sua principal responsável pela segurança dito que a União necessitava de um exército, ficou por mencionar que a retirada do Reino Unido leva consigo o seu exército.

    Embora sobretudo parecendo referir-se apenas a comércio e finanças, e não a segurança, o discurso fixou-se em exigir uma decisão rápida de invocação pela Grã-Bretanha do precioso artigo 50 do Tratado, acolhendo as inquietações com os tratados comerciais, onde fica claro que entre eles estão países como o Canadá, membro da União Britânica. A primeira-ministra inglesa, que se estreia nestes encontros, parece muito serenamente apoiada na história talentosa do Reino Unido e não parece ter dado em qualquer momento sinais de abandonar a fleuma tradicional do seu passado nacional.

    É evidente, por outro lado da segurança, que o terrorismo não pode deixar de ser chamado a parágrafo de discurso sobre o Estado da União, nem de qualquer realmente Estado, sobretudo do mundo ocidental, e não é por aí que a situação da União dos europeus se afasta da circunstância que envolve todas as latitudes. Não é, infelizmente, neste grave quadro que a frente é apenas de unidade europeia ameaçada, porque evidentemente é de a ordem mundial ter evoluído para uma situação em que o fraco pode vencer o forte, seja qual for a sua posição na hierarquia das potências, a latitude, seja ou não clássica ameaça militar. Não é necessário lembrar que somam já dezenas os ataques terroristas no solo europeu, da União ou fora dela, felizmente nenhum com a dimensão das Torres de Nova Iorque. As medidas preventivas não podem deixar de ser definidas e postas em prática, não pode dispensar-se ou diminuir a solidariedade atlântica dos ocidentais, sobretudo sem esquecer que os progressos da técnica favorecem a ação não dispendiosa do terrorismo, e que neste domínio não são as debilidades da União que estão na primeira linha, é o mundo único que está envolvido pela circunstância.

    Os rituais do costume, agora incluindo movimentos da Rússia ou da China, são inquietantes, porque fazem recordar que não podem simples discursos, mesmo que destinados a reforçar a confiança, impedir que um incidente menor, como no passado próximo, ultrapasse as medidas que a tempo não foram tomadas.

    26 DE OUTUBRO DE 2016
    00:01
    Adriano Moreira
    Diário de Notícias
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