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Mensagem por Admin Qui Out 27, 2016 3:44 pm

A revolução que se vive no turismo e no crescimento imobiliário e de outros negócios é uma oportunidade irrepetível de crescimento e riqueza

A minha vida universitária e profissional faz-me circular abundantemente por Porto, Coimbra e Lisboa, e frequentar as suas áreas históricas e principais núcleos de atratividade arquitetónica e cultural. E, nomeadamente nas capitais do Sul e do Norte (Coimbra ainda está desaproveitada e muito centrada no poder da universidade), isso significa estar em contacto com cidades absolutamente diferentes das que tínhamos há cinco ou dez anos atrás. Uma intensidade imparável de gentes, de curiosidades e de atenções. Uma revolução urbana que, em especial ao nível do edificado degradado, não para de evoluir (com novos hotéis e placas de “alojamento local” a perder de vista). Um conjunto interminável de novos negócios e nichos diversos de bens e serviços, a juntar aos restaurantes, aos bares e às “lojas” de recordações, de artesanato e do inevitável kitsch. Autocarros, automóveis, comboios (viajar hoje no Alfa é estar num mundo de povos), barcos, cruzeiros, bicicletas e tuk-tuks (como se estivéssemos em Bombaim) em filas e mais filas. Na descoberta premente de milhares e milhares de pessoas, tenho aquela sensação que tive sempre que fui a Veneza: esmagamento e fobia. Mas acaba por ser um estilo de vida, receber os outros! É isso o turismo – de negócios ou de lazer, tanto faz – e este é um tempo único, de circunstâncias porventura irrepetíveis, para o país.

Chegámos aqui não só porque os outros são inseguros e nós somos o “canto” inegavelmente sedutor. Não só porque o clima e o ambiente ajudam, as pessoas são naturalmente acolhedoras e a gastronomia é incomparável. Não só porque temos centenas de anos para divulgar e esclarecer (em universidades, cultura, arquitetura e artes que nos distinguem), à nossa escala e em diferentes escalas. Não só porque a era digital aproximou tudo e todos e tornou tudo mais rápido. Não só porque investimos em aeroportos próximos das cidades e tivemos a Ryanair (e depois as outras) a investir em nós – no Porto, tudo começou por aí.

Não só. Tivemos governantes que, na área do turismo e das áreas associadas do imobiliário, hotelaria e restauração, não desistiram de uma estratégia de comunicação que chegou paulatinamente (mas sem hiatos) aos mercados certos – e tantas vezes foram criticados pela falta de retorno imediato. Revelámos autarcas e empresários empreendedores que persistiram numa visão e dela não se afastaram – Rui Rio é o melhor exemplo de perspicácia e tenacidade (ainda se lembram da recusa do El Corte Inglés na Boavista e do programa inovador de reabilitação?), com os reflexos que agora bem podiam ser seguidos pelos aspirantes a réplicas. Dispusemos de organizações que, no setor das reuniões profissionais a nível internacional, perceberam que a organização em dimensão alta é o fator mais importante de acreditação (hello Web Summit!). Houve capacidade para intuir que os “reformados” do Estado social europeu, a burguesia industrial e de serviços das Américas (brasileiros e norte-americanos a pulular entre nós são uma evidência) e a juventude migratória entre os 20 e os 30 anos seriam os destinatários que transformariam Portugal para um posicionamento finalmente relevante no contexto internacional. Para converter méritos e sanar vícios em crescimento, riqueza e emprego.

Por favor. Regulem, disciplinem, tributem e taxem até. Recordem o estudo de Michael Porter. Acima de tudo, eleve-se o marketing, controle-se o urbanismo e qualifiquem-se as empresas. Mas não estraguem o que tanto custou a conseguir. Por favor.

Professor de Direito da Universidade de Coimbra. Jurisconsulto, Escreve à quinta-feira

27/10/2016
Ricardo Costa 
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