Eu não sei de nada mas desconfio de muita coisa

No mar, no ar, na terra, a Logística sempre foi relevante na vida das pessoas, das organizações, das famílias e sempre despertou muita curiosidade. Sem nos darmos conta ela está presente em tudo o que fazemos. 

“… primeiro estranha-se e depois entranha-se”, diz o povo. Então por que é que Logística se afasta ou a afastam da actividade ferroviária e não há meio de entranhar-se e de entrar de vez no comboio? Estranho, não?

Uma boa cadeia Logística tem de ser constituída pelas várias interrelações, todas conectadas por uma rede. Nesta rede, o todo é sem dúvida a soma de todas as partes, de todos agentes que fazem parte da mesma.

A ideia mais contemporânea é que cada vez mais, não é tanto uma empresa que compete com outra, mas o que compete verdadeiramente é a cadeia logística escolhida para colocar o produto junto do cliente. Significa que a competição, já não é tanto pela produção do produto, mas sim pela forma e pelo modo, pela rapidez, pelo preço e pelo prazo com que o produto chega ao mercado. Esta nova metodologia exige maior flexibilidade, inovação, mobilidade e rapidez na tomada de decisão e na escolha. Esta nova forma de optar e decidir, não significa em escolher com imponderação ou de forma precipitada, mas sim responder a um mercado em que a incerteza é cada vez mais predominante. O segredo está assim na capacidade das organizações suportarem e superarem estas incertezas.

A excelência da cadeia de abastecimento sustenta-se assim na capacidade de resposta que impõe a si mesma e por isso mesmo não pode parar nunca de procurar fazer melhor, nunca se conformar, pois fazer bem não pode bastar, tem de ser sempre melhor e, continuar a fazer e a trabalhar até ser excelente. 


É a acreditar nesta ideia, julgo que a única que pode ajudar o caminho-de-ferro a voltar a aumentar a sua quota de mercado, que fiquei ainda mais intrigado com as conclusões do Tribunal de Contas no seu relatório especial sobre esta temática em que conclui basicamente que: “A promoção de meios de transporte mais eficientes e sustentáveis, em especial do transporte ferroviário de mercadorias, tem sido um aspecto essencial da política da União Europeia nos últimos 25 anos. Entre 2007 e 2013, o orçamento da UE contribuiu com aproximadamente 28 mil milhões de euros para financiar projectos ferroviários. O presente relatório avalia se a União reforçou eficazmente o transporte ferroviário de mercadorias e se o desempenho do transporte ferroviário de mercadorias na UE, em termos de quota modal e de volume transportado, melhorou desde 2000. A auditoria constatou que, globalmente, o desempenho do transporte ferroviário de mercadorias na União Europeia continua a não ser satisfatório, ao passo que que a posição do transporte rodoviário tem vindo a consolidar-se”. 

Logo, apetece-me dizer que a UE não está na “linha” certa relativamente ao transporte ferroviário de mercadorias, até porque é o rodoviário que cresce. A comprová-lo, o quadro em baixo.

Afinal, talvez compreenda. Sendo a rede essencial para a ferrovia, precisa primeiro e com relevância maior, satisfazer as necessidades dos utilizadores e do mercado. Mas o que realmente acontece é que esta é cada vez mais pequena, mais esburacada e mais retalhada, ou seja já não é rede.

por António Nabo Martins
18-01-2017
Transportes em Revista