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COMÉRCIO: Quando a China é o farol da globalização
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COMÉRCIO: Quando a China é o farol da globalização
O mundo está a mudar e não sabemos bem como. Ver a China como grande defensora da globalização enquanto os seus pais, Estados Unidos e Reino Unido, a querem destruir é apenas um alerta vermelho.
O proteccionismo “é o mesmo que trancarmo-nos numa sala escura. A chuva e o vento podem ficar lá fora mas também ficamos sem luz nem ar”. A comparação é do presidente da China Xi Jinping que esteve pela primeira no encontro que reúne os ricos e líderes do mundo, o Fórum Económico Mundial, todos os anos em Janeiro na Suíça, em Davos. Xi assumiu-se como o defensor da globalização com o fantasma de Donald Trump e as suas ameaças a pairarem e perante a “desistência” do Reino Unido e a ausência dos líderes alemães e franceses, a braços com a ameaça populista em ano de eleições.
Xi Jinping defendeu explicitamente a globalização, considerando que os problemas que o mundo hoje enfrenta são o resultado de má governação e não da liberdade de circulação de pessoas, capital, mercadorias e serviços. A mensagem que deixou, e que nos chega através da Bloomberg, foi que os líderes têm a responsabilidade de melhorar a regulação, reduzir a desigualdade e aliviar os excessos da globalização. Já teve réplica do que virá a ser o secretário de Estado norte-americano do Comércio que acusa a China de ser o mais proteccionista de todos os grandes países.
Quando nos Estados Unidos Donald Trump que vai tomar posse esta semana segue o lema “American First” e no Reino Unido Theresa May clarifica a sua estratégia dura de saída da União Europeia no início da semana com a contraditória frase “Global UK” estamos perante a ameaça de um novo mundo económico mas que dificilmente será diferente em matéria financeira. Um mundo em que as pessoas, as mercadorias e alguns serviços podem passar a ter mais dificuldade em viajar. Corremos o risco de ser menos livres.
Mesmo que a China seja, como diz o próximo secretário de Estado norte-americano do Tesouro, um país proteccionista, que não segue as regras a que são obrigadas as empresas que trabalham na Europa e nos Estados Unidos – desde as leis laborais às ambientais -, o presidente chinês não deixa de ter razão.
A globalização garante um mundo mais crescimento para todos, um mundo mais próspero no sue todo e mais livre. Mas há deserdados da globalização que foram esquecidos e que tão bem se revelaram no voto pela saída do Reino Unido da União Europeia. O problema não etsá na globalização mas nos excessos que os governos foram permitindo, no esquecimento a que votaram aqueles que estavam a perder empregos e rendimentos na passagem de um mundo com fronteiras para um mundo livre.
Mesmo para quem defende a teoria de David Ricardo no sue famoso exemplo de vinho – a vantagem de Portugal – e têxteis – a vantagem comercial do Reino Unido – percebe que a abertura de fronteiras cria um choque nos sectores que têm menos vantagens. No caso de Ricardo, boa parte dos fabricantes de têxteis iam à falência. Quando estamos perante um mundo em que nem a tecnologia nem as regras são iguais, os vencidos pela globalização são ainda mais numerosos.
Na era actual isto aplica-se por exemplo aos efeitos das plataformas digitais em sectores que vão desde os media – onde o Google e Facebook ficam com boa parte do valor da produção – mas também aos táxis – com o efeito Uber – ou ainda ao turismo onde os hotéis e alojamentos dos mais diversos têm de pagar parte das suas reservas ao Booking ou ao Airbnb. Claro que uns casos são mais graves do que outros, claro que o que uns ganham ultrapassa o que perdem os outros e o saldo mundial é positivo, mas os perdedores existem e foram esquecidos.
São os vencidos da globalização que agora estão a votar nos populistas, naqueles que prometem um mundo de produção em território nacional que vai gerar empregos estáveis e salários mais altos. Esquecem-se, os populistas, de dizer que esse mundo significará também preços mais elevados de alguns produtos e serviços – que vão “comer” os salário mais altos – e menos liberdade para andar pelo mundo.
O problema não é como diz Xi Jinping a globalização. O problema tem sido a indiferença com que os líderes políticos e de grandes empresas – sim, têm também responsabilidades – enfrentaram os efeitos da globalização. A abertura de fronteiras gera sempre perdedores, mesmo quando todos têm acesso à mesma tecnologia. Quando estamos perante diferenças muito significativas de tecnologia – como acontece com as mudanças que neste momento estão a ocorrer – e ao mesmo tempo de regras do jogo, os deserdados da globalização são obviamente em maior número.
Não deixa de ser irónico ver a China como a grande defensora da globalização. Mas não é por isso que deixa de ter razão. O que precisamos é de melhor regulação e de proteger os que perdem transitoriamente com a abertura das fronteiras. O proteccionismo, a história já o demonstrou até em Portugal, é uma política de empobrecimento.
Helena Garrido
19/1/2017, 8:12
Observador
O proteccionismo “é o mesmo que trancarmo-nos numa sala escura. A chuva e o vento podem ficar lá fora mas também ficamos sem luz nem ar”. A comparação é do presidente da China Xi Jinping que esteve pela primeira no encontro que reúne os ricos e líderes do mundo, o Fórum Económico Mundial, todos os anos em Janeiro na Suíça, em Davos. Xi assumiu-se como o defensor da globalização com o fantasma de Donald Trump e as suas ameaças a pairarem e perante a “desistência” do Reino Unido e a ausência dos líderes alemães e franceses, a braços com a ameaça populista em ano de eleições.
Xi Jinping defendeu explicitamente a globalização, considerando que os problemas que o mundo hoje enfrenta são o resultado de má governação e não da liberdade de circulação de pessoas, capital, mercadorias e serviços. A mensagem que deixou, e que nos chega através da Bloomberg, foi que os líderes têm a responsabilidade de melhorar a regulação, reduzir a desigualdade e aliviar os excessos da globalização. Já teve réplica do que virá a ser o secretário de Estado norte-americano do Comércio que acusa a China de ser o mais proteccionista de todos os grandes países.
Quando nos Estados Unidos Donald Trump que vai tomar posse esta semana segue o lema “American First” e no Reino Unido Theresa May clarifica a sua estratégia dura de saída da União Europeia no início da semana com a contraditória frase “Global UK” estamos perante a ameaça de um novo mundo económico mas que dificilmente será diferente em matéria financeira. Um mundo em que as pessoas, as mercadorias e alguns serviços podem passar a ter mais dificuldade em viajar. Corremos o risco de ser menos livres.
Mesmo que a China seja, como diz o próximo secretário de Estado norte-americano do Tesouro, um país proteccionista, que não segue as regras a que são obrigadas as empresas que trabalham na Europa e nos Estados Unidos – desde as leis laborais às ambientais -, o presidente chinês não deixa de ter razão.
A globalização garante um mundo mais crescimento para todos, um mundo mais próspero no sue todo e mais livre. Mas há deserdados da globalização que foram esquecidos e que tão bem se revelaram no voto pela saída do Reino Unido da União Europeia. O problema não etsá na globalização mas nos excessos que os governos foram permitindo, no esquecimento a que votaram aqueles que estavam a perder empregos e rendimentos na passagem de um mundo com fronteiras para um mundo livre.
Mesmo para quem defende a teoria de David Ricardo no sue famoso exemplo de vinho – a vantagem de Portugal – e têxteis – a vantagem comercial do Reino Unido – percebe que a abertura de fronteiras cria um choque nos sectores que têm menos vantagens. No caso de Ricardo, boa parte dos fabricantes de têxteis iam à falência. Quando estamos perante um mundo em que nem a tecnologia nem as regras são iguais, os vencidos pela globalização são ainda mais numerosos.
Na era actual isto aplica-se por exemplo aos efeitos das plataformas digitais em sectores que vão desde os media – onde o Google e Facebook ficam com boa parte do valor da produção – mas também aos táxis – com o efeito Uber – ou ainda ao turismo onde os hotéis e alojamentos dos mais diversos têm de pagar parte das suas reservas ao Booking ou ao Airbnb. Claro que uns casos são mais graves do que outros, claro que o que uns ganham ultrapassa o que perdem os outros e o saldo mundial é positivo, mas os perdedores existem e foram esquecidos.
São os vencidos da globalização que agora estão a votar nos populistas, naqueles que prometem um mundo de produção em território nacional que vai gerar empregos estáveis e salários mais altos. Esquecem-se, os populistas, de dizer que esse mundo significará também preços mais elevados de alguns produtos e serviços – que vão “comer” os salário mais altos – e menos liberdade para andar pelo mundo.
O problema não é como diz Xi Jinping a globalização. O problema tem sido a indiferença com que os líderes políticos e de grandes empresas – sim, têm também responsabilidades – enfrentaram os efeitos da globalização. A abertura de fronteiras gera sempre perdedores, mesmo quando todos têm acesso à mesma tecnologia. Quando estamos perante diferenças muito significativas de tecnologia – como acontece com as mudanças que neste momento estão a ocorrer – e ao mesmo tempo de regras do jogo, os deserdados da globalização são obviamente em maior número.
Não deixa de ser irónico ver a China como a grande defensora da globalização. Mas não é por isso que deixa de ter razão. O que precisamos é de melhor regulação e de proteger os que perdem transitoriamente com a abertura das fronteiras. O proteccionismo, a história já o demonstrou até em Portugal, é uma política de empobrecimento.
Helena Garrido
19/1/2017, 8:12
Observador
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