Lavar as mãos

O salário da administração da Caixa Geral de Depósitos é justo ou é exagerado? Num país em que o salário médio ronda os 900 euros, qualquer vencimento de 30 mil é claramente exagerado. Não tem que ver com ser público ou privado, tem que ver com justiça salarial. Não devia ser normal alguém ganhar num dia mais do que um trabalhador com o ordenado médio ganha num mês ou do que um trabalhador com o salário mínimo ganha em dois meses. Para se perceber melhor, um trabalhador com o ordenado médio e um trabalhador com o salário mínimo, juntos, não ganham num ano o que o presidente da Caixa vai ganhar num mês. Dito assim não restam dúvidas a ninguém. Mas há quem ganhe muito mais na atividade bancária e muitíssimo mais noutras atividades. O mundo é injusto, já sabíamos.

Se o poder político quer fazer esta discussão, o mínimo que se pode pedir é que assuma as consequências daquilo que diz. O Presidente acha que Macedo, como Domingues, está exageradamente bem pago? O Bloco de Esquerda fala em "salários milionários"? O PCP, o PSD e o CDS acham que é de mais? Legislem. Assumam que não precisam dos melhores na Caixa ou que, precisando deles, exigem que eles sejam bons samaritanos, disponíveis para fazer serviço público perdendo dinheiro.

Mas não é isso que vão fazer. Tocam todos uma música muito bonita para os ouvidos do povo, dizem-lhe o que ele quer ouvir, mas acabam a lavar as mãos como Pilatos. Fica o governo com o odioso de pagar, estando certo naquilo que faz e confiante que ninguém, desta vez, lhe vai tirar o tapete. Marcelo tem razão, decide quem pode. Não é nesta matéria que se pode exigir mais ao Presidente. Ele aceita para Macedo o que aceitava para Domingues. A esquerda é que entrou a grande velocidade na realpolitik. A culpa não é de ninguém, são todos muito coerentes.

06 DE DEZEMBRO DE 2016
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Paulo Baldaia
Diário de Notícias