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Aí está o medo
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Aí está o medo
Em que se tornaram os homens, os seus sentimentos e as suas paixões, ante o conjunto, cada vez mais impessoal, dos direitos e das normas que, até há bem pouco tempo, regulavam os comportamentos?
A partir de hoje, os Estados Unidos e o mundo têm um novo dirigente. A avaliar pelas declarações e a tomar o peso e o comportamento de Donald Trump, a atmosfera política e social do mundo vai sofrer alterações. Grandes ou pequenas, depende de nós o resultado. Porém, os indícios são de molde a preocupar-nos seriamente. Por outro lado, mais de 60% dos norte-americanos manifestam preocupação e susto com o que aí vem. Nada de bom se adivinha. Trump não está manifestamente preparado para desempenhar tais funções. E as referências anteriores indicam Ronald Reagan e G.W. Bush, que colocaram o mundo não só numa tensão constante e insuportável, como criaram ameaças que fizeram da catástrofe um princípio.
Reagan empurrou os Estados Unidos para os territórios do susto; e Bush provocou o terror no Médio Oriente e em outras zonas, até agora sem solução evidente. Barack Obama aliviou um pouco os nossos receios, mas as soluções que propôs não foram concretizadas totalmente, embora o mundo respirasse com certo alívio durante os oito anos em que esteve no poder. Mas Guantánamo continua uma cadeia altamente sofisticada, e a polícia política norte-americana vigia o mundo, cada vez mais inseguro e problemático. Este equilíbrio no terror tornou-se num facto normal, e habituámo-nos a viver nele com a tranquilidade da inconsciência ou com a inconsciência de quem admite o aparentemente inevitável.
Em que se tornaram os homens, os seus sentimentos e as suas paixões, ante o conjunto, cada vez mais impessoal, dos direitos e das normas que, até há bem pouco tempo, regulavam os comportamentos? Deixou de haver regras e direitos, substituídos por um poder cuja natureza se desconhece, mas cujos resultados são amplamente conhecidos. Os enormes empórios do dinheiro contratam, preferentemente, aqueles que não possuem princípios e que desprezam a dignidade. Há exemplos em Portugal. Exemplos vergonhosos pelo desplante.
O Estado moderno parece ter abandonado os princípios e os valores que o criaram. Manifesta-se uma certa perplexidade quando procuramos saber a natureza do que nos acontece: tudo reside na ambiguidade e na compra daqueles mais recalcitrantes. Os exemplos estão aí e a sua origem não é diferente do domínio sobre as formas que têm legitimado a pouca-vergonha. O mundo está, já há muito tempo, sob a orientação desta nova ordem. Ler os jornais (há excepções) fornece-nos a ideia de que o cômputo geral é desanimador. A mudança do tempo não legitima esta miséria moral que nos atinge de forma implacável. A função simbólica do poder tornou-se num aparelho de domínio quase absoluto e as contradições que o afectam cedo são liquidadas por muitos daqueles que constituem as suas principais vítimas.
A face subjectiva do domínio é mais tenebrosa, hoje, do que há ainda bem pouco tempo. Há novas lutas a estabelecer e a manter com os poderes ditos constituídos. Os actuais donos das coisas são desconhecidos. Vivem e actuam em escritórios luxuosos e poucos conhecem a sua identidade e características. Vivemos no meio de pessoas que ignoramos, e que nos entendem apenas como números.
Um livro estimulante
Vasco Vieira de Almeida é um dos homens da minha geração que nunca desistiu. A vida deste meu amigo está recheada de peripécias nas quais a nobreza e os riscos constituem um todo indissociável. Antifascista convicto, esteve sempre onde era preciso que estivesse. Este livro "Um Homem Livre" (edição de autor) fornece-nos o retrato parcial de uma pessoa de grande carácter que nunca recusou participar em situações muito perigosas e complicadas. Numa delas auxiliou a fuga de militantes comunistas da cadeia, servindo-se do seu carro descapotável, e passeando-os pelas ruas de Lisboa. Ele não conta, mas nós sabemos como foi. E, certa vez, num programa de televisão, pôs na ordem uma preopinante medíocre, inculta e presunçosa, que tentava confundi-lo. Um homem de bem, corajoso e culto, que nunca deixou de ser quem era, nas circunstâncias mais perigosas.
Baptista Bastos | b.bastos@netcabo.pt
20 de Janeiro de 2017 às 10:20
Negócios
A partir de hoje, os Estados Unidos e o mundo têm um novo dirigente. A avaliar pelas declarações e a tomar o peso e o comportamento de Donald Trump, a atmosfera política e social do mundo vai sofrer alterações. Grandes ou pequenas, depende de nós o resultado. Porém, os indícios são de molde a preocupar-nos seriamente. Por outro lado, mais de 60% dos norte-americanos manifestam preocupação e susto com o que aí vem. Nada de bom se adivinha. Trump não está manifestamente preparado para desempenhar tais funções. E as referências anteriores indicam Ronald Reagan e G.W. Bush, que colocaram o mundo não só numa tensão constante e insuportável, como criaram ameaças que fizeram da catástrofe um princípio.
Reagan empurrou os Estados Unidos para os territórios do susto; e Bush provocou o terror no Médio Oriente e em outras zonas, até agora sem solução evidente. Barack Obama aliviou um pouco os nossos receios, mas as soluções que propôs não foram concretizadas totalmente, embora o mundo respirasse com certo alívio durante os oito anos em que esteve no poder. Mas Guantánamo continua uma cadeia altamente sofisticada, e a polícia política norte-americana vigia o mundo, cada vez mais inseguro e problemático. Este equilíbrio no terror tornou-se num facto normal, e habituámo-nos a viver nele com a tranquilidade da inconsciência ou com a inconsciência de quem admite o aparentemente inevitável.
Em que se tornaram os homens, os seus sentimentos e as suas paixões, ante o conjunto, cada vez mais impessoal, dos direitos e das normas que, até há bem pouco tempo, regulavam os comportamentos? Deixou de haver regras e direitos, substituídos por um poder cuja natureza se desconhece, mas cujos resultados são amplamente conhecidos. Os enormes empórios do dinheiro contratam, preferentemente, aqueles que não possuem princípios e que desprezam a dignidade. Há exemplos em Portugal. Exemplos vergonhosos pelo desplante.
O Estado moderno parece ter abandonado os princípios e os valores que o criaram. Manifesta-se uma certa perplexidade quando procuramos saber a natureza do que nos acontece: tudo reside na ambiguidade e na compra daqueles mais recalcitrantes. Os exemplos estão aí e a sua origem não é diferente do domínio sobre as formas que têm legitimado a pouca-vergonha. O mundo está, já há muito tempo, sob a orientação desta nova ordem. Ler os jornais (há excepções) fornece-nos a ideia de que o cômputo geral é desanimador. A mudança do tempo não legitima esta miséria moral que nos atinge de forma implacável. A função simbólica do poder tornou-se num aparelho de domínio quase absoluto e as contradições que o afectam cedo são liquidadas por muitos daqueles que constituem as suas principais vítimas.
A face subjectiva do domínio é mais tenebrosa, hoje, do que há ainda bem pouco tempo. Há novas lutas a estabelecer e a manter com os poderes ditos constituídos. Os actuais donos das coisas são desconhecidos. Vivem e actuam em escritórios luxuosos e poucos conhecem a sua identidade e características. Vivemos no meio de pessoas que ignoramos, e que nos entendem apenas como números.
Um livro estimulante
Vasco Vieira de Almeida é um dos homens da minha geração que nunca desistiu. A vida deste meu amigo está recheada de peripécias nas quais a nobreza e os riscos constituem um todo indissociável. Antifascista convicto, esteve sempre onde era preciso que estivesse. Este livro "Um Homem Livre" (edição de autor) fornece-nos o retrato parcial de uma pessoa de grande carácter que nunca recusou participar em situações muito perigosas e complicadas. Numa delas auxiliou a fuga de militantes comunistas da cadeia, servindo-se do seu carro descapotável, e passeando-os pelas ruas de Lisboa. Ele não conta, mas nós sabemos como foi. E, certa vez, num programa de televisão, pôs na ordem uma preopinante medíocre, inculta e presunçosa, que tentava confundi-lo. Um homem de bem, corajoso e culto, que nunca deixou de ser quem era, nas circunstâncias mais perigosas.
Baptista Bastos | b.bastos@netcabo.pt
20 de Janeiro de 2017 às 10:20
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