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No meio de uma ponte para lugar incerto
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No meio de uma ponte para lugar incerto
A crise ecológica, a diminuição do emprego, o crescimento das desigualdades, a guerra permanente ao terrorismo, a erupção dos autoritarismos fazem prever tempos de violência e repressão.
A crise é muito anterior a ela própria. Os tempos de crescimento económico foram tempos em que se construiu um fosso gigantesco de desigualdades. As políticas seguidas desde o final dos anos 80 do século passado fizeram a economia regressar a níveis de diferença de rendimentos superiores aos dos tempos da grande depressão. Pela primeira vez no planeta, os 1% mais ricos têm mais rendimentos e riqueza que os 99% restantes da população.
Durante anos, as consequências sociais negativas da perda dos rendimentos de quem trabalha foi disfarçada pelo recurso barato ao crédito. Aquilo que muitos perdiam em salário, disfarçavam com cartões de crédito e empréstimos bancários. As dívidas dos pobres tornaram-se os grandes negócios dos ricos. A explosão e a crise económica de 2008 colocaram em causa estes remédios paliativos placebo.
Encontramo-nos num mundo em profunda mutação económica e política. A repetição de aspectos económicos e políticos dos anos 30 devem fazer tocar os sinais de alarme. A crise dos anos 30 só foi resolvida pela II Guerra Mundial. Uma perspectiva que nos devia lembrar uma história educativa. Quando perguntaram a Einstein se conseguia prever como decorreria a III Guerra Mundial, ele respondeu: “A III não sei, mas a IV será com paus e pedras”.
A uma globalização financeira sucedeu-se uma reacção política radical. Os Brexits, os Trumps são sintomas de um esgotamento de um sistema. São muitas vezes revoltas por bons motivos com más soluções. É como Yeats explicava no seu Segundo Advento: “Aos melhores falta a convicção, e aos piores sobeja apaixonada intensidade”.
Esta explosão dos populismos é simultaneamente uma espécie de último estertor do sistema. Trump apareceu a fazer um discurso em que o desemprego e a crise na classe operária branca ocupava um lugar central. A denúncia dos negócios, dos milionários e da chamada oligarquia, iam a par com a xenofobia e o racismo. Depois de eleito, apenas sobraram o racismo e a xenofobia. A Administração Trump é o governo dos multimilionários que afirmam o racismo como forma de enganarem melhor as populações.
A política é feita de um combate, passa pela definição de quem são os nossos amigos e inimigos. E fazer dessa definição algo de hegemónico, para todos, que mapeie a acção colectiva. Uma política que cria como inimigos o negro e o imigrante deixa de fora da acção os donos do sistema e da economia americana.
“O totalitarismo moderno pode ser definido como a instauração, por meio do estado de excepção, de uma guerra civil legal, que permite a eliminação física não só dos adversários políticos mas de categorias inteiras de cidadãos que por qualquer razão não sejam integráveis no sistema político. A criação voluntária de um estado de emergência permanente (mesmo se eventualmente não declarado em sentido técnico) tornou-se, desde então, uma das práticas essenciais dos Estados contemporâneos, mesmo dos chamados democráticos”, garante Giorgio Agamben no seu Estado de Excepção. Um diagnóstico sombrio para quem se esquece da guerra permanente ao terrorismo, das suspensões de direitos liberdades e garantias e da multiplicação de lideranças autoritárias no planeta. Um autoritarismo que é reforçado pelas desigualdades e a crise económica.
Um relatório da OCDE, citado por Paul Mason no Pós-Capitalismo, prevê um cenário sombrio, do ponto de vista económico, em 2060. “Los Angeles e Detroit assemelhar-se-ão à actual Manila – bairros de lata miseráveis ao lado de arranha-céus guardados por seguranças armados; Estocolmo e Copenhaga parecerão as cidades em ruínas da cintura industrial norte-americana; os postos de trabalho de médio rendimento desaparecerão. O capitalismo estará na quarta década de estagnação”, escreve Mason.
O ciclo político que se abre é de ruptura com o passado. Mas romper não dá certeza de nenhum final feliz. É possível ter políticas que acabem com as desigualdades ou ter políticas que garantem através da repressão e a suspensão da democracia a manutenção da injustiça.
19/12/2016
Nuno Ramos de Almeida
Cultura
nuno.almeida@newsplex.pt
Jornal i
A crise é muito anterior a ela própria. Os tempos de crescimento económico foram tempos em que se construiu um fosso gigantesco de desigualdades. As políticas seguidas desde o final dos anos 80 do século passado fizeram a economia regressar a níveis de diferença de rendimentos superiores aos dos tempos da grande depressão. Pela primeira vez no planeta, os 1% mais ricos têm mais rendimentos e riqueza que os 99% restantes da população.
Durante anos, as consequências sociais negativas da perda dos rendimentos de quem trabalha foi disfarçada pelo recurso barato ao crédito. Aquilo que muitos perdiam em salário, disfarçavam com cartões de crédito e empréstimos bancários. As dívidas dos pobres tornaram-se os grandes negócios dos ricos. A explosão e a crise económica de 2008 colocaram em causa estes remédios paliativos placebo.
Encontramo-nos num mundo em profunda mutação económica e política. A repetição de aspectos económicos e políticos dos anos 30 devem fazer tocar os sinais de alarme. A crise dos anos 30 só foi resolvida pela II Guerra Mundial. Uma perspectiva que nos devia lembrar uma história educativa. Quando perguntaram a Einstein se conseguia prever como decorreria a III Guerra Mundial, ele respondeu: “A III não sei, mas a IV será com paus e pedras”.
A uma globalização financeira sucedeu-se uma reacção política radical. Os Brexits, os Trumps são sintomas de um esgotamento de um sistema. São muitas vezes revoltas por bons motivos com más soluções. É como Yeats explicava no seu Segundo Advento: “Aos melhores falta a convicção, e aos piores sobeja apaixonada intensidade”.
Esta explosão dos populismos é simultaneamente uma espécie de último estertor do sistema. Trump apareceu a fazer um discurso em que o desemprego e a crise na classe operária branca ocupava um lugar central. A denúncia dos negócios, dos milionários e da chamada oligarquia, iam a par com a xenofobia e o racismo. Depois de eleito, apenas sobraram o racismo e a xenofobia. A Administração Trump é o governo dos multimilionários que afirmam o racismo como forma de enganarem melhor as populações.
A política é feita de um combate, passa pela definição de quem são os nossos amigos e inimigos. E fazer dessa definição algo de hegemónico, para todos, que mapeie a acção colectiva. Uma política que cria como inimigos o negro e o imigrante deixa de fora da acção os donos do sistema e da economia americana.
“O totalitarismo moderno pode ser definido como a instauração, por meio do estado de excepção, de uma guerra civil legal, que permite a eliminação física não só dos adversários políticos mas de categorias inteiras de cidadãos que por qualquer razão não sejam integráveis no sistema político. A criação voluntária de um estado de emergência permanente (mesmo se eventualmente não declarado em sentido técnico) tornou-se, desde então, uma das práticas essenciais dos Estados contemporâneos, mesmo dos chamados democráticos”, garante Giorgio Agamben no seu Estado de Excepção. Um diagnóstico sombrio para quem se esquece da guerra permanente ao terrorismo, das suspensões de direitos liberdades e garantias e da multiplicação de lideranças autoritárias no planeta. Um autoritarismo que é reforçado pelas desigualdades e a crise económica.
Um relatório da OCDE, citado por Paul Mason no Pós-Capitalismo, prevê um cenário sombrio, do ponto de vista económico, em 2060. “Los Angeles e Detroit assemelhar-se-ão à actual Manila – bairros de lata miseráveis ao lado de arranha-céus guardados por seguranças armados; Estocolmo e Copenhaga parecerão as cidades em ruínas da cintura industrial norte-americana; os postos de trabalho de médio rendimento desaparecerão. O capitalismo estará na quarta década de estagnação”, escreve Mason.
O ciclo político que se abre é de ruptura com o passado. Mas romper não dá certeza de nenhum final feliz. É possível ter políticas que acabem com as desigualdades ou ter políticas que garantem através da repressão e a suspensão da democracia a manutenção da injustiça.
Pós-Capitalismo
de Paul Mason
Preço: €21,50
de Paul Mason
Preço: €21,50
Estado de Excepção
de Giorgio Agamben
Preço: €13,00
de Giorgio Agamben
Preço: €13,00
RelacionadosSusana Peralta: “É evidente que a Segurança Social não pode ser só financiada pelos salários”
19/12/2016
Nuno Ramos de Almeida
Cultura
nuno.almeida@newsplex.pt
Jornal i
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