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Por dentro dos Dias – Barreiro: Uma terra…estigmatizada
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Por dentro dos Dias – Barreiro: Uma terra…estigmatizada
Um destes dias disse-me . “O Barreiro está a ficar lindo. Gostei de passear na Avenida da Praia e em Alburrica. Aqueles passadiços estão lindos”.
“Olha lá, já foste passear na Mata da Machada, é um pulmão natural do Barreiro, lindo?”, perguntei-lhe.
Ficou a olhar para mim...sorriu!
Após o almoço fui até ao Café beber a tradicional bica. Sentei-me na esplanada para saborear, tranquilamente a minha cachimbada.
Um amigo sentou-se na mesa. Trocamos breves palavras, enquanto fumo se diluía no espaço.
“Esta é uma terra parada”, dizia-me ele.
“Achas? Porque dizes isso?”, interroguei.
“Não há nada onde ir”, respondeu.
“Costumas ver o quê? Que gostas? Olha no AMAC há muitas actividades todos os fins-de-semana”, disse-lhe.
“Nunca lá fui”, respondeu.
“E já foste ver a peça do Arte Viva, no Teatro Municipal?”, voltei a interrogar.
“Não sei onde é”, disse-me.
“Então e sabes que no Pavilhão Municipal há todos os fins de semana jogos de Basquetebol, do Galitos, da o GDESSA ou do Barreirense. Ainda um destes fins-de-semana vi um jogo em directo no Porto canal”, disse-lhe.
“Ai deu. Eu nunca lá fui”, voltou a responder.
“Eh pá porque dizes que esta é uma terra parada, se aqui constantemente há eventos desportivos e culturais?”, interroguei.
“Pois”, respondeu.
Perguntei-lhe . “Tu que trabalhaste na Quimigal, conheces o Museu da Baía do Tejo?”.
“Não. Onde fica?”, respondeu.
“Fica na zona têxtil, na antiga Central”, disse-lhe.
“Sabes que é um Museu de grande nível, com uma grande qualidade e onde está patente muito da nossa memória das fábricas. Tens que visitar”, disse-lhe.
E fiz esta pergunta intencionalmente, porque tenho estado envolvido na realização de um ciclo de conversas sobre o tema «Barreiro tem neurónios» que estão a decorrer no Auditório do Museu Baía do Tejo.
Notei, nas duas iniciativas que, no conjunto, já contaram com a presença de mais de meia centena de pessoas, muitos dos participantes, pessoas activas na vida local, em associações, em escolas, na vida politica local, disseram-me, antes do inicio dos debates – “É a primeira vez que aqui venho, não conhecia. Isto é muito bom”.
No final, comentei com a Nuria Cambalhota, técnica do Museu – “Olhe esta iniciativa, só pelo facto de ter proporcionado a algumas pessoas conhecerem este museu, só por isso, já valeu a pena”.
Fiquei a pensar nestes factos. E fico perplexo. É que este é um discurso constante que se escuta, por vezes até é estimulado por pessoas que deviam evitar esta «vox populi», promovendo a ideia que esta é uma “terra onde não há nada, não se faz nada”.
Mas, afinal, sou eu que estou enganado, tenho que concluir que se fomenta esta «veia discursiva», porque deve ser «chic», «intelectualmente honesto» e dá um ar de sapiência e «superioridade intelectual». Tenho que começar a negar que no Barreiro acontecem coisas, que há gente que faz coisas, que esta terra tem vida.
Ontem à tarde, no decorrer de uma entrevista, numa troca de opiniões, este tipo de discurso veio para cima da mesa.
E, por fim, uma das pessoas perguntava-me: “Diga lá o que faz nesta terra com visão de futuro? A Câmara não faz nada. No Montijo vai avançar o aeroporto. Aqui, acha que é isso dos contentores?"
Dizia-me de forma convicta, como quem demonstra por A+B, a inoperacionalidade da autarquia, e, olhei, sorri e limitei-me a perguntar: “Mas é a Câmara do Montijo que vai avançar com o aeroporto?”.
Fez-se silêncio. Acrescentei – “Olhe veja lá se há um governo deste país que de uma vez por todas olhe para o território da Baía do Tejo e o desenvolva. Sabe, eu até concordei com a proposta, um dia apresentada por Emídio Xavier, que o governo pudesse transferir para aquele território Ministérios que estão mal instalados em Lisboa e atrás disso fomentar a sua humanização e a criação de emprego. Isso ajudava o Barreiro”.
Fiquei a pensar. Pronto é isto, é assim que se pretende estimular a autoestima dos barreirenses e motivá-los para participar, agir e viver a vida da cidade e do concelho.
Não há nada. Não se faz nada. Isto cansa. É que eu tenho um defeito, há décadas, há mesmo décadas que tento contrariar este discurso.
Por vezes, lá vou sentindo que há uma ou outra pessoa que muda de opinião.
Tinha uma amiga, professora, que me dizia constantemente: “Não gosto do Barreiro. O Barreiro é feio”.
Um destes dias disse-me . “O Barreiro está a ficar lindo. Gostei de passear na Avenida da Praia e em Alburrica.
Aqueles passadiços estão lindos”.
“Olha lá, já foste passear na Mata da Machada, é um pulmão natural do Barreiro, lindo?”, perguntei-lhe.
Ficou a olhar para mim...sorriu!
É assim, não há nada, não existe nada. Esta é mesmo uma terra…estigmatizada. Pensei.
S.P.
02.03.2017 - 19:21
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