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Mensagem por Admin Dom Fev 12, 2017 1:31 pm

Notas do meu blogue: Será que existem cidades perfeitas? Autoeuropa%20015_426574047

Uma cidade é mais, muito mais…é a sua cultura cívica, a sua memória, a sua história, a sua realidade territorial e tudo que nela se inscreve e dá orgulho afirmar, mais não seja as suas vivências que nos apaixonam e nos fazem dizer : Porra, eu gosto do Barreiro!

Nós, na vida, podemos estar calados, optar por não ter opinião, deixar a opinião para aqueles que vivem deslumbrados com as suas imensas capacidades criativas, ou, então, mesmo na nossas pequenas possibilidades «intelectuais» ( coloco entre aspas intencionalmente), erguermos a voz e afirmar, apenas afirmar : o mundo que tu vives não deve ser o mundo em que eu vivo.

Um dia, há largos anos, nos princípios dos anos 90, um jornalista – do então jornal «Independente» - visitou o Barreiro e, após essa visita, nocturna, teceu os mais diversos comentários sobre esta cidade cinzenta, sem vida, sem raízes, sem cor, sorumbática, sem cultura, uma terra morta, uma terra que cheirava a mofo, um dormitório da grande Lisboa.

Eu vivia nesta terra. Vivo nesta terra. E, não considero que ela seja uma perfeição. Será que existem cidades perfeitas?

Mas, naquele tempo, que vivia entusiasmado nas minhas vivências associativas, sentindo o pulsar da cidade – nem sequer existia ainda o AMAC - e vivendo muitas iniciativas que marcavam o quotidiano da cidade. As muitas actividades que faziam a cidade ter um ritmo deslumbrante de criatividade. Indignei-me. Indignei-me porque uma cidade não tem única dimensão. Uma cidade é a sua cidadania, as suas gentes. A sua escola. 

As suas associações. Os seus criativos na música, no teatro, nas mais diversas artes. Uma cidade é mais, muito mais… é a sua cultura cívica, a sua memória, a sua história, a sua realidade territorial e tudo que nela se inscreve e dá orgulho afirmar, mais não seja as suas vivências que nos apaixonam e nos fazem dizer : Porra, eu gosto do Barreiro!

Era por e é por isso, que me indignava e indigno, quando rotulam esta cidade como dormitório, porque, eu, sempre senti e vivi a vida própria que ela tem e faz bater o coração da sua imensa criatividade, superando dificuldades e deficiências.

Sempre vi o Barreiro a mexer, a agitar-se, com «conflitos geracionais», com discussões e debates projectando futuro. Criando. Sempre criando. 

Porque, afinal, ou sou eu que vivo noutro mundo, ou, as muitas actividades que fazem bater o coração desta terra são uma ilusão, uma ficção. Nada existe. 

É por isso, só por isso, que me indigno, quando falam do Barreiro – por razões circunstanciais e que percebo perfeitamente – elaborando um quadro negro, tal e qual, como aquele que li, há muitos anos e que muitos teimam em repetir, não sei se por amor ao Barreiro, ou se por amor a outros amores que estão, ali, na outra margem – na capital, onde tudo é belo – há turistas, há trabalho, há cultura, há vida, afinal, naquele mundo cosmopolita, como, afinal em todo o meu país, não há bairros degradados, não há desemprego, não há famílias sobre endividadas, não há jovens com trabalho precário, não há comércio tradicional a fechar, não há pinturas terceiro mundistas nas paredes, não há autarquias sem capacidade financeira, não há ruas sem buracos, não há milhares de casas por arrendar ou vender… isso, afinal, é só, aqui, no Barreiro, esta terra que sentiu na pele o mais feroz efeito de um processo de desindustrialização e que sofre os seus efeitos, com resiliência, sorrindo e sonhando.

Eu, se vivesse fora do Barreiro, com certos filmes que fazem sobre a sua realidade, digo-vos, fugia a sete pés…tal é o quadro negro que por vezes é pintado.

Pronto, tenho que me render, o jornalista que cá esteve nos anos 90, tinha razão, eu é que vivo de tal forma apaixonado pelo Barreiro, a terra dos meus filhos, que só vejo beleza onde há tristeza, só vejo cor onde há borrões…bolas será que não há mesmo nada de bom nesta cidade.

Dou só um exemplo, há uma Escola de Jazz, exemplar, que, sobre ela, um destes dias escutava numa entrevista na Antena 2, alguém tecer os mais positivos elogios.

Era alguém que, pelo que me apercebi, nunca cá veio ao Barreiro, mas sabe que há valores de dimensão nacional nascidos de um positivo e interessante projecto cultural de formação – de décadas - que foi desenvolvido numa parceria da autarquia com o Movimento associativo – que deu e continua a dar frutos.

Tenho pena que, ao longo dessas décadas, esse mesmo tipo de apoios não tenham sido atribuídos a outras associações, também com tradições musicais. Isso revolta-me!

Bom, vou ficar por aqui, se começo a desabafar, nunca mais me calo…e, acredito, só com este comentário, já vou ser adjectivado com muitos e tradicionais rótulos. Estou acostumado.

É o defeito de ter opinião e gostar do Barreiro, gostar mesmo do Barreiro, de viver cá, de sentir a vida que aqui pulsa...de gente que arregaça as mangas e não desiste. Isso é que é lindo!

S.P.
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12.02.2017 - 02:49
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