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O Porto não é Barcelona
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O Porto não é Barcelona
A história do Porto está marcada por revoluções liberais, levantamentos populares e desobediências que em vários momentos travaram autoritarismos e prepotências de toda a ordem. Mas também enferma de uma dimensão conservadora. O caráter conservador do Porto assume, periodicamente, a forma de uma resistência à mudança que vai amiúde para além do razoável (recordemos, por exemplo, o criticismo face à Capital Europeia da Cultura em 2001).
Nos últimos anos, o principal fator de mudança tem sido o turismo. Este veio dar à cidade uma coloração cosmopolita que há muito lhe faltava; permitiu manter à tona a economia local nos anos da crise e impediu que muitos jovens tivessem de emigrar; desencadeou um vigoroso processo de reabilitação urbana que está a salvar da ruína e do abandono o edificado do centro histórico; elevou o amor-próprio dos portuenses, que subitamente descobrem a sua cidade visitada e admirada por pessoas de todo o Mundo; tornou apetecíveis zonas da cidade onde até há pouco tempo os portuenses não queriam viver.
O turismo está também a fazer sair da toca o conservadorismo e a arrogância de segmentos da "intelligentsia" portuense. Na ânsia de proferirem o vaticínio mais chamativo, uns alertam para as "hordas" de turistas, que só eles veem, outros para uma "praga" ou para uma "invasão". Outros papagueiam chavões da sociologia, como o da "gentrificação"; outros ainda, inebriados consigo mesmos, clamam que o Porto não pode ser um "parque temático" ou uma "Disneylândia", ou que é vítima de "vampirismo turístico", como há tempos li, e que estará mesmo a caminho de ser a nova Barcelona. Este discurso, assente em análises hiperbólicas, pretensamente avançado mas na verdade bacoco e estéril, serve sobretudo para "épater les bourgeois" e teve o seu orgasmo, em Portugal, num "estudo" recentemente noticiado que comparava o impacto do turismo em Lisboa com o do terramoto de 1755. Voltaire teria rido a bom rir.
Mais comedidos, há ainda os que projetam o desejo de um turismo mais seletivo, o que subentende desde logo uma descriminação entre os "maus" turistas e - categoria onde certamente se auto-incluem - os "bons" turistas. Pretenderão porventura segregar o turista "de pé-descalço", ou que se imponham quotas, como no Butão? Não consta, de resto, que algum dos alarmistas de serviço tenha declarado abstinência de Barcelona, Veneza, Praga ou Amsterdão. Talvez façam por lá turismo, engrossando as "hordas".
Os turistas não são entidades abstratas: são pessoas. E nós também somos turistas nas cidades dessas pessoas. Somo-lo, inclusive, no nosso país e nas nossas cidades: os do Porto são turistas em Lisboa e em Óbidos; os de Lisboa são-no no Porto e em Guimarães. Melhor seria chamar-lhes visitantes, que é o que eles são.
É inegável a necessidade de contrabalançar os efeitos menos positivos de um influxo de turismo a que o Porto não estava habituado. A Câmara Municipal tem estado atenta: aprovou regulamentação sensata para o transporte turístico e iniciou a reabilitação de casas no centro histórico para que a este regressem famílias empurradas no passado para bairros sociais da periferia. Haverá que impedir, no futuro, modelos de reabilitação que preservem apenas as fachadas dos edifícios e é preciso imaginar soluções que viabilizem habitação a preços menos desfasados do bolso dos portugueses. O que não podemos é querer as benesses do turismo e ao mesmo tempo denegrir o turismo. Não podemos ao mesmo tempo enaltecer as "low cost" e fantasiar com um turismo mais seleto. Um discurso sobre o turismo baseado em preconceitos e temores infundados arrisca-se a escorregar para uma atitude de hostilidade para com pessoas cuja presença valoriza a imagem e a economia da cidade. Há que refreá-lo antes disso. Afinal, o Porto não vai perder a sua identidade: tem-na de sobra.
* MEMBRO DO SECRETARIADO DO PS PORTO E DEPUTADO MUNICIPAL
Rui Lage *
Hoje às 00:05, atualizado às 00:09
Jornal de Notícias
Nos últimos anos, o principal fator de mudança tem sido o turismo. Este veio dar à cidade uma coloração cosmopolita que há muito lhe faltava; permitiu manter à tona a economia local nos anos da crise e impediu que muitos jovens tivessem de emigrar; desencadeou um vigoroso processo de reabilitação urbana que está a salvar da ruína e do abandono o edificado do centro histórico; elevou o amor-próprio dos portuenses, que subitamente descobrem a sua cidade visitada e admirada por pessoas de todo o Mundo; tornou apetecíveis zonas da cidade onde até há pouco tempo os portuenses não queriam viver.
O turismo está também a fazer sair da toca o conservadorismo e a arrogância de segmentos da "intelligentsia" portuense. Na ânsia de proferirem o vaticínio mais chamativo, uns alertam para as "hordas" de turistas, que só eles veem, outros para uma "praga" ou para uma "invasão". Outros papagueiam chavões da sociologia, como o da "gentrificação"; outros ainda, inebriados consigo mesmos, clamam que o Porto não pode ser um "parque temático" ou uma "Disneylândia", ou que é vítima de "vampirismo turístico", como há tempos li, e que estará mesmo a caminho de ser a nova Barcelona. Este discurso, assente em análises hiperbólicas, pretensamente avançado mas na verdade bacoco e estéril, serve sobretudo para "épater les bourgeois" e teve o seu orgasmo, em Portugal, num "estudo" recentemente noticiado que comparava o impacto do turismo em Lisboa com o do terramoto de 1755. Voltaire teria rido a bom rir.
Mais comedidos, há ainda os que projetam o desejo de um turismo mais seletivo, o que subentende desde logo uma descriminação entre os "maus" turistas e - categoria onde certamente se auto-incluem - os "bons" turistas. Pretenderão porventura segregar o turista "de pé-descalço", ou que se imponham quotas, como no Butão? Não consta, de resto, que algum dos alarmistas de serviço tenha declarado abstinência de Barcelona, Veneza, Praga ou Amsterdão. Talvez façam por lá turismo, engrossando as "hordas".
Os turistas não são entidades abstratas: são pessoas. E nós também somos turistas nas cidades dessas pessoas. Somo-lo, inclusive, no nosso país e nas nossas cidades: os do Porto são turistas em Lisboa e em Óbidos; os de Lisboa são-no no Porto e em Guimarães. Melhor seria chamar-lhes visitantes, que é o que eles são.
É inegável a necessidade de contrabalançar os efeitos menos positivos de um influxo de turismo a que o Porto não estava habituado. A Câmara Municipal tem estado atenta: aprovou regulamentação sensata para o transporte turístico e iniciou a reabilitação de casas no centro histórico para que a este regressem famílias empurradas no passado para bairros sociais da periferia. Haverá que impedir, no futuro, modelos de reabilitação que preservem apenas as fachadas dos edifícios e é preciso imaginar soluções que viabilizem habitação a preços menos desfasados do bolso dos portugueses. O que não podemos é querer as benesses do turismo e ao mesmo tempo denegrir o turismo. Não podemos ao mesmo tempo enaltecer as "low cost" e fantasiar com um turismo mais seleto. Um discurso sobre o turismo baseado em preconceitos e temores infundados arrisca-se a escorregar para uma atitude de hostilidade para com pessoas cuja presença valoriza a imagem e a economia da cidade. Há que refreá-lo antes disso. Afinal, o Porto não vai perder a sua identidade: tem-na de sobra.
* MEMBRO DO SECRETARIADO DO PS PORTO E DEPUTADO MUNICIPAL
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