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Mensagem por Admin Sáb Jan 14, 2017 11:48 am

Xi Jinping será a estrela do próximo encontro de Davos, que começa na próxima semana. É certo que alguns governantes chineses já antes passaram pelo fórum económico que todos os anos se realiza na cidadezinha suíça, como é o caso do primeiro-ministro Li Keqiang, mas será uma estreia para um presidente do país mais populoso do mundo e - por enquanto - segunda economia do planeta.

De tal modo é importante a presença de Xi que se especula que, além de algumas novidades sobre o rumo da economia chinesa, Davos possa ser também o palco do primeiro contacto entre a liderança de Pequim e a equipa de Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, que só faltará à reunião na Suíça porque a tomada de posse ocorre na mesma semana. E se muito se tem falado da relação entre Trump e o líder russo Vladimir Putin, talvez seja melhor não esquecer que o cenário internacional dependerá talvez mais da forma como os presidentes americano e chinês se vierem a entender.

Diz Trump, e fez disso o slogan da sua campanha eleitoral triunfante, querer tornar a América grande de novo. Ora, o homem que derrotou Hillary Clinton nas presidenciais de 8 de novembro talvez esqueça que há tempos que não se repetem, como esse período pós-Segunda Guerra Mundial em que com meio mundo destruído a América valia metade do PIB mundial. Trump, que nasceu no promissor ano de 1946 numa família milionária, pode ter alguma dificuldade em percebê-lo, mas se olhar melhor para as taxas previstas de crescimento da economia americana e chinesa para 2017 (2,3% e 6%), a realidade de que o mundo é cada vez mais multipolar é indesmentível. E provavelmente será isso que Xi irá dizer a Davos, fazendo uma apologia da globalização contra os defensores do neoprotecionismo.

Xi é um pouco mais novo do que Trump. Nasceu em 1953, tentava ainda a República Popular da China ultrapassar um século de decadência, submissão ao estrangeiro e guerras civis. O pai combateu com Mao Tsé-tung na guerrilha, mas a família sofreu com os exageros da Revolução Cultural das décadas de 1960 e 1970, até que o jovem Xi conseguiu aproveitar as reformas económicas lançadas por Deng Xiaoping e começar a subir na hierarquia de um regime cada vez menos comunista e cada vez mais nacionalista. Em 2012, tornou-se secretário-geral do PC Chinês e em 2013 presidente da República. Neste ano, o XIX Congresso do partido deverá dar-lhe um segundo mandato, depois também uma renovação como chefe do Estado.

Se pensarmos bem, Xi quer tornar a China grande de novo, um pouco como Trump. Mas se os Estados Unidos são um jovem país com dois séculos e meio, já a China conta com cinco mil anos, o que obriga a fazer as contas de outra forma. A China que Xi tem como referência é do século XVIII, no tempo do imperador Qianlong, contemporâneo de George Washington. Então o PIB chinês seria equivalente a um terço do mundial, segundo os famosos cálculos do economista britânico Angus Maddison.

Hoje, a economia chinesa representa 18% do total global, contra os 29% que vale a americana. Mas o fosso tem vindo a fechar-se a ritmo muito acelerado, e se Xi de certeza que sabe disso, Trump também deveria estar a par. Há quatro décadas que a tal reforma de Deng se faz sentir, primeiro com os crescimentos anuais de 10% que faziam duplicar o PIB a cada sete anos, depois de forma menos exuberante mas mesmo assim a fazer do país o grande contribuinte para o desenvolvimento da economia mundial.

Sem ter de recuar muito, quando Barack Obama foi eleito presidente, o PIB americano era 14,7 biliões de dólares (sim, os fabulosos trillions anglo-saxónicos), quase o triplo do PIB chinês, em 2008 de 4,6 biliões; quando Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos, em 2012, a diferença já se atenuara para cerca de metade, com o PIB americano a ser de 16,2 biliões e o chinês de 8,6; e em 2015 (últimos dados conhecidos) o fosso era de 18 biliões de dólares para 11 biliões de dólares, apesar de tudo significativo e garantindo a liderança americana por mais alguns anos (se esquecermos a paridade de poder de compra).

Na campanha eleitoral, Trump foi implacável com a China. Acusou o gigante asiático de concorrência desleal e ameaçou impor tarifas pesadíssimas às importações da China. Além da questão económica, irritou também diplomaticamente Pequim aceitando um telefonema de parabéns da presidente de Taiwan, ilha que a China vê como província rebelde e a médio prazo reunificável. E o futuro secretário de Estado americano declarou ao Senado que estará na hora de a América mostrar a sua força e travar as ambições de Pequim no Mar do Sul da China, onde tem feito construções em ilhéus e recifes para assegurar a soberania sobre águas estratégicas e fundos ricos. O único sinal simpático de Trump para os chineses terá sido a nomeação do governador do Iowa, velho conhecido de Xi, para embaixador em Pequim, e receber o dono da Alibaba.

Se Trump não parou desde 8 de novembro, no bom e no mau sentido, também Xi não ficou imóvel: até amanhã está de visita a Pequim o secretário-geral do PC do Vietname, um dos países que mantêm contencioso com a China no Mar do Sul da China; e ainda antes de Trump vencer, já o presidente filipino tinha ido a Pequim dizer que estava disposto a trocar os Estados Unidos pela China. Mesmo em relação a Taiwan, e provavelmente sem relação direta com Trump, a China já deu provas de não ficar parada, estabelecendo relações diplomáticas com São Tomé e Príncipe, país lusófono que fazia parte dos aliados de Taiwan. E mais significativo ainda, sobretudo porque se trata de forças armadas: um perito militar chinês disse há dias ao Diário do Povo, órgão oficial do PC, que a China, além de ter posto o seu porta-aviões Liaoning a navegar em águas distantes, tem um segundo prestes a ser concluído nos estaleiros de Dalian e tem já em mente um terceiro.

Talvez não seja má ideia Trump deixar de centrar todas as atenções na Rússia de Putin e começar a pensar em Xi. Em Davos, através de intermediários, pode ser pouco, mas pelo menos será um sinal.

14 DE JANEIRO DE 2017
00:01
Leonídio Paulo Ferreira
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