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A ascensão da Rússia e da China
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A ascensão da Rússia e da China
A ascensão da Rússia e da China, quer em termos económicos como políticos, poderá ser o cenário mais provável, caso Trump continue a manter as posições que defendeu em toda a sua campanha eleitoral.
Make America great again assenta em pressupostos isolacionistas, uma estratégia bem diferente do neoliberalismo de Obama destes últimos oito anos. Trump já prometeu que, logo quando tomar posse, vai anular o tratado de livre comércio entre os EUA e 11 países da orla do Pacífico, o Tratado Transpacífico, TPP, bem como o Tratado Transatlântico, TTIP, com a União Europeia. O objetivo, argumenta Trump, é impedir a entrada de emigrantes em solo americano, porque estes acordos preveem que as grandes empresas possam operar livremente em todos os países envolvidos.
O primeiro-ministro do Japão já veio dizer que sem os EUA o Tratado Transpacífico não faz sentido, e o de Singapura acha que nem sequer vale a pena continuar as negociações. Lembre-se que o objetivo primordial de Obama é isolar económica e comercialmente a China, sobretudo desde que começou a reabilitação das antigas "rotas da seda", o já famoso Cinturão Económico Chinês, ligando o gigante asiático a vários países e continentes, através da construção de portos e caminhos-de-ferro, de forma a exportar mais facilmente e em segurança, usufruindo também de benefícios aduaneiros. É claro que a anulação destes tratados impede a entrada de trabalhadores estrangeiros, exatamente o que os eleitores de Trump querem, mas aumenta, como é óbvio, o domínio económico chinês, que a médio prazo vai-se traduzir por mais desemprego americano, pela concorrência que acarreta. O recém-eleito presidente já disse que vai impor embargos e elevadas taxas aduaneiras à China para resolver o assunto, mas Pequim, antevendo o cenário, já avançou com negociações para um novo acordo de Cooperação Económica Regional, o RCEP, com quase todos os países do Transpacífico menos, é claro, os EUA.
Quanto ao Tratado Transatlântico, também com promessa de ser abandonado por Trump, a União Europeia vai ter de rever a sua estratégia. A China está muito bem posicionada, não só com a rota China-Paquistão, que começou recentemente a funcionar, mas também com a desistência de Trump em intervir na Ucrânia, na Síria e no Iraque, passagens estratégicas para o mercado europeu, que deixam ainda mais livre o caminho para o gigante asiático.
Este cenário é igualmente favorável à Rússia, que vê os seus problemas de isolacionismo aliviados. A política de segurança e defesa da UE, que se tem apoiado sempre na NATO, pode ter os dias contados, e Putin sabe disso. Não que Moscovo queira um alargamento das suas fronteiras, mas quer ficar política e economicamente mais próximo da Europa, o que com o antigo intervencionismo americano estava longe de poder acontecer.
Além do mais, interessa a Putin conseguir a manutenção do eixo xiita no Médio Oriente, ou seja, que Assad continue na Síria e Haider al-Abadi no Iraque, ambos seus aliados. Esta vitória russa é fundamental para servir de contrapeso ao poder dos países sunitas, como a Arábia Saudita ou o Qatar, que têm alianças históricas com os EUA. Mas, para Putin, a cereja em cima do bolo seria se Trump desistisse também destas aliagens e assim ficaria caminho aberto para o tão desejado domínio xiita no Médio Oriente.
A perspicácia chinesa e russa, que tinha em Obama um concorrente à altura, deixa de ter entraves com Trump. O fim do neoliberalismo económico americano coincide com a expansão económica chinesa e com as ambições políticas de Putin. Vamos ver se Trump consegue ver a realidade, a tempo.
Investigadora do ISCTE-IUL e diretora da Casa Árabe
A ascensão da Rússia e da China, quer em termos económicos como políticos, poderá ser o cenário mais provável, caso Trump continue a manter as posições que defendeu em toda a sua campanha eleitoral.
Make America great again assenta em pressupostos isolacionistas, uma estratégia bem diferente do neoliberalismo de Obama destes últimos oito anos. Trump já prometeu que, logo quando tomar posse, vai anular o tratado de livre comércio entre os EUA e 11 países da orla do Pacífico, o Tratado Transpacífico, TPP, bem como o Tratado Transatlântico, TTIP, com a União Europeia. O objetivo, argumenta Trump, é impedir a entrada de emigrantes em solo americano, porque estes acordos preveem que as grandes empresas possam operar livremente em todos os países envolvidos.
O primeiro-ministro do Japão já veio dizer que sem os EUA o Tratado Transpacífico não faz sentido, e o de Singapura acha que nem sequer vale a pena continuar as negociações. Lembre-se que o objetivo primordial de Obama é isolar económica e comercialmente a China, sobretudo desde que começou a reabilitação das antigas "rotas da seda", o já famoso Cinturão Económico Chinês, ligando o gigante asiático a vários países e continentes, através da construção de portos e caminhos-de-ferro, de forma a exportar mais facilmente e em segurança, usufruindo também de benefícios aduaneiros. É claro que a anulação destes tratados impede a entrada de trabalhadores estrangeiros, exatamente o que os eleitores de Trump querem, mas aumenta, como é óbvio, o domínio económico chinês, que a médio prazo vai-se traduzir por mais desemprego americano, pela concorrência que acarreta. O recém-eleito presidente já disse que vai impor embargos e elevadas taxas aduaneiras à China para resolver o assunto, mas Pequim, antevendo o cenário, já avançou com negociações para um novo acordo de Cooperação Económica Regional, o RCEP, com quase todos os países do Transpacífico menos, é claro, os EUA.
Quanto ao Tratado Transatlântico, também com promessa de ser abandonado por Trump, a União Europeia vai ter de rever a sua estratégia. A China está muito bem posicionada, não só com a rota China-Paquistão, que começou recentemente a funcionar, mas também com a desistência de Trump em intervir na Ucrânia, na Síria e no Iraque, passagens estratégicas para o mercado europeu, que deixam ainda mais livre o caminho para o gigante asiático.
Este cenário é igualmente favorável à Rússia, que vê os seus problemas de isolacionismo aliviados. A política de segurança e defesa da UE, que se tem apoiado sempre na NATO, pode ter os dias contados, e Putin sabe disso. Não que Moscovo queira um alargamento das suas fronteiras, mas quer ficar política e economicamente mais próximo da Europa, o que com o antigo intervencionismo americano estava longe de poder acontecer.
Além do mais, interessa a Putin conseguir a manutenção do eixo xiita no Médio Oriente, ou seja, que Assad continue na Síria e Haider al-Abadi no Iraque, ambos seus aliados. Esta vitória russa é fundamental para servir de contrapeso ao poder dos países sunitas, como a Arábia Saudita ou o Qatar, que têm alianças históricas com os EUA. Mas, para Putin, a cereja em cima do bolo seria se Trump desistisse também destas aliagens e assim ficaria caminho aberto para o tão desejado domínio xiita no Médio Oriente.
A perspicácia chinesa e russa, que tinha em Obama um concorrente à altura, deixa de ter entraves com Trump. O fim do neoliberalismo económico americano coincide com a expansão económica chinesa e com as ambições políticas de Putin. Vamos ver se Trump consegue ver a realidade, a tempo.
Investigadora do ISCTE-IUL e diretora da Casa Árabe
01 DE DEZEMBRO DE 2016
00:01
Maria João Tomás
Diário de Notícias
Make America great again assenta em pressupostos isolacionistas, uma estratégia bem diferente do neoliberalismo de Obama destes últimos oito anos. Trump já prometeu que, logo quando tomar posse, vai anular o tratado de livre comércio entre os EUA e 11 países da orla do Pacífico, o Tratado Transpacífico, TPP, bem como o Tratado Transatlântico, TTIP, com a União Europeia. O objetivo, argumenta Trump, é impedir a entrada de emigrantes em solo americano, porque estes acordos preveem que as grandes empresas possam operar livremente em todos os países envolvidos.
O primeiro-ministro do Japão já veio dizer que sem os EUA o Tratado Transpacífico não faz sentido, e o de Singapura acha que nem sequer vale a pena continuar as negociações. Lembre-se que o objetivo primordial de Obama é isolar económica e comercialmente a China, sobretudo desde que começou a reabilitação das antigas "rotas da seda", o já famoso Cinturão Económico Chinês, ligando o gigante asiático a vários países e continentes, através da construção de portos e caminhos-de-ferro, de forma a exportar mais facilmente e em segurança, usufruindo também de benefícios aduaneiros. É claro que a anulação destes tratados impede a entrada de trabalhadores estrangeiros, exatamente o que os eleitores de Trump querem, mas aumenta, como é óbvio, o domínio económico chinês, que a médio prazo vai-se traduzir por mais desemprego americano, pela concorrência que acarreta. O recém-eleito presidente já disse que vai impor embargos e elevadas taxas aduaneiras à China para resolver o assunto, mas Pequim, antevendo o cenário, já avançou com negociações para um novo acordo de Cooperação Económica Regional, o RCEP, com quase todos os países do Transpacífico menos, é claro, os EUA.
Quanto ao Tratado Transatlântico, também com promessa de ser abandonado por Trump, a União Europeia vai ter de rever a sua estratégia. A China está muito bem posicionada, não só com a rota China-Paquistão, que começou recentemente a funcionar, mas também com a desistência de Trump em intervir na Ucrânia, na Síria e no Iraque, passagens estratégicas para o mercado europeu, que deixam ainda mais livre o caminho para o gigante asiático.
Este cenário é igualmente favorável à Rússia, que vê os seus problemas de isolacionismo aliviados. A política de segurança e defesa da UE, que se tem apoiado sempre na NATO, pode ter os dias contados, e Putin sabe disso. Não que Moscovo queira um alargamento das suas fronteiras, mas quer ficar política e economicamente mais próximo da Europa, o que com o antigo intervencionismo americano estava longe de poder acontecer.
Além do mais, interessa a Putin conseguir a manutenção do eixo xiita no Médio Oriente, ou seja, que Assad continue na Síria e Haider al-Abadi no Iraque, ambos seus aliados. Esta vitória russa é fundamental para servir de contrapeso ao poder dos países sunitas, como a Arábia Saudita ou o Qatar, que têm alianças históricas com os EUA. Mas, para Putin, a cereja em cima do bolo seria se Trump desistisse também destas aliagens e assim ficaria caminho aberto para o tão desejado domínio xiita no Médio Oriente.
A perspicácia chinesa e russa, que tinha em Obama um concorrente à altura, deixa de ter entraves com Trump. O fim do neoliberalismo económico americano coincide com a expansão económica chinesa e com as ambições políticas de Putin. Vamos ver se Trump consegue ver a realidade, a tempo.
Investigadora do ISCTE-IUL e diretora da Casa Árabe
A ascensão da Rússia e da China, quer em termos económicos como políticos, poderá ser o cenário mais provável, caso Trump continue a manter as posições que defendeu em toda a sua campanha eleitoral.
Make America great again assenta em pressupostos isolacionistas, uma estratégia bem diferente do neoliberalismo de Obama destes últimos oito anos. Trump já prometeu que, logo quando tomar posse, vai anular o tratado de livre comércio entre os EUA e 11 países da orla do Pacífico, o Tratado Transpacífico, TPP, bem como o Tratado Transatlântico, TTIP, com a União Europeia. O objetivo, argumenta Trump, é impedir a entrada de emigrantes em solo americano, porque estes acordos preveem que as grandes empresas possam operar livremente em todos os países envolvidos.
O primeiro-ministro do Japão já veio dizer que sem os EUA o Tratado Transpacífico não faz sentido, e o de Singapura acha que nem sequer vale a pena continuar as negociações. Lembre-se que o objetivo primordial de Obama é isolar económica e comercialmente a China, sobretudo desde que começou a reabilitação das antigas "rotas da seda", o já famoso Cinturão Económico Chinês, ligando o gigante asiático a vários países e continentes, através da construção de portos e caminhos-de-ferro, de forma a exportar mais facilmente e em segurança, usufruindo também de benefícios aduaneiros. É claro que a anulação destes tratados impede a entrada de trabalhadores estrangeiros, exatamente o que os eleitores de Trump querem, mas aumenta, como é óbvio, o domínio económico chinês, que a médio prazo vai-se traduzir por mais desemprego americano, pela concorrência que acarreta. O recém-eleito presidente já disse que vai impor embargos e elevadas taxas aduaneiras à China para resolver o assunto, mas Pequim, antevendo o cenário, já avançou com negociações para um novo acordo de Cooperação Económica Regional, o RCEP, com quase todos os países do Transpacífico menos, é claro, os EUA.
Quanto ao Tratado Transatlântico, também com promessa de ser abandonado por Trump, a União Europeia vai ter de rever a sua estratégia. A China está muito bem posicionada, não só com a rota China-Paquistão, que começou recentemente a funcionar, mas também com a desistência de Trump em intervir na Ucrânia, na Síria e no Iraque, passagens estratégicas para o mercado europeu, que deixam ainda mais livre o caminho para o gigante asiático.
Este cenário é igualmente favorável à Rússia, que vê os seus problemas de isolacionismo aliviados. A política de segurança e defesa da UE, que se tem apoiado sempre na NATO, pode ter os dias contados, e Putin sabe disso. Não que Moscovo queira um alargamento das suas fronteiras, mas quer ficar política e economicamente mais próximo da Europa, o que com o antigo intervencionismo americano estava longe de poder acontecer.
Além do mais, interessa a Putin conseguir a manutenção do eixo xiita no Médio Oriente, ou seja, que Assad continue na Síria e Haider al-Abadi no Iraque, ambos seus aliados. Esta vitória russa é fundamental para servir de contrapeso ao poder dos países sunitas, como a Arábia Saudita ou o Qatar, que têm alianças históricas com os EUA. Mas, para Putin, a cereja em cima do bolo seria se Trump desistisse também destas aliagens e assim ficaria caminho aberto para o tão desejado domínio xiita no Médio Oriente.
A perspicácia chinesa e russa, que tinha em Obama um concorrente à altura, deixa de ter entraves com Trump. O fim do neoliberalismo económico americano coincide com a expansão económica chinesa e com as ambições políticas de Putin. Vamos ver se Trump consegue ver a realidade, a tempo.
Investigadora do ISCTE-IUL e diretora da Casa Árabe
01 DE DEZEMBRO DE 2016
00:01
Maria João Tomás
Diário de Notícias
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