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A globalização do comissário Oettinger
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A globalização do comissário Oettinger
Estamos numa época em que a globalização está a causar nervosismo, até por razões ambientais, como sustenta Paul De Grauwe no site Social Europe.
No último minuto, o acordo entre o estado belga da Valónia e a UE permitiu salvar o tratado CETA com o Canadá. Há muitas linhas nebulosas no acordo, que não foi minimamente debatido em Portugal pela classe política que está mais ocupada na simpática lavagem de roupa suja que vai ocupando os seus neurónios. A começar sobre quem vai dirimir conflitos entre grandes empresas e Estados, o que colocará estes numa posição fragilizada. Estamos numa época em que a globalização está a causar nervosismo, até por razões ambientais, como sustenta Paul De Grauwe no site Social Europe. Onde reflecte também sobre o outro lado deste comércio alargado: "O comércio livre cria vencedores e perdedores. Como argumentei antes, há muitos vencedores da globalização no mundo. Os mais importantes vencedores são centenas de milhões que costumavam viver em extrema pobreza. (…) Mas também há muitos perdedores. Os perdedores são milhões de trabalhadores, a maioria em países industrializados, que perderam os empregos ou viram os seus salários declinar." O Brexit teve, claro, muito que ver com este conflito cada vez mais latente.
Esse seria um dos problemas com que a UE se deveria debater. Mas não. Está amarrada a convicções que a impedem de reflectir. Mas isso tem que ver, também, com os interesses dos grandes países. Veja-se o caso do todo-poderoso comissário alemão Gunther Oettinger. Há dias decidiu disparar sobre tudo o que movia: as mulheres que apostam na carreira, os casamentos gay, os olhos dos chineses e os valões. O protegido de Angela Merkel chegou a dizer que "a Valónia era uma microrregião governada por comunistas", para indignação do Governo local. Oettinger disse que não via razões para se desculpar. O novo comissário do Orçamento da UE, como se imagina um cargo insignificante, parece ter um poder soberano em Bruxelas, sendo conhecido como um forte aliado dos sectores industriais europeus, nomeadamente dos editores alemães ou da Deustche Telekom, como se viu na forma como conduziu as alterações no sector digital. Um deputado dos Verdes alemães não teve problemas em dizer: "Ele é um verdadeiro fã dos monopólios e um adepto do apoio às grandes empresas e não olha para os jogadores mais pequenos."
Mais interessante. Segundo o site Politico, Oettinger vive hoje em Bruxelas a sua primeira aventura fora da Alemanha. Num centro político onde os comissários tendem a falar várias línguas (o Politico dá o exemplo de Carlos Moedas, que fala várias línguas e viveu em vários países), Oettinger nunca tinha saído de Baden-Wurttemberg e, quando chegou a Bruxelas, quase nem falava inglês. Isto diz muito sobre o nível de alguns comissários europeus e também sobre a posição que a UE tem neste mundo onde as solicitações são variadas e esperam respostas activas e rápidas. Mostra também como os interesses vitais da Alemanha continuam a ser defendidos, nomeadamente dos seus sectores estratégicos dirigidos pelas grandes empresas alemãs, enquanto pedem "reformas" e liberalização nos outros países do Sul. Talvez assim se perceba melhor a opacidade do CETA e a pressão continuada sobre Portugal, Espanha, Grécia ou Itália.
Grande repórter
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
04 de Novembro de 2016 às 00:01
Negócios
No último minuto, o acordo entre o estado belga da Valónia e a UE permitiu salvar o tratado CETA com o Canadá. Há muitas linhas nebulosas no acordo, que não foi minimamente debatido em Portugal pela classe política que está mais ocupada na simpática lavagem de roupa suja que vai ocupando os seus neurónios. A começar sobre quem vai dirimir conflitos entre grandes empresas e Estados, o que colocará estes numa posição fragilizada. Estamos numa época em que a globalização está a causar nervosismo, até por razões ambientais, como sustenta Paul De Grauwe no site Social Europe. Onde reflecte também sobre o outro lado deste comércio alargado: "O comércio livre cria vencedores e perdedores. Como argumentei antes, há muitos vencedores da globalização no mundo. Os mais importantes vencedores são centenas de milhões que costumavam viver em extrema pobreza. (…) Mas também há muitos perdedores. Os perdedores são milhões de trabalhadores, a maioria em países industrializados, que perderam os empregos ou viram os seus salários declinar." O Brexit teve, claro, muito que ver com este conflito cada vez mais latente.
Esse seria um dos problemas com que a UE se deveria debater. Mas não. Está amarrada a convicções que a impedem de reflectir. Mas isso tem que ver, também, com os interesses dos grandes países. Veja-se o caso do todo-poderoso comissário alemão Gunther Oettinger. Há dias decidiu disparar sobre tudo o que movia: as mulheres que apostam na carreira, os casamentos gay, os olhos dos chineses e os valões. O protegido de Angela Merkel chegou a dizer que "a Valónia era uma microrregião governada por comunistas", para indignação do Governo local. Oettinger disse que não via razões para se desculpar. O novo comissário do Orçamento da UE, como se imagina um cargo insignificante, parece ter um poder soberano em Bruxelas, sendo conhecido como um forte aliado dos sectores industriais europeus, nomeadamente dos editores alemães ou da Deustche Telekom, como se viu na forma como conduziu as alterações no sector digital. Um deputado dos Verdes alemães não teve problemas em dizer: "Ele é um verdadeiro fã dos monopólios e um adepto do apoio às grandes empresas e não olha para os jogadores mais pequenos."
Mais interessante. Segundo o site Politico, Oettinger vive hoje em Bruxelas a sua primeira aventura fora da Alemanha. Num centro político onde os comissários tendem a falar várias línguas (o Politico dá o exemplo de Carlos Moedas, que fala várias línguas e viveu em vários países), Oettinger nunca tinha saído de Baden-Wurttemberg e, quando chegou a Bruxelas, quase nem falava inglês. Isto diz muito sobre o nível de alguns comissários europeus e também sobre a posição que a UE tem neste mundo onde as solicitações são variadas e esperam respostas activas e rápidas. Mostra também como os interesses vitais da Alemanha continuam a ser defendidos, nomeadamente dos seus sectores estratégicos dirigidos pelas grandes empresas alemãs, enquanto pedem "reformas" e liberalização nos outros países do Sul. Talvez assim se perceba melhor a opacidade do CETA e a pressão continuada sobre Portugal, Espanha, Grécia ou Itália.
Grande repórter
Fernando Sobral | fsobral@negocios.pt
04 de Novembro de 2016 às 00:01
Negócios
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