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O desemprego é um problema político, não tecnológico
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O desemprego é um problema político, não tecnológico
A questão do “desemprego tecnológico” é, no médio/longo prazo, uma falácia. O que tem destruído empregos é a desregulamentação do mercado laboral.
O acelerado desenvolvimento tecnológico que está a caracterizar o séc. XXI, e que se perspectiva adensar-se século adentro, tem feito soar alarmes. Por um lado, teme-se a destruição massiva de empregos. Por outro, a possibilidade de as tecnologias poderem fugir ao controlo humano.
Apesar dos dois problemas estarem interligados, separemo-los.
A questão do desemprego vs. novas tecnologias é um clássico da economia. E a história diz que, apesar de existirem fricções de curto prazo, a médio prazo as novas tecnologias são, elas próprias, geradoras de novos empregos, com um saldo positivo de longo prazo – quantos empregos existiam no início do séc. XX e quantos existem hoje?
Apesar de se poder argumentar que a aceleração e disseminação tecnológica actual não têm precedentes históricos, sou da opinião de que os empregos do futuro serão, novamente, uma consequência das novas tecnologias. Nós é que ainda não conseguimos vislumbrar que empregos serão esses.
Quanto à questão da tomada de controlo da máquina sobre o ser humano (nomeadamente através da inteligência artificial), aí sou mais cauteloso, uma vez que acredito que pode chegar o dia em que se consiga criar consciências noutros suportes (que não o de carbono, que é o nosso corpo) e essas outras consciências tornarem-se hegemónicas, por serem mais evoluídas do que a nossa.
Neste quadro, onde entra, então, a questão política? Arriscaria dizer “em tudo”.
A questão do “desemprego tecnológico” é, no médio/longo prazo, uma falácia. A única coisa que as novas tecnologias fazem é reconfigurar o trabalho necessário. O que se tem de fazer é, politicamente, encontrar formas de distribuir esse trabalho em empregos para todos, mesmo que seja em novas áreas e durante menos tempo – o que até pode ser bom do ponto de vista da felicidade, uma vez que não enfrentamos um problema de escassez, apenas de redistribuição, visto a produção mundial per capita não parar de crescer.
Convém não esquecer que o emprego é, basicamente, uma inovação tecnológica social do séc. XX, que consistiu na conjugação da divisão do trabalho com os direitos laborais. A crise do emprego actual no mundo ocidental é de origem política/ideológica, o cavalo (de Tróia) da inovação tecnológica. O mundo digital, virtual e em rede e a inteligência artificial não destroem as leis laborais, o emprego, nem sequer o trabalho. Apenas introduzem mudanças.
O que tem destruído empregos é a desregulamentação do mercado laboral, que conduziu a uma má distribuição do trabalho em que muitos trabalham muito e ganham pouco, outros não conseguem trabalhar e uns poucos trabalham muito e ganham muito. Este é um problema legal, que só tem solução política. Culpar as tecnologias por uma questão político-legal serve apenas de ardil para que não se combata o mal pela raiz.
Quanto à tomada de controlo por uma inteligência artificial, se ultrapassarmos o ponto sem retorno, nada haverá a fazer. A política entra apenas agora, enquanto ainda podemos discutir se não devemos fazer tudo para que tal não aconteça.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Gabriel Leite Mota, Professor Universitário de Economia
00:08
Jornal Económico
O acelerado desenvolvimento tecnológico que está a caracterizar o séc. XXI, e que se perspectiva adensar-se século adentro, tem feito soar alarmes. Por um lado, teme-se a destruição massiva de empregos. Por outro, a possibilidade de as tecnologias poderem fugir ao controlo humano.
Apesar dos dois problemas estarem interligados, separemo-los.
A questão do desemprego vs. novas tecnologias é um clássico da economia. E a história diz que, apesar de existirem fricções de curto prazo, a médio prazo as novas tecnologias são, elas próprias, geradoras de novos empregos, com um saldo positivo de longo prazo – quantos empregos existiam no início do séc. XX e quantos existem hoje?
Apesar de se poder argumentar que a aceleração e disseminação tecnológica actual não têm precedentes históricos, sou da opinião de que os empregos do futuro serão, novamente, uma consequência das novas tecnologias. Nós é que ainda não conseguimos vislumbrar que empregos serão esses.
Quanto à questão da tomada de controlo da máquina sobre o ser humano (nomeadamente através da inteligência artificial), aí sou mais cauteloso, uma vez que acredito que pode chegar o dia em que se consiga criar consciências noutros suportes (que não o de carbono, que é o nosso corpo) e essas outras consciências tornarem-se hegemónicas, por serem mais evoluídas do que a nossa.
Neste quadro, onde entra, então, a questão política? Arriscaria dizer “em tudo”.
A questão do “desemprego tecnológico” é, no médio/longo prazo, uma falácia. A única coisa que as novas tecnologias fazem é reconfigurar o trabalho necessário. O que se tem de fazer é, politicamente, encontrar formas de distribuir esse trabalho em empregos para todos, mesmo que seja em novas áreas e durante menos tempo – o que até pode ser bom do ponto de vista da felicidade, uma vez que não enfrentamos um problema de escassez, apenas de redistribuição, visto a produção mundial per capita não parar de crescer.
Convém não esquecer que o emprego é, basicamente, uma inovação tecnológica social do séc. XX, que consistiu na conjugação da divisão do trabalho com os direitos laborais. A crise do emprego actual no mundo ocidental é de origem política/ideológica, o cavalo (de Tróia) da inovação tecnológica. O mundo digital, virtual e em rede e a inteligência artificial não destroem as leis laborais, o emprego, nem sequer o trabalho. Apenas introduzem mudanças.
O que tem destruído empregos é a desregulamentação do mercado laboral, que conduziu a uma má distribuição do trabalho em que muitos trabalham muito e ganham pouco, outros não conseguem trabalhar e uns poucos trabalham muito e ganham muito. Este é um problema legal, que só tem solução política. Culpar as tecnologias por uma questão político-legal serve apenas de ardil para que não se combata o mal pela raiz.
Quanto à tomada de controlo por uma inteligência artificial, se ultrapassarmos o ponto sem retorno, nada haverá a fazer. A política entra apenas agora, enquanto ainda podemos discutir se não devemos fazer tudo para que tal não aconteça.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Gabriel Leite Mota, Professor Universitário de Economia
00:08
Jornal Económico
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