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    Mensagem por Admin Ter Jan 03, 2017 4:13 pm

    Como as taxas de juro do sector privado estão ancoradas na dívida pública, o actual estado de coisas também não ajuda à competitividade das empresas portuguesas, inibindo-as de se financiar tão vantajosamente quanto as concorrentes europeias.
         
    A FRASE...
     
    "Dívida portuguesa teve um dos piores desempenhos do mundo em 2016."
     
    Rui Barroso, Jornal de Negócios, 30 de Dezembro de 2016
     
    A ANÁLISE...
     
    Não obstante as notícias positivas sobre as contas externas, o emprego e o cumprimento da meta para o défice orçamental, as taxas de juro para Portugal mantêm-se altas. Paradoxal? Nem tanto. Talvez antes ambiguidades sobre o desempenho da economia!
     
    No espaço de um ano o rendimento implícito das Obrigações do Tesouro Português a 10 anos aumentou mais de 125 pontos base (1,25 pontos percentuais), contrastando com a queda de 120 pontos na Grécia e de 50 na Alemanha e em Espanha. A evolução traduz o agravamento do risco de crédito, que se encontra próximo dos 3,75%, relativamente à Alemanha. Na Zona Euro, apenas Itália regista um comportamento semelhante, ainda que bem mais modesto: tem o prémio de risco pouco acima de 1,5%.
     
    A divergência de comportamento entre os mercados financeiros e a economia real (i.e., as contas externas e o saldo orçamental) encontra justificação nas dinâmicas de longo prazo das variáveis económicas. As elevadas taxas de juro reflectem a precariedade dos equilíbrios alcançados. Sem alterações de fundo, têm sido os factores conjunturais - e.g., o turismo - a explicar o bom desempenho da produção, do emprego e das contas púbicas: isto é, a volatilidade, a que alguns chamam de nova normal.
     
    Ameaças estruturais - como a elevada despesa pública corrente, a par com a reduzida margem para aumentar impostos - podem bem ser a explicação para o paradoxo aparente: um acontecimento estatístico extraordinário de sinal positivo. Não existindo garantia de sustentabilidade das contas públicas (e do Estado Social), as taxas de juro das OT as 10 anos reflectem simplesmente o risco de insuficiência de receitas a prazo.
     
    Como as taxas de juro do sector privado estão ancoradas na dívida pública, o actual estado de coisas também não ajuda à competitividade das empresas portuguesas, inibindo-as de se financiar tão vantajosamente quanto as concorrentes europeias. Nesta nova normalidade de sinais ambíguos, uma coisa é certa, para elas as exigências de inovação e de produtividade pesam cada vez mais.
     
    Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

    maovisivel@gmail.com

    Álvaro Nascimento
    02 de Janeiro de 2017 às 19:31
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