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A política da polarização do emprego
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A política da polarização do emprego
Trump venceu porque convenceu os eleitores na Pennsylvania, Michigan, Wisconsin e em outros sítios de que as suas políticas vão dar melhores desfechos para as comunidades onde a manufactura está a cair. Na verdade, a sua administração só deverá piorar as coisas para os norte-americanos já fortemente pressionados.
O problema principal dos Estado Unidos actualmente – reflectido na vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais do início de Novembro – é que muitos norte-americanos sentem-se desamparados e inseguros face à polarização do emprego que resulta da globalização e das novas tecnologias. Enquanto as pessoas com elevados níveis de educação, que estão no topo da distribuição de rendimento, estão melhor que nunca, as pessoas que têm apenas o ensino secundário enfrentam uma quebra dos rendimentos, dos padrões de vida e também das perspectivas para eles e para os seus filhos. A classe média está a ser despedaçada.
Trump venceu porque convenceu os eleitores na Pennsylvania, Michigan, Wisconsin e em outros sítios de que as suas políticas vão dar melhores desfechos para as comunidades onde a manufactura está a cair. Na verdade, a sua administração, apoiada por maiorias republicanas nas duas câmaras do Congresso, só deverá piorar as coisas para os norte-americanos já fortemente pressionados.
O problema subjacente é as novas tecnologias, em especial a tecnologia da informação, e a forma como transformam a natureza do trabalho. Como David Autor e David Dorn mostraram, muitos dos empregos que exigiam capacidades médias, que davam rendimentos médios para a classe média desapareceram. Os novos empregos que emergiram são bem pagos para pessoas com níveis de ensino elevado mas mal pagos para as pessoas que têm o ensino secundário. Um sintoma principal – mas apenas um sintoma – é o desaparecimento dos empregos bem remunerados nas fábricas. O emprego na manufactura caiu em mais de dois milhões de 2004 até 2014 e agora representa apenas 8% do emprego total – continuando assim numa trajectória de declínio desde 1950.
Esta tendência conduzida pela tecnologia tem vindo a ser aumentada pelos efeitos da diminuição dos custos de transporte e de comunicação, tornando mais barato mover bens durante longas distâncias. Redes cada vez maiores de fornecedores sofisticados fazem com que seja mais fácil mover a actividade produtiva para outros locais onde os salários sejam mais baixos. Muitas das empresas norte-americanas fizeram disto uma parte significativa da sua estratégia de negócio, o que teve como resultado um declínio da manufactura norte-americana o que, por sua vez, anda de mãos dadas com a queda da sindicalização. Quando os sindicalistas perdem os seus salários relativamente elevados e benefícios, frequentemente são colocados em empregos com salários mais baixos e sem o mesmo nível de benefícios.
A crise financeira de 2008 exacerbou a desigualdade de rendimentos e a insegurança económica em parte ao acelerar a perda dos empregos na manufactura. Os argumentos que apontam que isto era necessário, ou mesmo "ideal", para dirigir os apoios financeiros públicos para os bancos surgiram, embora os seus executivos não tenham sido persuasivos (pelo menos não fora de Wall Street). Sim, os norte-americanos ricos sofreram uma queda acentuada da sua riqueza quando os preços dos activos afundaram. Mas desde então beneficiam de uma recuperação robusta dos preços das acções e do imobiliário.
Neste ambiente, com muitas pessoas inseguras sobre as suas perspectivas económicas, o impulso da administração Obama para a Parceria Trans-Pacífico (TPP na sigla em inglês) foi, na melhor das hipóteses, uma abordagem surda. A administração Obama argumentou que o TPP iria criar alguns bons empregos – e as pessoas que perderam o seu emprego em resultado disso podiam "ser compensadas". Mas essa compensação é sempre mínima e amplamente encarada como não tendo qualquer significado. É por isso que Trump conquistou maiorias em tantos bastiões da classe trabalhadora e que anteriormente tinham apoiado Obama.
Infelizmente, a vida está prestes a ficar pior para estes eleitores. Com o controlo da presidência e do Congresso, os republicanos possivelmente vão perseguir três políticas económicas principais. Baixar os impostos para as pessoas e para as empresas vai ajudar sobretudo os norte-americanos ricos. Revogar a reforma na área da saúde de Obama vai ter um impacto severo em muitas pessoas que têm baixos rendimentos uma vez que perdem acesso a uma cobertura seguradora a preços acessíveis. E a desregulação financeira vai sobretudo favorecer os grandes bancos globais, encorajar uma tomada de risco imprudente e criar as condições para outra crise de larga escala. A somar a isso, as medidas comerciais conflituosas que Trump propôs provavelmente vão tornar a situação do emprego pior.
Ao mesmo tempo, a dimensão de quaisquer estímulos efectivos para a economia provavelmente vão ser muito pequenos. O sobreaquecimento da economia – levando a uma inflação mais elevada e a taxas de juro mais elevadas – tipicamente não ajuda as pessoas que têm rendimentos baixos (lembre-se da década de 1970).
A principal promessa de Trump foi trazer os empregos para a classe média, em particular na manufactura. Mas nada nas suas políticas ou no amplo programa republicano vai abordar a questão das mudanças tecnológicas. E a próxima onda tecnológica, incluindo os carros autónomos, vai ter um grande impacto negativo nos rendimentos e nas oportunidades para todos que actualmente entregam bens ou transportam passageiros em carros.
Além disso, o rápido avanço da inteligência artificial e da robótica significa que mesmo que a produção manufactureira nos Estados Unidos estabilize ou cresça ligeiramente, esta não vai absorver nem de perto o número de empregos de competências médias que absorveu no passado. De forma semelhante, a automatização vai fazer desaparecer o número de empregos actualmente bem pagos no sector dos serviços.
Dado o papel da tecnologia no afastamento de trabalhadores, o proteccionismo – que rasga acordos comerciais e impõe tarifas aos bens chineses e mexicanos – não vai fazer regressar os empregos bem pagos à manufactura e Trump não tem um plano B. Isso significa que a polarização dos Estados Unidos, que levou Trump para o poder, vai ficar ainda mais severa.
Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor do livro "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You".
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
Simon Johnson
19 de Dezembro de 2016 às 20:00
Negócios
O problema principal dos Estado Unidos actualmente – reflectido na vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais do início de Novembro – é que muitos norte-americanos sentem-se desamparados e inseguros face à polarização do emprego que resulta da globalização e das novas tecnologias. Enquanto as pessoas com elevados níveis de educação, que estão no topo da distribuição de rendimento, estão melhor que nunca, as pessoas que têm apenas o ensino secundário enfrentam uma quebra dos rendimentos, dos padrões de vida e também das perspectivas para eles e para os seus filhos. A classe média está a ser despedaçada.
Trump venceu porque convenceu os eleitores na Pennsylvania, Michigan, Wisconsin e em outros sítios de que as suas políticas vão dar melhores desfechos para as comunidades onde a manufactura está a cair. Na verdade, a sua administração, apoiada por maiorias republicanas nas duas câmaras do Congresso, só deverá piorar as coisas para os norte-americanos já fortemente pressionados.
O problema subjacente é as novas tecnologias, em especial a tecnologia da informação, e a forma como transformam a natureza do trabalho. Como David Autor e David Dorn mostraram, muitos dos empregos que exigiam capacidades médias, que davam rendimentos médios para a classe média desapareceram. Os novos empregos que emergiram são bem pagos para pessoas com níveis de ensino elevado mas mal pagos para as pessoas que têm o ensino secundário. Um sintoma principal – mas apenas um sintoma – é o desaparecimento dos empregos bem remunerados nas fábricas. O emprego na manufactura caiu em mais de dois milhões de 2004 até 2014 e agora representa apenas 8% do emprego total – continuando assim numa trajectória de declínio desde 1950.
Esta tendência conduzida pela tecnologia tem vindo a ser aumentada pelos efeitos da diminuição dos custos de transporte e de comunicação, tornando mais barato mover bens durante longas distâncias. Redes cada vez maiores de fornecedores sofisticados fazem com que seja mais fácil mover a actividade produtiva para outros locais onde os salários sejam mais baixos. Muitas das empresas norte-americanas fizeram disto uma parte significativa da sua estratégia de negócio, o que teve como resultado um declínio da manufactura norte-americana o que, por sua vez, anda de mãos dadas com a queda da sindicalização. Quando os sindicalistas perdem os seus salários relativamente elevados e benefícios, frequentemente são colocados em empregos com salários mais baixos e sem o mesmo nível de benefícios.
A crise financeira de 2008 exacerbou a desigualdade de rendimentos e a insegurança económica em parte ao acelerar a perda dos empregos na manufactura. Os argumentos que apontam que isto era necessário, ou mesmo "ideal", para dirigir os apoios financeiros públicos para os bancos surgiram, embora os seus executivos não tenham sido persuasivos (pelo menos não fora de Wall Street). Sim, os norte-americanos ricos sofreram uma queda acentuada da sua riqueza quando os preços dos activos afundaram. Mas desde então beneficiam de uma recuperação robusta dos preços das acções e do imobiliário.
Neste ambiente, com muitas pessoas inseguras sobre as suas perspectivas económicas, o impulso da administração Obama para a Parceria Trans-Pacífico (TPP na sigla em inglês) foi, na melhor das hipóteses, uma abordagem surda. A administração Obama argumentou que o TPP iria criar alguns bons empregos – e as pessoas que perderam o seu emprego em resultado disso podiam "ser compensadas". Mas essa compensação é sempre mínima e amplamente encarada como não tendo qualquer significado. É por isso que Trump conquistou maiorias em tantos bastiões da classe trabalhadora e que anteriormente tinham apoiado Obama.
Infelizmente, a vida está prestes a ficar pior para estes eleitores. Com o controlo da presidência e do Congresso, os republicanos possivelmente vão perseguir três políticas económicas principais. Baixar os impostos para as pessoas e para as empresas vai ajudar sobretudo os norte-americanos ricos. Revogar a reforma na área da saúde de Obama vai ter um impacto severo em muitas pessoas que têm baixos rendimentos uma vez que perdem acesso a uma cobertura seguradora a preços acessíveis. E a desregulação financeira vai sobretudo favorecer os grandes bancos globais, encorajar uma tomada de risco imprudente e criar as condições para outra crise de larga escala. A somar a isso, as medidas comerciais conflituosas que Trump propôs provavelmente vão tornar a situação do emprego pior.
Ao mesmo tempo, a dimensão de quaisquer estímulos efectivos para a economia provavelmente vão ser muito pequenos. O sobreaquecimento da economia – levando a uma inflação mais elevada e a taxas de juro mais elevadas – tipicamente não ajuda as pessoas que têm rendimentos baixos (lembre-se da década de 1970).
A principal promessa de Trump foi trazer os empregos para a classe média, em particular na manufactura. Mas nada nas suas políticas ou no amplo programa republicano vai abordar a questão das mudanças tecnológicas. E a próxima onda tecnológica, incluindo os carros autónomos, vai ter um grande impacto negativo nos rendimentos e nas oportunidades para todos que actualmente entregam bens ou transportam passageiros em carros.
Além disso, o rápido avanço da inteligência artificial e da robótica significa que mesmo que a produção manufactureira nos Estados Unidos estabilize ou cresça ligeiramente, esta não vai absorver nem de perto o número de empregos de competências médias que absorveu no passado. De forma semelhante, a automatização vai fazer desaparecer o número de empregos actualmente bem pagos no sector dos serviços.
Dado o papel da tecnologia no afastamento de trabalhadores, o proteccionismo – que rasga acordos comerciais e impõe tarifas aos bens chineses e mexicanos – não vai fazer regressar os empregos bem pagos à manufactura e Trump não tem um plano B. Isso significa que a polarização dos Estados Unidos, que levou Trump para o poder, vai ficar ainda mais severa.
Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor do livro "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You".
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
Simon Johnson
19 de Dezembro de 2016 às 20:00
Negócios
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