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Quatro certezas sobre a economia populista
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Quatro certezas sobre a economia populista
Nos próximos meses, vamos saber mais sobre se o recente aumento do optimismo económico é robusto; se os esforços de Trump para combater a deslocalização e impulsionar o crescimento e o emprego têm um impacto a longo prazo; e se o proteccionismo prevalece.
A globalização económica bem-sucedida exige padrões de crescimento razoavelmente bem-sucedidos nos países ao nível individual. Essa dinâmica caracterizou os 30 anos depois da Segunda Guerra Mundial: as taxas de crescimento foram relativamente elevadas num amplo conjunto de países; os seus benefícios foram amplamente partilhados dentro dos países; e o crescimento dos países em desenvolvimento reduziu a desigualdade global. Este período constituiu, sem dúvida, o auge da globalização.
Naturalmente, a globalização continuou durante os anos 1970 e daí para a frente. Mas os padrões de crescimento subjacentes mudaram. Devido à arbitragem laboral ligada à globalização económica e ao surgimento de tecnologias digitais disruptivas, os empregos industriais de classe média das economias avançadas desapareceram, o seu rendimento médio estagnou e a polarização do emprego e do rendimento aumentou, mesmo com o crescimento do PIB a manter-se forte. Este novo padrão - que persistiu durante os anos 1980 e 1990 e acelerou depois de 2000 - fez com que a desigualdade aumentasse acentuadamente, enfraquecendo os fundamentos da globalização.
As respostas dos países variaram muito. Alguns adoptaram medidas para reduzir a desigualdade, como a redistribuição através do sistema fiscal, segurança social e sistemas de educação, vários tipos de protecção social e apoio à requalificação profissional. A intensidade desses esforços tende a ser moldada pelas normas culturais, pelo poder de negociação institucional dos trabalhadores, pelo nível de confiança entre trabalhadores e empresas e pela influência da riqueza individual e empresarial na política.
Em países com forças atenuantes mais fracas - particularmente os Estados Unidos e o Reino Unido - as disparidades de rendimento, riqueza e oportunidade tornaram-se mais extremas. A falta de uma resposta política substancial, juntamente com a aparente falta de preocupação daqueles cujo poder de negociação económica havia aumentado, incitou uma raiva profunda entre os mais afectados.
Para além das questões de distribuição que muitos países enfrentam, o Japão, partes da Europa e alguns países em desenvolvimento enfrentam um crescimento fraco e um desemprego persistentemente elevado. No caso da Europa, estes problemas estão enraizados num sistema com poucas válvulas de escape e mecanismos de ajustamento.
Mas o facto é que o persistente crescimento não-inclusivo tem transformado as economias. Em situações como esta, o disjuntor é político e muitas vezes dramático. Fora das democracias desenvolvidas, os persistentes lapsos de inclusividade são quase sempre devastadores para o crescimento e desenvolvimento a longo prazo e, muitas vezes, levam à violência e à luta civil - uma tendência que o Relatório do Crescimento da Comissão sobre Crescimento e Desenvolvimento destacou há vários anos.
Em democracias funcionais, o drama político geralmente permanece confinado a eleições e referendos - como o voto dos britânicos para abandonar a União Europeia e as eleições presidenciais dos EUA, ganhas pelo ‘outsider’ populista Donald Trump. Os eleitores descontentes rejeitam os sistemas que produziram as deficiências. Esta é uma resposta normal e saudável. E, sem uma mudança tectónica nas dinâmicas e políticas de crescimento, poderemos ver mais coisas como estas nos próximos anos na Europa - especificamente em França, Itália e na Alemanha.
Pode ser tarde demais para convencer os eleitores a não rejeitarem os sistemas existentes, mas ainda há tempo para construir alternativas eficazes. O lado positivo da incerteza tremenda que muitos sentem em todo o mundo é que estamos confrontados essencialmente com uma folha em branco. Com a eliminação de anteriores presunções, preconceitos e tabus, pode ser possível criar algo melhor.
Consideremos os Estados Unidos. Novos padrões e políticas de crescimento podem tomar muitas direcções, inclusive a rejeição do multilateralismo, em favor do bilateralismo ou do protecionismo; mudanças na política de imigração; aumento do investimento público e estímulos fiscais; mudanças na regulação; reforma fiscal; ou medidas ligadas à oferta na educação, formação e cuidados de saúde. Há riscos e benefícios potenciais em todas essas áreas, e os resultados dependerão de todo o pacote de políticas.
Ainda que as combinações potenciais permaneçam desconcertantes nesta fase, algumas coisas são claras. Primeiro, quando se trata de investimento, gastos de consumo e crescimento do emprego, as expectativas e a confiança são importantes. As sugestões de que estão para chegar respostas políticas mais robustas e equilibradas tiveram um efeito visivelmente positivo, embora possa ser transitório, dependendo da implementação. O aumento das expectativas reflete-se nos mercados financeiros, embora muitos, inclusive eu, acreditem que as actuais avaliações de activos são demasiado optimistas.
Em segundo lugar, parece provável que o crescimento nominal nos EUA aumente, embora o mix subjacente de inflação e crescimento real ainda esteja para ser determinado. Isso é importante, porque irá moldar a resposta da Reserva Federal dos EUA, afectando os preços dos activos na América e mais além.
Uma possibilidade é que o aumento do investimento público e privado comece a reverter a tendência de queda da produtividade, gerando assim um crescimento real. Mas o regresso do impasse político no Congresso poderá fazer um curto-circuito nessa tendência e prejudicar as expectativas, enquanto as tendências seculares que limitam o crescimento, como a demografia, não vão desaparecer.
Uma terceira característica do novo padrão de crescimento da América deverá ser uma pressão acrescida sobre as grandes empresas para manterem a sua reputação dentro dos EUA. Mesmo antes da tomada de posse, Trump estava a tentar influenciar as escolhas das empresas sobre os locais de produção, ameaçando até com a imposição de tarifas de importação sobre produtos fabricados no México. Embora Trump tenha feito acordos para manter alguns empregos nos EUA, como o acordo com a Carrier, a sua táctica mais poderosa tem sido ameaçar a imagem de marca das empresas, especialmente através do Twitter.
Alguns caracterizam os esforços de Trump - e as suas incursões no Twitter, em particular – mais como estilo do que como substância, na convicção de que não terão qualquer impacto quantitativo a mais longo prazo. Podem estar certos. Mas, na minha opinião, Trump parece estar a enviar uma mensagem mais profunda sobre a tomada de decisões corporativas. Apesar do histórico de negócios de Trump - que, segundo os seus oponentes, inclui várias falências e falta de pagamento de fornecedores e trabalhadores - é possível que ele esteja a tentar mudar uma cultura de negócios e investimentos que eleva os interesses do capital, empresas e accionistas, e trata o trabalho como dispensável.
A quarta tendência com a qual podemos contar é a marcha contínua da tecnologia digital. Isso, porém, é onde a certeza termina: até agora, a administração Trump tem oferecido poucos sinais, se é que algum, sobre como irá abordar a questão de apoiar a adaptação pela força de trabalho.
Nos próximos meses, vamos saber mais sobre se o recente aumento do optimismo económico é robusto; se os esforços de Trump para combater a deslocalização e impulsionar o crescimento e o emprego têm um impacto a longo prazo; e se o proteccionismo prevalece. Só aí poderemos determinar se Trump foi realmente a escolha económica certa para os trabalhadores descontentes da América.
Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover.
Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
Michael Spence
14 de fevereiro de 2017 às 20:00
Negócios
A globalização económica bem-sucedida exige padrões de crescimento razoavelmente bem-sucedidos nos países ao nível individual. Essa dinâmica caracterizou os 30 anos depois da Segunda Guerra Mundial: as taxas de crescimento foram relativamente elevadas num amplo conjunto de países; os seus benefícios foram amplamente partilhados dentro dos países; e o crescimento dos países em desenvolvimento reduziu a desigualdade global. Este período constituiu, sem dúvida, o auge da globalização.
Naturalmente, a globalização continuou durante os anos 1970 e daí para a frente. Mas os padrões de crescimento subjacentes mudaram. Devido à arbitragem laboral ligada à globalização económica e ao surgimento de tecnologias digitais disruptivas, os empregos industriais de classe média das economias avançadas desapareceram, o seu rendimento médio estagnou e a polarização do emprego e do rendimento aumentou, mesmo com o crescimento do PIB a manter-se forte. Este novo padrão - que persistiu durante os anos 1980 e 1990 e acelerou depois de 2000 - fez com que a desigualdade aumentasse acentuadamente, enfraquecendo os fundamentos da globalização.
As respostas dos países variaram muito. Alguns adoptaram medidas para reduzir a desigualdade, como a redistribuição através do sistema fiscal, segurança social e sistemas de educação, vários tipos de protecção social e apoio à requalificação profissional. A intensidade desses esforços tende a ser moldada pelas normas culturais, pelo poder de negociação institucional dos trabalhadores, pelo nível de confiança entre trabalhadores e empresas e pela influência da riqueza individual e empresarial na política.
Em países com forças atenuantes mais fracas - particularmente os Estados Unidos e o Reino Unido - as disparidades de rendimento, riqueza e oportunidade tornaram-se mais extremas. A falta de uma resposta política substancial, juntamente com a aparente falta de preocupação daqueles cujo poder de negociação económica havia aumentado, incitou uma raiva profunda entre os mais afectados.
Para além das questões de distribuição que muitos países enfrentam, o Japão, partes da Europa e alguns países em desenvolvimento enfrentam um crescimento fraco e um desemprego persistentemente elevado. No caso da Europa, estes problemas estão enraizados num sistema com poucas válvulas de escape e mecanismos de ajustamento.
Mas o facto é que o persistente crescimento não-inclusivo tem transformado as economias. Em situações como esta, o disjuntor é político e muitas vezes dramático. Fora das democracias desenvolvidas, os persistentes lapsos de inclusividade são quase sempre devastadores para o crescimento e desenvolvimento a longo prazo e, muitas vezes, levam à violência e à luta civil - uma tendência que o Relatório do Crescimento da Comissão sobre Crescimento e Desenvolvimento destacou há vários anos.
Em democracias funcionais, o drama político geralmente permanece confinado a eleições e referendos - como o voto dos britânicos para abandonar a União Europeia e as eleições presidenciais dos EUA, ganhas pelo ‘outsider’ populista Donald Trump. Os eleitores descontentes rejeitam os sistemas que produziram as deficiências. Esta é uma resposta normal e saudável. E, sem uma mudança tectónica nas dinâmicas e políticas de crescimento, poderemos ver mais coisas como estas nos próximos anos na Europa - especificamente em França, Itália e na Alemanha.
Pode ser tarde demais para convencer os eleitores a não rejeitarem os sistemas existentes, mas ainda há tempo para construir alternativas eficazes. O lado positivo da incerteza tremenda que muitos sentem em todo o mundo é que estamos confrontados essencialmente com uma folha em branco. Com a eliminação de anteriores presunções, preconceitos e tabus, pode ser possível criar algo melhor.
Consideremos os Estados Unidos. Novos padrões e políticas de crescimento podem tomar muitas direcções, inclusive a rejeição do multilateralismo, em favor do bilateralismo ou do protecionismo; mudanças na política de imigração; aumento do investimento público e estímulos fiscais; mudanças na regulação; reforma fiscal; ou medidas ligadas à oferta na educação, formação e cuidados de saúde. Há riscos e benefícios potenciais em todas essas áreas, e os resultados dependerão de todo o pacote de políticas.
Ainda que as combinações potenciais permaneçam desconcertantes nesta fase, algumas coisas são claras. Primeiro, quando se trata de investimento, gastos de consumo e crescimento do emprego, as expectativas e a confiança são importantes. As sugestões de que estão para chegar respostas políticas mais robustas e equilibradas tiveram um efeito visivelmente positivo, embora possa ser transitório, dependendo da implementação. O aumento das expectativas reflete-se nos mercados financeiros, embora muitos, inclusive eu, acreditem que as actuais avaliações de activos são demasiado optimistas.
Em segundo lugar, parece provável que o crescimento nominal nos EUA aumente, embora o mix subjacente de inflação e crescimento real ainda esteja para ser determinado. Isso é importante, porque irá moldar a resposta da Reserva Federal dos EUA, afectando os preços dos activos na América e mais além.
Uma possibilidade é que o aumento do investimento público e privado comece a reverter a tendência de queda da produtividade, gerando assim um crescimento real. Mas o regresso do impasse político no Congresso poderá fazer um curto-circuito nessa tendência e prejudicar as expectativas, enquanto as tendências seculares que limitam o crescimento, como a demografia, não vão desaparecer.
Uma terceira característica do novo padrão de crescimento da América deverá ser uma pressão acrescida sobre as grandes empresas para manterem a sua reputação dentro dos EUA. Mesmo antes da tomada de posse, Trump estava a tentar influenciar as escolhas das empresas sobre os locais de produção, ameaçando até com a imposição de tarifas de importação sobre produtos fabricados no México. Embora Trump tenha feito acordos para manter alguns empregos nos EUA, como o acordo com a Carrier, a sua táctica mais poderosa tem sido ameaçar a imagem de marca das empresas, especialmente através do Twitter.
Alguns caracterizam os esforços de Trump - e as suas incursões no Twitter, em particular – mais como estilo do que como substância, na convicção de que não terão qualquer impacto quantitativo a mais longo prazo. Podem estar certos. Mas, na minha opinião, Trump parece estar a enviar uma mensagem mais profunda sobre a tomada de decisões corporativas. Apesar do histórico de negócios de Trump - que, segundo os seus oponentes, inclui várias falências e falta de pagamento de fornecedores e trabalhadores - é possível que ele esteja a tentar mudar uma cultura de negócios e investimentos que eleva os interesses do capital, empresas e accionistas, e trata o trabalho como dispensável.
A quarta tendência com a qual podemos contar é a marcha contínua da tecnologia digital. Isso, porém, é onde a certeza termina: até agora, a administração Trump tem oferecido poucos sinais, se é que algum, sobre como irá abordar a questão de apoiar a adaptação pela força de trabalho.
Nos próximos meses, vamos saber mais sobre se o recente aumento do optimismo económico é robusto; se os esforços de Trump para combater a deslocalização e impulsionar o crescimento e o emprego têm um impacto a longo prazo; e se o proteccionismo prevalece. Só aí poderemos determinar se Trump foi realmente a escolha económica certa para os trabalhadores descontentes da América.
Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover.
Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
Michael Spence
14 de fevereiro de 2017 às 20:00
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