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As bazófias bilaterais
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As bazófias bilaterais
Criou-se o mito de que Portugal e Angola estão condenados a entenderem-se por causa da interdependência económica e dos laços culturais. E dá-se também como boa a tese de que as relações entre os dois Estados vão resistir às intempéries, como esta que agora assolou a actualidade, a de o vice-presidente angolano, Manuel Vicente, ser acusado de corrupção pelo Ministério Público.
Estas interpretações são mancas, porque obliteram uma parte da História. Têm em conta o período colonial e depois saltam para a era de crescimento económico de Angola, subsequente à morte de Jonas Savimbi, em 2002. Entre um período e outro, sobretudo após as eleições de 1992, Portugal foi-se desinteressando de Angola e só despertou quando ajuizou, erradamente, que a ex-colónia era um "el dorado". Uma falha de raciocínio que os angolanos usaram a seu favor. E foi à conta desta visão oportunista, partilhada pelos dois lados, que se alimentaram logros através de jogos de conveniência.
Neste sentido, a constituição como arguido de Manuel Vicente pode significar um virar de página nas relações bilaterais. Angola nunca deixará de falar português ou de olhar para a antiga potência colonial com um refúgio, mas em áreas estruturais poderá passar a entender-se com outros países como o Reino Unido, que quer recuperar o prestígio e poder perdido em África com a aposta falhada na Primavera Árabe. Quanto a Portugal, pode pensar, naturalmente, que deve evitar ao máximo a sua exposição ao investimento angolano, procurando atrair ainda mais dinheiro de outras paragens, por exemplo, da China.
As boas relações Estado a Estado são uma outra mistificação que sempre se cuidou com zelo. Aliás, contam-se pelos dedos de uma mão os governantes portugueses apreciados por Angola – Cavaco Silva, Durão Barroso, Jorge Coelho, José Sócrates, e porventura, Paulo Portas. Sendo que em sentido inverso também reinou sempre o primado da desconfiança.
É verdade que o caso de Manuel Vicente pertence ao domínio da justiça e que a separação de poderes é uma pedra angular da democracia. Como também é inequívoco que é invulgar o facto de o vice-presidente de um país ser acusado de corrupção pela justiça de um outro país.
Negar estas evidências é contribuir para alimentar as bazófias ditas em Angola e em Portugal de que os dois países estão condenados a entender-se nada fazendo para que isso efectivamente aconteça.
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt
01 de março de 2017 às 00:01
Negócios
Estas interpretações são mancas, porque obliteram uma parte da História. Têm em conta o período colonial e depois saltam para a era de crescimento económico de Angola, subsequente à morte de Jonas Savimbi, em 2002. Entre um período e outro, sobretudo após as eleições de 1992, Portugal foi-se desinteressando de Angola e só despertou quando ajuizou, erradamente, que a ex-colónia era um "el dorado". Uma falha de raciocínio que os angolanos usaram a seu favor. E foi à conta desta visão oportunista, partilhada pelos dois lados, que se alimentaram logros através de jogos de conveniência.
Neste sentido, a constituição como arguido de Manuel Vicente pode significar um virar de página nas relações bilaterais. Angola nunca deixará de falar português ou de olhar para a antiga potência colonial com um refúgio, mas em áreas estruturais poderá passar a entender-se com outros países como o Reino Unido, que quer recuperar o prestígio e poder perdido em África com a aposta falhada na Primavera Árabe. Quanto a Portugal, pode pensar, naturalmente, que deve evitar ao máximo a sua exposição ao investimento angolano, procurando atrair ainda mais dinheiro de outras paragens, por exemplo, da China.
As boas relações Estado a Estado são uma outra mistificação que sempre se cuidou com zelo. Aliás, contam-se pelos dedos de uma mão os governantes portugueses apreciados por Angola – Cavaco Silva, Durão Barroso, Jorge Coelho, José Sócrates, e porventura, Paulo Portas. Sendo que em sentido inverso também reinou sempre o primado da desconfiança.
É verdade que o caso de Manuel Vicente pertence ao domínio da justiça e que a separação de poderes é uma pedra angular da democracia. Como também é inequívoco que é invulgar o facto de o vice-presidente de um país ser acusado de corrupção pela justiça de um outro país.
Negar estas evidências é contribuir para alimentar as bazófias ditas em Angola e em Portugal de que os dois países estão condenados a entender-se nada fazendo para que isso efectivamente aconteça.
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt
01 de março de 2017 às 00:01
Negócios
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