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Será que existem já boas razões para a Fed subir as taxas de juro?
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Será que existem já boas razões para a Fed subir as taxas de juro?
A Reserva Federal norte-americana (Fed) tem mantido as taxas de juro inalteradas, entre 0,25% e 0,5%, desde dezembro 2015. A grande questão, presentemente, é saber quando as subirá. Analisando os indicadores económicos, a decisão não é óbvia. Mas, globalmente, estes vão no sentido de uma subida em dezembro.
A Fed visa um crescimento económico e de emprego com estabilidade dos preços e uma inflação a 2%. Segundo o relatório do Federal Open Market Committee (FOMC), órgão que decide a política monetária norte-americana, de 20 e 21 de setembro, a inflação estava em 1,5%, embora se espere a prazo um aumento para os 2%. Na altura, o FOMC considerou que não se justificava uma subida das taxas de juro. A mesma decisão ocorreu a 2 de novembro.
A economia está a melhorar, mas revela debilidades. Em termos anualizados, PIB cresceu 0,8% no primeiro trimestre do ano e 1,4% no segundo, o que é muito pouco. No terceiro trimestre ocorreu uma forte aceleração, para 2,9%. E, embora o consumo privado continue a ser o motor da economia, o seu crescimento foi inferior nesse trimestre em relação ao anterior, 2,1% versus 4,3%. A quebra do Índice de Confiança dos Consumidores de 103,5 em setembro para 98,6 em outubro corrobora essa desaceleração. Mais preocupante, o investimento fixo diminuiu pelo segundo trimestre consecutivo, -1,1% e - 0,6%, liderado pelas quebras no investimento residencial e em equipamento. O crescimento no terceiro trimestre deveu-se, essencialmente, às exportações, que cresceram 10%, depois de um aumento de 1,8% no segundo e uma quebra de 0,7% no primeiro. Mas esse aumento não é sustentável. Assim, 0,8 pontos percentuais dos 2,9% resultaram das exportações líquidas e 0,61% de um aumento dos stocks, ou seja, um total de 1,4 pontos percentuais em 2,9%. Praticamente metade.
Com o abrandamento esperado, é provável um crescimento no último trimestre próximo do ritmo médio de 1,7% dos primeiros nove meses. A Fed afirma estar confortável com um crescimento na ordem dos 1,8%, caso este seja sustentado, o que não parece ainda certo.
Os indicadores de inflação sugerem que esta pode estar já mais elevada do que a Fed refere no seu último relatório. O Índice de Preços ao Consumidor aumentou 0,3% em setembro face ao mês anterior, após um aumento de 0,2% em agosto, e que é superior ao ritmo anual de 1,5% que se tem verificado nos últimos 12 meses. Mesmo excluindo as componentes mais voláteis da energia e da alimentação, cresceu 0,1% em setembro após 0,3% em agosto. Anualizando ambas as médias, a inflação pode estar já entre 2,5% e 3%.
Existem já pressões inflacionistas também no mercado de trabalho. De acordo com o importante Employment Report, divulgado no dia 4 deste mês, a criação mensal média de postos de trabalho líquidos de janeiro até outubro 2016, inclusive, foi de 181 000, o que compara com 229 000 em 2015. No mês de outubro apenas foi de 161 000. Mas a taxa de desemprego é 4,9% e o salário médio por hora cresceu neste ano 2,8%, uma subida em relação a 2,6% até setembro. Isto sugere que o mercado de trabalho tem pouca folga para absorver mais força de trabalho sem pressões inflacionistas.
Assim, apesar de a economia apresentar algumas fragilidades, o que justifica a prudência até à data, parece difícil a Fed poder ignorar as pressões inflacionistas na economia americana e não aumentar as taxas de juro em dezembro, ainda que moderadamente, em 0,25%.
Professor auxiliar de Relações Internacionais na Universidade Lusíada
11 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
Vítor Ramon Fernandes
Diário de Notícias
A Fed visa um crescimento económico e de emprego com estabilidade dos preços e uma inflação a 2%. Segundo o relatório do Federal Open Market Committee (FOMC), órgão que decide a política monetária norte-americana, de 20 e 21 de setembro, a inflação estava em 1,5%, embora se espere a prazo um aumento para os 2%. Na altura, o FOMC considerou que não se justificava uma subida das taxas de juro. A mesma decisão ocorreu a 2 de novembro.
A economia está a melhorar, mas revela debilidades. Em termos anualizados, PIB cresceu 0,8% no primeiro trimestre do ano e 1,4% no segundo, o que é muito pouco. No terceiro trimestre ocorreu uma forte aceleração, para 2,9%. E, embora o consumo privado continue a ser o motor da economia, o seu crescimento foi inferior nesse trimestre em relação ao anterior, 2,1% versus 4,3%. A quebra do Índice de Confiança dos Consumidores de 103,5 em setembro para 98,6 em outubro corrobora essa desaceleração. Mais preocupante, o investimento fixo diminuiu pelo segundo trimestre consecutivo, -1,1% e - 0,6%, liderado pelas quebras no investimento residencial e em equipamento. O crescimento no terceiro trimestre deveu-se, essencialmente, às exportações, que cresceram 10%, depois de um aumento de 1,8% no segundo e uma quebra de 0,7% no primeiro. Mas esse aumento não é sustentável. Assim, 0,8 pontos percentuais dos 2,9% resultaram das exportações líquidas e 0,61% de um aumento dos stocks, ou seja, um total de 1,4 pontos percentuais em 2,9%. Praticamente metade.
Com o abrandamento esperado, é provável um crescimento no último trimestre próximo do ritmo médio de 1,7% dos primeiros nove meses. A Fed afirma estar confortável com um crescimento na ordem dos 1,8%, caso este seja sustentado, o que não parece ainda certo.
Os indicadores de inflação sugerem que esta pode estar já mais elevada do que a Fed refere no seu último relatório. O Índice de Preços ao Consumidor aumentou 0,3% em setembro face ao mês anterior, após um aumento de 0,2% em agosto, e que é superior ao ritmo anual de 1,5% que se tem verificado nos últimos 12 meses. Mesmo excluindo as componentes mais voláteis da energia e da alimentação, cresceu 0,1% em setembro após 0,3% em agosto. Anualizando ambas as médias, a inflação pode estar já entre 2,5% e 3%.
Existem já pressões inflacionistas também no mercado de trabalho. De acordo com o importante Employment Report, divulgado no dia 4 deste mês, a criação mensal média de postos de trabalho líquidos de janeiro até outubro 2016, inclusive, foi de 181 000, o que compara com 229 000 em 2015. No mês de outubro apenas foi de 161 000. Mas a taxa de desemprego é 4,9% e o salário médio por hora cresceu neste ano 2,8%, uma subida em relação a 2,6% até setembro. Isto sugere que o mercado de trabalho tem pouca folga para absorver mais força de trabalho sem pressões inflacionistas.
Assim, apesar de a economia apresentar algumas fragilidades, o que justifica a prudência até à data, parece difícil a Fed poder ignorar as pressões inflacionistas na economia americana e não aumentar as taxas de juro em dezembro, ainda que moderadamente, em 0,25%.
Professor auxiliar de Relações Internacionais na Universidade Lusíada
11 DE NOVEMBRO DE 2016
00:00
Vítor Ramon Fernandes
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