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Por dentro dos Dias - Barreiro: Sentir e pensar a vida real
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Por dentro dos Dias - Barreiro: Sentir e pensar a vida real
É por isso que, por vezes, estou neste lado, aqui, no sentir e pensar a vida real, porque é na vida real que o mundo se transforma.. e muda!
Uma canção que nos animava, naqueles tempos antes do 25 de Abril, que dava força, emocionava, tocava os nervos.
Quantas vezes, ao escutar o coro de Lopes Graça, erguíamos as vozes e cantávamos: “não fiques para trás ò companheiro”, porque “nenhum de nós anda sozinho”, afinal “havemos de chegar ao fim da estrada ao sol desta canção”, sim, “e até mortos vão ao nosso lado”. Um poema de José Gomes Ferreira.
Esta canção, um destes dias, soou por dentro dos meus nervos. Porque os mortos devem ser os primeiros a merecer a nossa homenagem, o nosso reconhecimento, porque, eles, afinal, foram os percursores de lutas que abriram caminhos de esperança que ajudaram a construir o nosso presente.
Travaram outras batalhas, noutras circunstâncias, com outras realidades, por vezes, em tempos mais difíceis, com menos recursos mas abriram caminhos e deixaram chamas acesas no tempo, iluminando os sonhos do presente e do futuro.
Quem esquece, ignora, os seus mortos e as suas referências, sejam quais forem as razões, está a ignorar as raízes de um tempo vivido.
Não é por mero acaso, ou cerimonial, que na vida das associações, quando realizam as suas sessões solenes evocativas de seus aniversário, e dias de festa, muitas e são mesmo muitas, começam guardando – “um minuto de silêncio – em memória de todos os que partiram, porque foram eles que construíram, com erros e virtudes, a realidade de uma história que se festeja e queremos que continue a ser uma realidade em construção.
Até podemos ter divergências com os nossos mortos, e, certamente existem, mas mais que recordar os vivos – há mortos que não estão mortos. Mesmo que, por vezes, exista a vontade de “matar os mortos”. Mas, de facto, Freud, explica isso!
Outra memória que me ocorreu, foi aquela passagem do evangelho, quando Cristo, perante uma multidão faminta, pegou em alguns, pouco pães, que estavam dentro de um cesto, e, pediu aos apóstolos para que fossem distribuídos, e, para espanto de todos os pães multiplicaram-se e uma multidão foi saciada. Um milagre.
Recordei esta memória e o «milagre das rosas», aquele, que os pães se transformaram em «rosas».
Recordei isto porque, afinal, os milagres continuam a acontecer nos tempos de hoje, a realidade está ali, na minha frente, sinto-a, vejo-a, mas, depois, de repente, alguém por passos mágicos, amplia e aumenta, duplica. Sinto que estão iludir-me. Não gosto. São coisas. O real é o real. E querer que, afinal, o que não é passe a ser impositivamente, por milagre, da transformação do pão, multiplicando-o, ou da transformação do pão em rosas, é coisa que me agita os nervos. Percebo a intencionalidade, mas a vida real é a vida real.
É por isso que, por vezes, estou neste lado, aqui, no sentir e pensar a vida real, porque é na vida real que o mundo se transforma.. e muda!
S.P.
12.02.2017 - 17:00
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