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O fim da corrupção

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O fim da corrupção Empty O fim da corrupção

Mensagem por Admin Seg Dez 19, 2016 12:49 pm

O fim da corrupção Nuno%20clara%20gomes_1380201351


A verdade é que, a cada denúncia de mais um caso escandaloso de corrupção, o Zé Povinho reage entre divertido e desdenhoso, como se a desonestidade fosse um mal congénito e irremediável, e dando de barato que, se alguém vai para a política, é para se encher.

Se não fosse trágica, a questão da corrupção em Portugal tem por efeito global finos sorrisos ou sonoras gargalhadas, numa demonstração daquele espírito de humor atávico do povo lusitano, capaz de se rir das suas próprias desgraças. A verdade é que, a cada denúncia de mais um caso escandaloso de corrupção, o Zé Povinho reage entre divertido e desdenhoso, como se a desonestidade fosse um mal congénito e irremediável, e dando de barato que, se alguém vai para a política, é para se encher.

Só que esta maldição tem sido, ao longo de séculos, o grande sumidouro dos nossos escassos recursos e o grande travão do progresso dos portugueses. Qualquer investidor pensa duas vezes antes de meter o seu dinheirinho num país onde não se sabe bem em que lei se vive.

Chega-se a pensar que o que se passa hoje no Brasil ou em Angola não é mais que uma demonstração do secular legado português, tão telúrico como a saudade, tão enraizado como o fado, tão entranhado como a religião.
Será assim tão imutável e irreversível? 

Vem-me à memória uma das célebres “Conversas em Família” de Marcelo Caetano. Defendia-se aquele senhor da acusação de que era o defensor do grande capital. E como? Segundo ele, o grande capital defendia-se bem sozinho, sem precisar da sua ajuda.

Esta afirmação vinha na linha de uma carta que o mesmo Marcelo Caetano escreveu em 25 de Janeiro de 1944 a Salazar, a respeito de uns rumores de corrupção, em que dizia textualmente “deixa-se, por exemplo, criar a convicção de que quem põe e dispõe nos bastidores são os homens de negócios, os homens do dinheiro”.

Atendendo a quem escreveu esta tirada, torna-se difícil acreditar que se tratasse de um caso de angelismo. Foi, decerto, uma declaração de princípio; mas, como diz o povo, tão ladrão é o que rouba como o que fica à porta a ver.

E mais: uma parte do problema era de que se deixava criar a convicção… Ou seja, havia que intervir no sentido de evitar que se criasse a convicção – estivesse esta certa ou errada. E para isso, lá estava a Censura e a PIDE.

Ora, a tendência universal é a de os ricos e poderosos governarem o Mundo. E podem fazê-lo de dois modos: diretamente, ou por interpostas pessoas. Do primeiro temos casos históricos: por exemplo, a oligarquia de Veneza eternizava-se no poder, escolhendo entre dez magnatas quem havia de governar, de forma rotativa. Do segundo caso, são infinitos os exemplos – e de pouco serviram as platónicas queixas de Marcelo Caetano.
Como tornear esta aparente fatalidade?

Uma tentativa interessante surge agora além Atlântico. Uma nova abordagem, fruto da trumpolência (neologismo criado pela truculência de Donald Trump) do Presidente Eleito dos EUA.

Analisando as nomeações até agora vindas a público, constata-se haver uma esmagadora maioria de membros indigitados para o governo, as agências federais e embaixadas que têm como traço comum serem milionários ou CEO´s de alto gabarito. Ou seja, por esta via suprime-se o intermediário, o político parasita e arreliador, por vezes até portador do vírus da decência, passando-se a um conceito semelhante ao conhecido “diretamente do produtor ao consumidor”. O explorador tratará diretamente dos seus negócios, sem artimanhas, chicanas, manobras dilatórias, ou pruridos legais ou éticos.

Deste modo, este novo conceito evitará melindres, poupará recursos, primará pela eficácia.

Genial!

Nuno Santa Clara
Barreiro
17.12.2016 - 12:27
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