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Esquerda plural?
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Esquerda plural?
A arquitetura de Costa com BE e PC será apenas o primeiro passo para a “monopolização” da esquerda
Pelos vistos há uma grande curiosidade por essa Europa fora – melhor, pela esquerda dessa Europa – sobre a estabilidade governativa conseguida por António Costa através dos entendimentos com os partidos à esquerda do PS. Isto é, se a ciência política tem viragens, os pressupostos de análise científica, colocados como doutrina dominante ou consensual durante a segunda metade do século xx – no essencial, a rotação entre democracia cristã, conservadorismo liberal e socialismo democrático/social-democracia –, poderemos estar a assistir a uma viragem coperniciana, à medida que a desgraça anunciada em Portugal se confirma como uma plausibilidade reiterada no tempo. A plausibilidade da (já chamada assim lá fora) “esquerda plural”.
A engrenagem portuguesa, alavancada na sagacidade de Costa, não é absolutamente nova. Teve alguns tubos parcelares de ensaio nas autarquias nacionais, com especial destaque para a visão pioneira (e inspiradora para Costa) de Jorge Sampaio – talvez o principal e mais visível obreiro avant la lettre desta solução de “pluralidade” na gestão da Câmara de Lisboa, então com PCP e, depois, também com UDP e PSR (que seriam os antecessores do BE). A ambição de construir uma alternativa à esquerda na esfera parlamentar e governamental, suscetível de apartar o PS da linha política delineada por Mário Soares e por este colocada em prática nos governos com CDS e PSD (“bloco central”), é, porém, mais fraturante, desde logo porque não implicou que os partidos “auxiliares” fizessem parte do governo e os obrigou a uma atitude de conformismo na sua relação com os “acordos”. Mas também porque se afirmou como uma arquitetura dotada de grande confiança em vários fatores conjunturais de sucesso: o fim da resistência de PC e BE a fazerem parte do circuito do poder e, com isso, a abdicarem das suas bolsas de alarmismo e conflitualidade social e laboral; a conjugação de esforços para a reunião de uma “frente comum” de eliminação da aliança entre PSD e CDS, depois da surpreendente vitória nas legislativas pós--troika; a diferente personalidade e intuição política de Catarina Martins (e anuência de João Semedo), enquanto dínamo agregador das diferentes sensibilidades do BE; a evolução de Jerónimo de Sousa, empurrado pelas novas gerações do PC, já muito distantes das trincheiras atrofiantes da luta contra a ditadura de Salazar e Caetano; a anemia dos resistentes a Costa e o desaparecimento de lideranças desafiantes (nomeadamente com a destruição de todo o bloco socrático e o fim do “mito”); a ansiedade do povo em ter outras formas de contornar as adversidades económicas e financeiras, que se converteu rapidamente em “aversão generalizada” às políticas de “cortes” e “restrições” coladas aos líderes da oposição a Costa; o amaciamento generalizado da imprensa e dos “comentários” em relação às “administrações” de esquerda; a competência e o arrojo de várias das equipas ministeriais que guiam Costa no dia-a-dia; as hesitações de Passos Coelho.
O barco de Costa acabou por atracar. Contudo, sem réplicas imediatas no mercado da exportação, porque tudo parece muito peculiar e específico. E tudo é pouco ou nada ideológico – essencialmente, há calculismo e pragmatismo. E, por isso, é motivo de grande curiosidade. Nomeadamente se se reconhecer o mais importante: a “esquerda plural” de Costa é, apenas, o primeiro passo para a “monopolização” da esquerda. Pelo PS de Costa, claro. Suspeito que seja isso que mais curiosidade desperta além das nossas fronteiras…
Professor de Direito da Universidade de Coimbra. Jurisconsulto
Escreve à quinta-feira
02/03/2017
Ricardo Costa
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
Pelos vistos há uma grande curiosidade por essa Europa fora – melhor, pela esquerda dessa Europa – sobre a estabilidade governativa conseguida por António Costa através dos entendimentos com os partidos à esquerda do PS. Isto é, se a ciência política tem viragens, os pressupostos de análise científica, colocados como doutrina dominante ou consensual durante a segunda metade do século xx – no essencial, a rotação entre democracia cristã, conservadorismo liberal e socialismo democrático/social-democracia –, poderemos estar a assistir a uma viragem coperniciana, à medida que a desgraça anunciada em Portugal se confirma como uma plausibilidade reiterada no tempo. A plausibilidade da (já chamada assim lá fora) “esquerda plural”.
A engrenagem portuguesa, alavancada na sagacidade de Costa, não é absolutamente nova. Teve alguns tubos parcelares de ensaio nas autarquias nacionais, com especial destaque para a visão pioneira (e inspiradora para Costa) de Jorge Sampaio – talvez o principal e mais visível obreiro avant la lettre desta solução de “pluralidade” na gestão da Câmara de Lisboa, então com PCP e, depois, também com UDP e PSR (que seriam os antecessores do BE). A ambição de construir uma alternativa à esquerda na esfera parlamentar e governamental, suscetível de apartar o PS da linha política delineada por Mário Soares e por este colocada em prática nos governos com CDS e PSD (“bloco central”), é, porém, mais fraturante, desde logo porque não implicou que os partidos “auxiliares” fizessem parte do governo e os obrigou a uma atitude de conformismo na sua relação com os “acordos”. Mas também porque se afirmou como uma arquitetura dotada de grande confiança em vários fatores conjunturais de sucesso: o fim da resistência de PC e BE a fazerem parte do circuito do poder e, com isso, a abdicarem das suas bolsas de alarmismo e conflitualidade social e laboral; a conjugação de esforços para a reunião de uma “frente comum” de eliminação da aliança entre PSD e CDS, depois da surpreendente vitória nas legislativas pós--troika; a diferente personalidade e intuição política de Catarina Martins (e anuência de João Semedo), enquanto dínamo agregador das diferentes sensibilidades do BE; a evolução de Jerónimo de Sousa, empurrado pelas novas gerações do PC, já muito distantes das trincheiras atrofiantes da luta contra a ditadura de Salazar e Caetano; a anemia dos resistentes a Costa e o desaparecimento de lideranças desafiantes (nomeadamente com a destruição de todo o bloco socrático e o fim do “mito”); a ansiedade do povo em ter outras formas de contornar as adversidades económicas e financeiras, que se converteu rapidamente em “aversão generalizada” às políticas de “cortes” e “restrições” coladas aos líderes da oposição a Costa; o amaciamento generalizado da imprensa e dos “comentários” em relação às “administrações” de esquerda; a competência e o arrojo de várias das equipas ministeriais que guiam Costa no dia-a-dia; as hesitações de Passos Coelho.
O barco de Costa acabou por atracar. Contudo, sem réplicas imediatas no mercado da exportação, porque tudo parece muito peculiar e específico. E tudo é pouco ou nada ideológico – essencialmente, há calculismo e pragmatismo. E, por isso, é motivo de grande curiosidade. Nomeadamente se se reconhecer o mais importante: a “esquerda plural” de Costa é, apenas, o primeiro passo para a “monopolização” da esquerda. Pelo PS de Costa, claro. Suspeito que seja isso que mais curiosidade desperta além das nossas fronteiras…
Professor de Direito da Universidade de Coimbra. Jurisconsulto
Escreve à quinta-feira
02/03/2017
Ricardo Costa
opiniao@newsplex.pt
Jornal i
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