Pequim à espera de Trump (porto de Sines)

Presidente eleito dos EUA atendeu telefonema da presidente de Taiwan e nomeou empresário hostil à China para as relações comerciais

O que é que Donald Trump vai realmente fazer em relação à China quando chegar à Casa Branca, no dia 20 de janeiro? É esta a questão que o mundo se coloca - e o regime de Pequim ainda mais. As provocações por parte do presidente eleito, republicano, há muito que começaram. Mas a mais noticiada foi o facto de Donald Trump ter atendido, no início deste mês, o telefonema que lhe foi dirigido pela presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen. Nunca um presidente eleito ou em exercício tinha conversado diretamente com um líder de Taiwan desde que as relações foram estabelecidas entre os EUA e a China, em 1979, reconhecendo os americanos o princípio de "uma só China", que afirma a soberania de Pequim sobre todo o território e deixa de lado qualquer cenário de independência da ilha rebelde. "Soberania não é moeda de troca", já avisou o embaixador chinês nos EUA em recado a Trump.

Além da provocação com Taiwan, outro dos factos que fazem adivinhar tempos de grande tensão é a nomeação por parte de Trump de Peter Navarro para supervisionar as políticas comerciais dos Estados Unidos. Professor da Universidade da Califórnia e empresário (que nunca ocupou nenhum cargo político, tal como o próprio Trump), Navarro escreveu o guião para o documentário intitulado Death by China (A Morte pela China). Nele, Pequim é criticada por lançar uma guerra económica ao subsidiar a indústria manufatureira e impor barreiras às importações realizadas pelos EUA. Aclamado pelo presidente eleito como "um economista visionário", Navarro é criticado pela China, que vê com "forte preocupação" a nomeação feita por Trump. Apesar de tudo, o presidente eleito já anunciou que vai abandonar o Acordo de Parceria do Transpacífico, o que até é uma boa notícia para a China, que poderia assim assumir a liderança do comércio da região.

Para o próximo ano, o regime chinês estabeleceu já como uma das suas prioridades a organização de uma cimeira com os líderes dos países que integram a iniciativa chinesa Nova Rota da Seda, indicou em entrevista ao jornal oficial do Partido Comunista Chinês o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi. A Nova Rota da Seda, divulgada em 2013 pelo presidente Xi Jinping, constitui um plano de infraestruturas que pretende reativar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, de África e do Sudeste Asiático. Este plano, que inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade entre China e Europa, vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas - cerca de 60% da população mundial, segundo Pequim. Portugal tenciona integrar a iniciativa, com a inclusão do porto de Sines.

29 DE DEZEMBRO DE 2016
14:51
Patrícia Viegas
Diário de Notícias