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O sistema político é o sintoma, o problema são as políticas
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O sistema político é o sintoma, o problema são as políticas
No meio de uma crise económica e social sem precedentes não pode deixar de causar alguma estranheza ver um partido da esquerda democrática eleger a reforma do sistema político como uma das suas principais prioridades estratégicas.
A luta pelo aprofundamento e pelo melhoramento da nossa vida democrática é e sempre foi uma bandeira do Partido Socialista. Mas, no momento actual, esse combate faz-se criando (directa e indirectamente) emprego; faz-se defendendo direitos sociais e, se possível, e, quando necessário, criando novos direitos sociais; faz-se combatendo as pobreza e as desigualdades; faz-se investindo; faz-se devolvendo alguma segurança e previsibilidade na vida das pessoas; faz-se construindo uma estratégia política que responda aos bloqueios do presente e, por essa razão, seja capaz de projectar um futuro diferente. Faz-se, em suma, retomando (e renovando) os valores tradicionais da esquerda democrática que sempre foram e têm de continuar a ser os do Partido Socialista.
A insatisfação com a política e os políticos pode e deve ser combatida, mas não se resolve um problema, que existe, atacando sintomas. Para desempenhar essa função, infelizmente, já temos o presidente da república, que, com a sua fixação na palavra consenso, mais parece estar a exorcizar os fantasmas que têm marcado toda sua a vida política: a desconfiança dos políticos, a desconfiança dos partidos, o horror ao dissenso; em suma, o desconforto com uma parte central da vida política de toda e qualquer sociedade democrática.
Olhar para o sistema político como a causa dos nossos problemas - sobretudo ver no sistema político a razão pela qual os partidos do chamado arco da governação tiveram menos de 60% dos votos nas últimas eleições - é não perceber que o que as pessoas esperam hoje dos políticos é que estes lhes apresentem uma alternativa à actuais políticas. Uma alternativa na qual eles acreditem e que os mobilize. É isso que as pessoas querem. E é por a política e os políticos não serem capazes de responder, de forma credível, a essa aspiração que vivemos hoje não apenas uma crise económica e social mas, também, e de forma mais grave, uma crise de representatividade.
A redução do número de deputados dos actuais 230 para 180 - para dar apenas um exemplo das propostas que António José Seguro tem defendido - tem como único objectivo agradar aos que acham que temos deputados a mais, mas não resolve verdadeiramente nenhum problema; pode, aliás, criar bastantes problemas: ao reduzir a representação dos pequenos partidos, o PS (e o PSD) estaria a tentar ganhar na secretaria o que não lhe foi dado pelos eleitores.
Não se resolve uma crise de representatividade agravando os problemas de representatividade que lhes estão subjacentes. Resolve-se uma crise de representatividade apresentando uma liderança e um projecto que, representando os interesses e as aspirações da enorme maioria que se apõe às políticas deste governo, se constitua como uma alternativa credível e, consequentemente, mobilize o país.
A agenda da reforma e regeneração do sistema político pode parecer popular, mas está condenada a agravar a insatisfação dos portugueses e a aprofundar a crise actual, porque é uma falsa solução, que não resolve nada.É a solução de quem não tem solução.
Os cidadãos não querem ser aplacados na sua ira. Querem uma alternativa. E têm direito a ela. A responsabilidade de um partido político é, em primeiro lugar, perceber e saber responder a este desafio.
João Galamba |
7:00 Segunda feira, 16 de junho de 2014
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